FSP, MPME, p. 6 - 05/10/2017
Peixe com identidade e pedigree
Dados sobre origem acompanham pescado até a mesa de restaurante
NADIA PONTES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Numa rua em Copacabana, no Rio, um restaurante serve a tainha com um acompanhamento inusitado: um cartão com QR code. A novidade entra no cardápio em outubro, quando a pesca da tainha volta a ser liberada após o período de defeso.
Antes de saborear o prato, o cliente que escanear o código com o celular vai descobrir todo caminho que o pescado percorreu até chegar ali: origem, data da captura, detalhes da espécie.
A tainha, comprada por R$ 15 o quilo, vem da comunidade Praia da Pitoria, em São Pedro da Aldeia (RJ), onde cerca de 600 famílias vivem da pesca artesanal, direta ou indiretamente.
A iniciativa é parte do projeto Pesca+Sustentável, coordenada pela CI (Conservação Internacional). A proposta é implementar um sistema de rastreamento do pescado com informações transparentes para o consumidor.
"É uma parceria importante para divulgar o trabalho de quem pesca certo na época certa, o que precisa ser feito para sustentar toda as comunidades que vivem dessa atividade", diz o pescador Francisco Guimarães Neto, que aprendeu a profissão com o avô, de 101 anos, e com pai.
Ele é representante da Confrem (Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas), parceiro do ICMbio (Instituto de Conservação Chico Mendes de Biodiversidade) no projeto.
"O consumidor está interessado nessa questão, quer saber como atuar e fazer a diferença", afirma Guilherme Fraga Dutra, Diretor de Estratégia Marinho Costeiro da CI.
Segundo a organização, um em cada cinco rótulos de pescado apresenta informação falsa. Estima-se que 80% das espécies exploradas no Brasil sofram ameaça devido à pesca predatória. "Queremos ajudar a colocar no mercado um produto sustentável ambiental, social e economicamente", diz Dutra.
Três anos de um complexo planejamento antecederam o lançamento. O início foi em 2014, após a proposta vencer o Desafio de Impacto Social Google Brasil.
As primeiras experiências aconteceram em reservas extrativistas onde a caça do caranguejo é a principal fonte de renda. Atualmente, cinco reservas fazem parte do Pesca+Sustentável, a meta é chegar a 25, com o envolvimento de 6.000 famílias.
As informações sobre o pescado são inseridas no banco de dados pelos próprios pescadores, por meio de celular ou computador. O produto sai das comunidades com a etiqueta de informações, que podem ser consultadas pelo consumidor.
"A ideia é fazer que ambientes marinhos que são produtivos sejam ainda mais produtivos a partir de uma boa gestão", diz Dutra sobre o projeto.
"E a falta de gestão leva à insustentabilidade", complementa o diretor da CI, que estima a existência de 600 mil a 800 mil pescadores de pequena escala no Brasil.
O modelo de pesca ideal, porém, pode variar de acordo com a região. Nas reservas extrativistas da Amazônia, a atividade é considerada sustentável se feita para a subsistência das populações tradicionais, o que inclui a comercialização do excedente.
"Quando a pesca se torna a principal origem da renda, isso vira um problema, pois ameaça a maior fonte de proteína das famílias tradicionais, o que gera conflitos", diz Marcelo Salazar, do Instituto Socioambiental, citando exemplos da reservas extrativistas dos rios Xingu e Iriri.
Nesses casos, a floresta (e a coleta de recursos como babaçu, castanha, copaíba, borracha) é importante para garantir a boa gestão do peixe.
FSP, 05/10/2017, MPME, p. 6
http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2017/10/1924427-dados-sobre-origem-acompanham-pescado-ate-a-mesa-de-restaurante.shtml
Recursos Hídricos:Pesca
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