Esse peixe é nosso

CB, Cidades, p. 42 - 19/06/2008
Esse peixe é nosso
Biólogos tentam recuperar ambiente onde vive o pirá-brasília para salvar única espécie encontrada apenas em águas do DF. Só existem 100 exemplares monitorados na região

Da Redação

São 5cm de comprimento, cores fortes e uma constante luta pela sobrevivência. O pirá-brasília, peixe encontrado somente no Distrito Federal, tem oficialmente uma população que se resume a cerca de 100 exemplares, todos em um brejo da reserva ecológica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, integrante da Bacia Hidrográfica do Gama. A espécie está na lista vermelha da União Internacional pela Conservação da Natureza, entidade com sede
na Suíça, dentre as seriamente ameaçadas de extinção.

Essa história tem início em 1959, na área do Córrego Riacho Fundo, quando o peixe, cujo nome científico é Cynolebias boitonei, foi identificado pela primeira vez. O descobridor foi o zoonaturalista José Boitone, um dos primeiros funcionários do zoológico. Era o auge das obras da nova capital, e não demorou para o peixinho ganhar um nome popular em homenagem à cidade que tomava forma.

Encontrada apenas nas áreas de veredas (uma espécie de brejo) do Distrito Federal, a espécie rara passou a ser cobiçada por donos de aquário. Como não havia qualquer tipo de controle, muitos peixes foram recolhidos e enviados para o exterior. Valorizado por sua beleza e com o tamanho adequado para aquários, o peixinho faz sucesso longe do cerrado. Além das cores chamativas, ele atrai justamente por ser raro. O pirá-brasília pode ser encontrado em aquários do Japão, dos Estados Unidos e da Europa. Mas foram a rápida expansão da mancha urbana de Brasília e a contaminação dos córregos por agrotóxicos os grandes adversários da espécie.

O analista Henrique Anatole, do Ibama, está conduzindo uma pesquisa para identificar as causas do desaparecimento do peixe em algumas áreas. "A intenção é conhecer os fatores ambientais que influenciaram no processo e recuperar as áreas onde o peixe se reproduz", explica Anatole. Hoje em dia, oficialmente, o peixe só é encontrado na reserva do IBGE. Mas José Boitone, 78 anos, garante que o pirá-brasília tem outras casas na capital. "Eu espalhei o peixe por outros locais. Na maioria dos casos, não deu certo, mas alguns deles se reproduziram." E confirma que o último refúgio seguro da espécie é a Reserva Ecológica do IBGE.

Vítima da ação do homem, o pirá-brasília se escondeu em um brejo dentro da área preservada. Uma região cercada com aproximadamente 25 hectares, entre árvores, lama e mato, em poças d'água de apenas 20cm de altura. É lá, na região do Córrego Taquara, que vivem os únicos remanescentes monitorados da espécie. "É comum a gente passar o dia inteiro aqui sem ver um deles", conta Diacis de Alvarenga, técnico da reserva que lida com os peixes.

Polêmica
O pirá-brasília ganhou fama em 1995, quando o deputado distrital Wasny de Roure (PT) apresentou um projeto que dava ao peixe a condição de animal-símbolo da cidade. Como a única espécie exclusiva do Distrito Federal, ele não tinha rivais. Até que o deputado distrital César Lacerda, do extinto PRN, lançou uma revelação: o tal do peixe era gay. Na verdade, hermafrodita. O parlamentar propôs uma emenda ao projeto do colega, incluindo o lobo-guará na disputa pela primazia. "Esse peixe insignificante não é um bicho. É uma bicha", atacou, na época, o parlamentar. Confusão instalada.

"Isso é uma bobagem", rebate o biólogo Mauro César Lambert, do IBGE. Ele lembra que macho e fêmea têm até cores e tamanhos diferentes. "Aquela foi uma polêmica criada por motivos políticos", esbraveja. Para dar fim à disputa, foi promovida uma eleição, organizada pelo Correio Braziliense, que decidiria o animal que melhor representava nossa cidade. Numa votação livre, o lobo-guará venceu.

CB, 19/06/2008, Cidades, p. 42
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