Ao longo desse ano, a ONG Trilhas Quase Secretas/SOS Trilhas tem organizado sucessivos mutirões de limpeza no Parque Natural Municipal de Grumari, que abriga as únicas praias selvagens do Município do Rio de Janeiro. Os eventos têm sido bem sucedidos, tanto do ponto de vista da retirada dos resíduos, como em termos de unificar setores da sociedade civil em prol de uma causa ambiental. Entre seus apoiadores estão entidades vinculadas ao Mosaico Carioca de Unidades de Conservação, tais como sua Associação de Amigos, o Parque Estadual da Pedra Branca e o Programa de Voluntariado do Parque Nacional da Tijuca, além de diversos grupos de usuários a exemplo do Grupo Terra Limpa, da Associação Amigos do Perigoso, a Associação Amigos do Parque da Pedra Branca e dos grupos Destemidos, Ecoconsciente, Giro Carioca e Bionatureza.
Não é um processo que tenha começado esse ano. Desde 2006 foram retiradas mais de duas toneladas de dejetos das praias do Inferno, Funda, do Meio, do Perigoso e dos Búzios, cujo acesso só pode ser feito por trilhas. Os mutirões são apenas uma ação entre outras que têm dado ao Parque cada vez mais cara de unidade de conservação.
Na década de 1980, quando comecei a frequentar o litoral de Grumari e Guaratiba, suas encostas eram cobertas de capim colonião. O primeiro órgão que vi entrar na região foi a Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Com paciência e vigor, aliados a grande conhecimento técnico, os servidores da Coordenadoria de Recuperação Ambiental da SMAC começaram a remover o capim colonião, a preparar o terreno em pequenos terraços e a plantar espécies pioneiras capazes de crescer, mesmo fustigadas pelo vento salgado e banhadas por um sol inclemente. À medida que foram vingando, outras espécies de Mata Atlântica começaram a ser reintroduzidas, em um trabalho que faria jus à Medalha Nacional do Mérito Major Archer (se existisse!).
Hoje, quem caminha pelas praias selvagens já não mais se sente em uma área degradada. A vegetação está se recompondo com rapidez e a Mata Atlântica, em diferentes estágios de recuperação, reina novamente. O sucesso do reflorestamento foi acompanhado com medidas mais recentes que, uma a uma, vão ajudando a consolidar o Parque Natural Municipal.
Liderança
O gestor da Unidade, Alexandre Chagas, tem sido incansável na busca de soluções para seus problemas, sobretudo aqueles afeitos à fiscalização e manejo. Recentemente, as praias ganharam sinalização direcional de Guaratiba a Grumari, no padrão da Trilha Transcarioca, da qual sua trilha de acesso forma o trecho inicial.
Reflorestamento, sinalização, fiscalização, manejo, sociedade civil organizada para ajudar a unidade de conservação em atividades intensivas em mão de obra.... aos poucos o lugar vai tomando jeito. O problema do lixo, contudo, fica um buraco mais abaixo.
Segundo Alexandre, é perceptível a melhoria nas atitudes dos visitantes. "hoje embora as pessoas continuem jogando lixo nas praias, jogam menos lixo do que antigamente. Há mais consciência ambiental e mais pressão social de outros usuários". Na verdade, no Parque de Grumari repete-se uma história já identificada por Ivan Amaral, Presidente do Grupo Terralimpa, instituição que desde 1998 organiza mutirões nas diferentes unidades de conservação do Rio de Janeiro. "À medida que o lixo vai sendo retirado, as pessoas que observam nosso trabalho vão se sensibilizando e, aos poucos vão deixando de jogar lixo nas trilhas e cachoeiras. A situação hoje é melhor que quando começamos há mais de 15 anos".
Mas, se é assim, por que o lixo não para de se acumular nas areias das praias selvagens do PNMG? Ele não chega somente pelas mãos de visitantes deseducados. A maior parte dos detritos é trazida pelas ondas do mar. São latas, bolsas de plástico, garrafas pet, vasilhames, cordas e outros objetos que muitas vezes bóiam por anos antes de enxovalhar a costa protegida do Município do Rio de Janeiro.
Infelizmente, denominador coparece que não há mutirão que dê jeito nesse drama. Nos últimos cinco anos, tenho percorrido unidades de conservação litorâneas em todos os países a que meu trabalho me leva. Não importa onde vá, Parque Natural da Costa Vicentina (Portugal), Parque Nacional Bako (Malásia), Parque Nacional High North (Granada), Reserva Nacional Paracas (Peru), Parque Nacional Bazaruto (Moçambique), Parque Nacional Djivaste (Albânia), Reserva da Biosfera Sia'an Kaan (México), Parque Nacional Los Roques (Venezuela), ou Parque Estadual da Costa do Sol (Brasil) entre outros, há sempre um denominador comum: a sujeira abjeta de suas praias.
http://www.oeco.org.br/blog-palmilhando/28497-tirar-o-lixo-da-trilha-nao-impede-o-lixo-que-vem-de-longe
Florestas:Recuperação de Áreas Degradadas
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