FSP, Tendências/Debates, p. A3 - 11/04/2012
Desenvolvimento e sustentabilidade na Bahia
É possível conciliar ferrovia e turismo, até porque não há como pensar em turismo sustentável se grande parcela da população vive na pobreza
Rui Costa
Uma das necessidades mais significativas do Brasil hoje é a construção de modernos vetores logísticos para o escoamento da produção -seja de commodities, seja de produtos com valor adicionado pelo processo de industrialização.
A logística é uma peça-chave para o desenvolvimento regional e para a integração de territórios, principalmente em Estados como a Bahia, cuja atividade econômica se concentra em poucos setores, em especial a indústria da transformação, que responde por cerca de 28% do PIB.
Em artigo publicado nesta Folha no último dia 28 ("Ameaça sobre o legado de Jorge Amado"), o ex-deputado federal Fábio Feldmann, hoje consultor, questiona os projetos da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e do Porto Sul.
Feldmann parte de uma premissa falsa: é impossível conciliar o "hub" logístico resultante da construção da ferrovia e do porto com o turismo sustentável.
Na visão do governo da Bahia, os investimentos em infraestrutura do Estado geram oportunidades de emprego e renda, melhorando os indicadores sociais e ambientais.
Em relação ao Porto Sul, alvo central do questionamento, Feldmann ignora o rigoroso detalhamento do diagnóstico ambiental, que resultou na construção de um modelo que mitiga os impactos da obra e estabelece uma série de compensações que tornarão o projeto uma referência para o país.
Tais estudos levaram inclusive o governo do Estado a alterar o sítio original do empreendimento, que o próprio Feldmann reconhece como "inegável avanço".
Uma das prioridades do projeto é a preservação do bioma da Mata Atlântica, razão pela qual já compramos uma área de 1.700 hectares que formará uma espécie de cinturão "verde" em torno do porto.
Criaremos um mosaico de ativos ambientais, compreendendo unidades de conservação nas localidades da Lagoa Encantada e na nascente do rio Almada, formando um corredor ecológico e preservando o turismo e a biodiversidade.
A relevância estratégica do empreendimento é ainda maior quando pensamos no impacto que ele terá sobre os indicadores sociais e econômicos locais.
A região do litoral sul da Bahia ainda sente os efeitos negativos do declínio da lavoura cacaueira. A participação de Ilhéus e Itabuna na economia baiana caiu de 5,3%, em 1999, para 3,1%.
Como em toda crise econômica, o maior ônus recai sobre os mais pobres, o que provocou um grande êxodo rural, que se assentou em um cinturão de ocupação irregular nos arredores das duas cidades.
O risco e o dano ambiental são questões inerentes a esses assentamentos, principalmente em Ilhéus, onde 34,5% dos domicílios não têm acesso à rede de esgoto.
Estamos diante de uma situação em que instalar novos empreendimentos geradores de emprego e renda, com impactos ambientais calculados e controlados, é a melhor forma de cuidar do meio ambiente local. O mesmo vale para o turismo, pois não há como se pensar em turismo sustentável em uma paisagem em que grande parcela da população vive em condições de pobreza.
Como o Brasil deve defender em junho na Rio+20, a visão de desenvolvimento nas nações emergentes precisa colocar lado a lado a preservação dos recursos naturais e o combate à miséria, de modo que a população tenha alternativas de trabalho e moradia em condições dignas e sustentáveis.
Rui Costa, 49, é economista, deputado federal licenciado (PT-BA) e secretário chefe da Casa Civil da Bahia
FSP, 11/04/2012, Tendências/Debates, p. A3
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/36377-desenvolvimento-e-sustentabilidade-na-bahia.shtml
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