O Globo, Rio, p. 22 - 20/05/2011
Reserva em Guaratiba com ares de fortaleza
Unidade terá 200 soldados do Exército como guarda-parques, mais que o dobro dos 80 que protegem outras 13 no estado
Cláudio Motta
A Reserva Biológica de Guaratiba, com 3.600 hectares, é a unidade de conservação mais bem protegida do estado. No local, vão atuar 200 soldados do Exército: um homem para cada 18 hectares. Os militares do Centro Tecnológico do Exército (CTex), que fica na Avenida das Américas e é cercado pela reserva, concluíram ontem o treinamento do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) para atuar como guarda-parques no local. Além de combaterem focos de incêndio e pesca irregular, eles promoverão ações de educação ambiental e farão inspeções diárias para impedir invasões.
O panorama nas outras unidades de conservação, no entanto, é bem diferente. No total, são 12 estaduais e duas municipais (incluindo a de Guaratiba), ocupando 166.800 hectares. Porém, há somente 80 guarda-parques, todos bombeiros. Portanto, a relação é de um homem para cada 2.085 hectares. O diretor de Biodiversidade do Inea, André Ilha, reconhece a falta de pessoal, mas alega que um concurso público será realizado ainda em 2011 para 220 novos profissionais. Mesmo quando houver a contratação, serão 556 hectares para cada agente.
- Não está formalmente descrito na parceria do Inea com o Exército, mas, se houver necessidade, poderemos pedir ajuda dos militares para combater grandes incêndios em outras unidades - disse Ilha, lembrando que bombeiros do Rio já combateram fogo em matas de Roraima, ao lado de militares.
O Inea manterá sua responsabilidade sobre a reserva de Guaratiba. Mas o Exército fará o trabalho de campo. Quando houver qualquer ocorrência, o Inea será chamado e assumirá o caso.
- Vamos ter condições excepcionais de fiscalização em Guaratiba. A pesca clandestina é um grande problema na unidade. Contaremos com uma nova embarcação e instalaremos cabos de aço para impedir a navegação de pesqueiros. Além disso, há o combate a incêndios, que geralmente vêm de fora da reserva - disse Ilha.
Visitas só podem ser feitas com objetivos educacionais
Quem passa pela Avenida das Américas, depois da Grota Funda, no sentido Campo Grande, muitas vezes não percebe que, do lado esquerdo, há uma importante reserva, que protege o manguezal do fundo da Baía de Sepetiba. Para aumentar a visibilidade, 14 placas informativas estão sendo colocadas ao longo dos 18km de cerca da unidade. Outro fator que pode contribuir para o isolamento da reserva é seu regime de preservação - proteção integral -, que só permite visitas com objetivo educacional. Ou seja, visitantes em busca de atividades de lazer não podem entrar.
Com a construção do Túnel da Grota Funda e o esperado crescimento da região de Guaratiba, a expectativa dos ambientalistas é que aumente a pressão sobre a unidade. Outro fator considerado estratégico é a formação dos soldados em combate a incêndio antes da estação das secas.
Responsável pela área ambiental do CTex, o capitão Tércio Brum diz que não é possível dizer quanto será gasto no novo trabalho do Exército, uma vez que não haverá um orçamento novo ou diferente do custo de manutenção da unidade.
- Vamos estar sempre de prontidão. O militar sabe que pode ser acionado a qualquer hora. O Exército precisa de áreas para treinamento. Nossa preocupação é manter o bem público. Temos a tarefa de preservar o meio ambiente - diz Brum.
A sede da reserva de Guaratiba fica na Estrada da Matriz 4.485. Caracterizada pelos manguezais, um dos mais preservados do estado, a unidade foi o último local de ocorrência do guará, ave que originou o nome Guaratiba (abundância de guarás), segundo o Inea. Foram encontrados no local 34 sambaquis, nos quais há vestígios de grupos pré-históricos.
O Globo, 20/05/2011, Rio, p. 22
UC:Reserva Biológica
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