Horizonte Geográfico n. 152, abr., 2014, p. 40-47 - 30/04/2014
Reserva de Juatinga: cinco dias entre trilha e mar
A Reserva da Juatinga, ao sul de Paraty (RJ), é o berço do navegador Amyr Klink. E um roteiro de aventura a céu aberto
Manoela Penna
Um dia é preciso parar de sonhar e, de algum modo, partir." A frase, de Amyr Klink, é uma das muitas do livro Cem Dias Entre Céu e Mar que marcaram a minha adolescência. A possibilidade de deixar o sofá para trás e remar solitária em direção ao oceano incógnito mexia com a minha cabeça. Só para ajudar, ao contrário da maioria dos outros leitores, eu convivi com o autor. Amyr, amigo de minha família, fazia visitas regulares à nossa casa em Paraty-Mirim, no litoral sul do Rio de Janeiro. Naquela época, ainda garotinha, meu horizonte não passava dos dois quilômetros que separam o píer da ilhota da Cotia, ali do outro lado da baía. O suficiente para aguçar meu espírito aventureiro.
Acabei não partindo para uma viagem de 100 dias no mar. Resolvi, ao menos por enquanto, botar o caiaque na água no quintal de casa e percorrer um desafiante trajeto de 100 quilômetros como integrante da Expedição Juatinga, uma jornada de cinco dias de remadas e caminhadas ao redor da Reserva da Juatinga, em Paraty. Como sempre, influenciada pelos ensinamentos de Amyr Klink: "Não sou aventureiro. Para fazer as viagens que faço, na verdade, é preciso muito planejamento". Sonho e logística. Essa combinação, repassada por ele e partilhada com meus companheiros de aventura, pode não ter nos rendido um livro, mas garantiu uma boa história.
Unir um grupo de amigos com níveis próximos de aptidão técnica, preparo físico, astral e disponibilidade de tempo é sempre o primeiro desafio. A expedição começou já na véspera. Às voltas com equipamentos, comidas e caiaques, nosso grupo embarcou de corpo e alma na preparação dos detalhes da viagem. Durante os próximos cinco dias, iríamos percorrer obstáculos variados, entre trekking (uma modalidade mais intensa de caminhada) e caiaque, a partir de Paraty-Mirim (veja no mapa abaixo). Definimos as modalidades e trechos com cuidado, e decidimos encerrar a remada antes da ponta da Juatinga, uma conhecida zona de mar agitado, apelidada, inclusive, de Cabo Horn Brasileiro, em referência ao ponto no extremo sul do continente americano que é um pesadelo para os navegadores. Naquele trecho específico, optamos por largar os remos e usar os pés, até recuperar os caiaques para, então, encerrar a viagem por mar.
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Horizonte Geográfico n. 152, abr., 2014, p. 40-47
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UC:Reserva Ecológica
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- UC Juatinga
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