O Globo, Economia, p. 47 - 18/12/2011
Vazamento de óleo atinge mar de Ilha Grande
Embarcação que seria convertida em plataforma para a Petrobras no pré-sal foi multada em R$ 10 milhões
Cláudio Motta
claudio.motta@oglobo.com.br
Um mês após o vazamento de petróleo da Chevron no Campo do Frade, dez mil litros de óleo combustível do navio-plataforma Cidade de São Paulo, da Modec Serviços de Petróleo do Brasil, foram parar no mar da Baía de Ilha Grande, segundo informações da Secretaria estadual do Ambiente. O local, a cerca de dez quilômetros da Ilha Grande, é considerado extremamente sensível, com grande biodiversidade. A empresa já recebeu multa de R$ 10 milhões e, segundo secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc, os danos ambientais ainda serão calculados.
A embarcação estava a caminho do estaleiro Brasfels, em Angra dos Reis, onde seria convertida para operar como um navio-plataforma a serviço da Petrobras no campo de Guará, no pré-sal da Bacia de Santos. A Modec informou ontem à noite que recalculou o volume derramado do óleo combustível, usado no motor do navio. André Cordeiro, responsável pelas operações da Modec na Bacia de Santos, diz que vazaram apenas dois mil litros.
- O navio veio da China, para ser convertido. Houve uma mistura de água com óleo combustível no mar na atracação do navio no porto da Brasfels. Estamos investigando as causas.
Segundo Minc, a empresa também poderá arcar com a reparação ambiental, que pode superar a multa.
- Temos que reforçar a prevenção. Já falei com os prefeitos: para janeiro, teremos a implantação da Área de Proteção Ambiental da Ilha Grande.
Segundo a presidente do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Marilene Ramos, o óleo era combustível da embarcação, e o vazamento ocorreu entre 10h e 11h de anteontem, mas logo foi controlado. Por causa do mau tempo, somente o ontem os navios de socorro puderam chegar ao local. Ao todo, nove embarcações foram mobilizadas. Sete delas são da Petrobras.
- Havia muita onda e muito vento, o que acabou propiciando a evaporação do óleo. Sobrevoamos o local e só restavam duas manchas, mas com aspecto prateado, fino. Por isso foi recomendada a dispersão por jatos de água - explicou Marilene. - Resquícios do óleo podem ir para as praias. Isto seria péssimo.
As praias com mais chances de serem afetadas são as do lado oeste da Ilha Grande, sobretudo a enseada de Araçatiba, segundo o ocenaografo David Zee, que é consultor para ajudar a Polícia Federal na avaliação dos impactos ambientais da Chevron em Frade. A Polícia Federal afirmou que vai investigar o vazamento e punir os culpados.
Derramamento na superfície é ameaça maior
Acidente da Chevron foi em grande profundidade e em região que tem menor biodiversidade
Os vazamentos da Baía de Ilha Grande e do Campo do Frade (este causado pela petrolífera americana Chevron no dia 7 de novembro na Bacia de Campos, na região Norte Fluminense) têm grandes diferenças. Enquanto o primeiro ocorreu em alto-mar e em grande profundidade, região de baixa biodiversidade, o incidente de anteontem foi superficial e dentro de uma baía considerada fundamental no ecossistema fluminense.
Além disso, o vazamento da Chevron, que ocorreu a 1.182 metros de profundidade, continua, só que de forma residual - porque o óleo está subindo lentamente à superfície. Foram despejados em alto-mar 2,4 mil barris de petróleo. Já o vazamento da Modec envolve cifras conflitantes. Enquanto a empresa alega ter derramado dois mil litros de combustível marítimo; a Secretaria de estado de Ambiente diz que foram dez mil litros.
Na última semana, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) autorizou a Chevron a injetar um terceiro "tampão" de cimento no poço. Serão seis tampões.
Só a Petrobras, foi responsável em 2010 por 57 vazamentos. É um volume de petróleo e derivados derramado cresceu cerca de 163%, pulando de 1.597 mil barris, em 2009, para 4.201 mil barris na natureza em 2010, quase o dobro do vazamento do poço da Chevron no campo de Frade (Bacia de Campos), onde a Petrobras tem 30%.
O óleo vazado pela Petrobras em. 2010 foi o maior em pelo menos quatro anos, segundo levantamento do GLOBO com base em seus relatórios de sustentabilidade. O número ficou acima do Limite Máximo Admissível, índice anual usado pela estatal, de 3.895 mil barris.
Especialistas dizem que as empresas não estão investindo o suficiente em segurança.
- Essa quantidade equivale a mais de 500 metros cúbicos de óleo derramado. Isso é mais do que o dobro do que a Chevron considerava um grande vazamento - diz o delegado federal Fábio Scliar, chefe da delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico do Rio.
O Ministério Público Federal (MPF) em Campos informou na semana passada que entrou com ação civil pública contra a Chevron e a contratada Transocean. No processo, a Procuradoria pede uma indenização de R$ 20 bilhões pelos danos ambientais e sociais. Na ação, o procurador da República Eduardo Santos de Oliveira afirma que as duas empresas demonstraram falta de planejamento e gerenciamento ambiental, além de terem omitido informações à ANP. (Claudio Motta, Liana Melo e Renata Leal)
O Globo, 18/12/2011, Economia, p. 47
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