Bacia do Rio Negro em foco

A Crítica, Cidades, p. C5 - 19/05/2007
Bacia do Rio Negro em foco
Ela será tema de seminário que ocorrerá a partir do dia 22, no Centro Cultural Usina Chaminé, Centro, em Manaus

Jorge Eduardo Dantas
Da equipe de A Crítica

A Bacia do Rio Negro é a maior bacia de águas escuras do mundo. Em seu território estão localizadas 27 áreas protegidas por legislação ambiental, divididas nos três principais países pela qual a bacia se espalha - Brasil, Colômbia e Venezuela (a Guiana tem pouco mais de 1,7%). Três das maiores Unidades de Conservação de nosso país estão lá: o Parque Nacional do Pico da Neblina, Parque Nacional do Jaú e a Reserva Sustentável de Amnã.
Em virtude desses e de outros fatores, o Instituto Socioambiental (ISA) e a Fundação Vitória Amazônica (FVA) promovem, a partir da próxima semana, no Centro Cultural Chaminé, o seminário "Visões do Rio Babel - Conversas sobre o Futuro da Bacia do Rio Negro". 0 evento vai reunir uma série de estudiosos, especialistas, organizações não governamentais e institutos de pesquisa para refletir sobre o futuro daquela região e evitar a ocorrência de problemas ambientais nos próximos anos.
De acordo com o coordenador do Programa Rio Negro do ISA, Beto Ricardo; a reflexão é importante porque traz para o Brasil uma modalidade de discussão que já é feita no exterior. "0 Brasil não tem o hábito de discutir a gestão compartilhada de recursos naturais por bacia hidrográfica, que é uma prática comum em outros locais. Queremos inaugurar este tipo de conversa aqui", disse Beto. Segundo ele, os comitês de bacias hidrográficas do Governo Federal agem somente no Sul e Sudestes, onde os rios já viraram "depósito de esgotos".
Ele afirma ainda que esta é a primeira de uma série de discussões que serão realizadas nos próximos anos. "Queremos criar uma rede que envolva comunitários e autoridades para unir o desenvolvimento à valorização da diversidade ambiental. Queremos também que esta conversa seja duradoura", afirmou, anunciando que nos anos subsequentes serão realizados outros eventos semelhantes.
Na programação do evento, constam palestras, plenárias, rodas de depoimentos e uma mostra de vídeos com curadoria de Aurélio Michiles (veja BV1 para mais detalhes sobre a mostra). Vão participar do seminário escritores como Miltom Hatoum, Márcio Souza, José Ribamar Bessa, além de lideranças tocais da Bacia do Rio Negro (tanto brasileiras quanto colombianas e venezuelanas) e representantes de entidades governamentais, como Marilene Corrêa - atual reitora da Universidade Estadual do Amazonas (UEA) - e José Aldemir de Oliveira, secretário de Ciência e Tecnologia do Estado.
O evento é direcionado apenas para atores sociais que vivem ou atuam na região. Um total de 11 o convidados foram chamados e já confirmaram presença. 0 público poderá se fazer presente apenas na mostra de vídeo, cujos convites serão distribuídos no próprio Centro Cultural Chaminés partir de terça-feira.

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Na Usina Chaminé
O encontro 'Visões do Rio Babel - Conversas sobre o Futuro da Bacia do Rio Negro' vai ocorrer a partir do dia 22 a 25 no Espaço Cultural Usina Chaminé, no centro. O evento foi aberto apenas para convidados-atores sociais que vivem ou trabalham na região. Apenas a mostra de vídeos será aberta ao público (veja mais detalhes no caderno Bem Viver).


Estudiosos e especialistas
Acredita-seque haja na Bacia do Rio Negro cerca de 700 espécies diferentes de peixes. Vinte e três povos indígenas vivem apenas na porção brasileira daquele território, totalizando cerca de 40 mil pessoas. São 750 comunidades espalhadas pelos principais rios e nas duas grandes cidades existentes na região, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira - este último, tido como o centro administrativo do território. Nessa área, a grande maioria da população é indígena, mesmo aquela que vive nas áreas urbanas.
A participação indígena na construção social da Bacia do Rio Negro é enorme, como a atesta a grande presença cios Mura, Tukano e Baniwa, entre outros povos, nas atividades políticas e comerciais da Bacia do Rio Negro. Nos anos 90, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, a Foirn, despontou como a maior entidade indígena daquela área, conseguindo, por pressão junto ao Governo Federal, a demarcação de mais de quarenta terras indígenas só no Brasil.


Três perguntas para
Carlos Durigan Fundação Vitória Amazonica (FVA)

1 Qual é a importância de discutir o futuro da Bacia do Rio Negro?
A Bacia do Rio Negro é uma região extensa, que possui em seu interior terras indígenas e unidades de conservação de três países diferentes. Além disso, possui questões muito particulares no que diz respeito à bio e à sociodiversidade. 0 evento é interessante porque nos permitirá discutir e trocar visões entre diversos povos, atores, países e áreas do conhecimento. Muita gente em Manaus ainda desconhece a região e os problemas que existem lá, apesar da influência culturalmente negativa que eventualmente a capital exerce.

2 Quais são os principais problemas da Bacia do Rio Negro?
A Bacia do rio Negro não possui um problema específico daquela região. As populações sofrem com a precariedade de segurança, saúde, educação, mas isso ocorre na maior parte das cidades da Amazônia. 0 que deve ser discutido é que os problemas de lá são causados quase sempre por fatores externos.

3 A integração entre os atores sociais daquela área é importante?
Sim. No seminário vamos conhecer visões científicas, acadêmicas, mas o ponto de vista de quem vive naquele local também é fundamental. Respeitar os atores sociais de lá é um bom passo para tentarmos eliminar os preconceitos que ainda existem e construir uma regionalidade positiva no interior do território amazônico.


"Diálogo é fundamental"

Comentário
Por André Baniwa diretor da Fundação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (Foirn)

Sabemos que muitos dos nosso problemas não se encerram em solo brasileiro. Nossos irmãos indígenas da Venezuela têm dificuldades de avançar no processo de demarcação de suas terras, apesar de existir legislação indígena naquele país. Como membro da Foirn, sei que o Rio Negro tem projetos experimentais bem-sucedidos de educação e saúde que podem ser compartilhados com outros povos. Minha participação no seminário será uma tentativa de olhar o Rio Negro inteiro e descobrir políticas públicas que possam elevar a qualidade de vida das comunidades com as quais trabalho. Acho muito interessante promover esse "aviso" sobre a realidade do Rio Negro e tentar imaginar quais serão suas demandas daqui para frente. 0 diálogo com o governo e com os outros atores sociais é fundamental. Minha expectativa é que, após o evento, possamos tirar uma agenda de trabalho com interesses comuns entre todos os participantes.

A Crítica, 19/05/2007, Cidades, p. C5
Bacia do Rio Negro

Unidades de Conservação relacionadas

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  • UC Pico da Neblina
  • UC Amanã
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