Parque Estadual na Zona da Mata recebe viajantes com cachoeiras, poços e grutas de beleza essencial
Ibitipoca é de tirar o fôlego. Seja pela beleza exótica, seja por algumas das longas trilhas, que exigem boa dose de disposição física. A beleza nua e crua tem o poder de levar à essência mais genuína do ser humano - somos parte da natureza. Na pauleira do jogo da vida nas grandes cidades, é normal passar batido por essa constatação óbvia, mas bastam poucos minutos diante do infinito mar de montanhas, da grandeza das rochas, da variedade de grutas e cachoeiras, para resgatar esse sentido de pertencimento.
O Parque Estadual de Ibitipoca, com 1.488 hectares, fica na Zona da Mata mineira, nos municípios de Lima Duarte e Santa Rita do Ibitipoca. Ocupa o alto da Serra do Ibitipoca, uma extensão da Serra da Mantiqueira. Trata-se de uma unidade de conservação administrada pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), com altitudes entre 1.050 e 1.784 metros, serve de divisor entre as bacias dos rios Grande e Paraíba do Sul. A formação geológica é predominantemente quartzítica e o relevo, acidentado.
Entre as espécies da flora comuns na região, estão cactos, orquídeas, bromélias, samambaias e candeias, estas últimas repletas de outra vegetação, popularmente chamada de barbas-de-velho (líquens). A região é conhecida por ser território do lobo-guará. O parque conta ainda com uma rica diversidade de aves, como o tucano-do-bico-verde, o araçari-banana, andorinhões, que costumam dar voos rasantes.
Em tupi-guarani, Ibitipoca significa "pedra que estala" ou "serra que estoura", nome possivelmente inspirado na alta incidência de raios. O parque tem três circuitos a serem desbravados, cada qual com paisagens e extensões distintas. Todos bem cuidados, sinalizados, com mirantes, escadas e até corrimões. Guias não são necessários - alguns visitantes investem num cajado para auxiliar nas andanças.
O Circuito das Águas é o mais curto: com cinco quilômetros de extensão (ida e volta), forma uma espécie de U, banhado pelo Rio do Salto. No trajeto, está o imponente Paredão de Santo Antônio, que dá forma ao Lago das Miragens de tom âmbar, resultado da decomposição das folhas. Continuando a caminhada, está a bela Cachoeira dos Macacos. Há ainda a Ponte de Pedra, passagem escavada pela própria água do rio ao longo de milhares de anos. É possível atravessá-la tanto por cima como pelo seu interior. Também fazem parte do Circuito das Águas o Lago dos Espelhos, a Prainha, o Lago Negro, a Gruta Gnomos e a Prainha das Elfas. Difícil identificar qual é o ponto mais bonito.
A trilha mais famosa é a Janela do Céu. São 16 quilômetros (também ida e volta), e cerca de sete horas de passeio. Vale a pena reservar um dia da viagem só para essa parte do parque, com tempo para desfrutar de cada pedaço do trajeto, além de paradas para descansar e fazer um lanchinho. O nome é apropriado. Após cerca de três horas e meia de subidas, descidas e belas paisagens, chega-se a uma mistura de corredeira com penhasco. De uma abertura oval na rocha, o ângulo de visão só dá para o céu. Ali, há pequenos poços que formam uma queda d'água. O visitante fica no topo da formação da cachoeira.
Com mais 20 minutos de caminhada, é possível desfrutar a beleza da Cachoeirinha, continuação da Janela do Céu. São cerca de 30 metros de queda d'água, com direito a prainha e arco-íris. No circuito, há ainda o Cruzeiro - onde é feita a reza do terço, sempre em 3 de maio, com a comunidade da Vila de Ibitipoca -; o Pico da Lombada, ponto mais alto do parque, com 1.784 metros e uma vista incrível, e quatro grutas: da Cruz, bem iluminada por uma espécie de claraboia; dos Fugitivos, que teria servido de esconderijo para escravos; dos Três Arcos, com três aberturas e grandes salões; e a dos Moreiras, com duas entradas e uma série de salões internos interligados. É bom ter lanterna e agasalhos com capuz, pois no alto da montanha o vento costuma castigar.
As dicas acima também valem para o Circuito do Pião, com 11 quilômetros de extensão. É o segundo mais alto ponto do parque, com 1.722 metros de altura. No trajeto, há três grutas. Uma delas é a do Monjolinho, onde é preciso nadar e mergulhar para atravessá-la, uma experiência surpreendente para boa parte dos turistas. Também tem a Gruta do Pião, bem escuras, com formas e cores variadas, e a dos Viajantes, bem grande e que já abrigou viajantes que passaram pela região. No circuito, estão as ruínas da Capela Senhor Bom Jesus da Serra destruída pelos raios, ventos e tempestades.
Integração
O Centro de Visitação é um bom ponto de informações e leva o nome é do botânico francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), o primeiro a pesquisar e descrever flora, fauna e paisagens da região. Tem lanchonete, restaurante e estrutura para acomodar até 23 barracas de camping. Na área comum, há mesas, churrasqueiras e banheiros equipados com chuveiros de água quente. Pode parecer desconfortável e um tanto riponga a ideia de dormir em uma barraca, mas só os campistas têm o privilégio de apreciar o céu forrado de estrelas e o amanhecer em um lugar tão especial.
No início de junho, o casal de advogados João Cláudio Vieira Ribeiro e Thassia Bravin desfrutava dessa experiência. "Nunca me senti tão integrada à natureza. Jamais esquecerei deste lugar, amei a Janela do Céu. É puxado, mas vale o esforço", afirma Thassia. "Gostei de tudo, mas a curiosidade e a vontade de desbravar as grutas foram muito fortes para mim. Em alguns momentos eu não via fim. Não tinha visto nada parecido na minha vida", diz João Cláudio, capixaba, que viajou por dez horas até chegar ao parque.
"Nossa expectativa é que o visitante sempre saia com algo a mais do que quando entra. Que entenda a importância de uma unidade de conservação, perceba mais a fauna, flora. Tudo isso desperta a consciência de se cuidar mais da natureza. Aqui há cerca de 70 cavidades naturais, oito abertas ao público", conta o biólogo João Carlos Lima de Oliveira, que gerencia o parque. Com frequência, há pesquisadores e estudantes no local, considerado o segundo melhor parque do Brasil pelo ranking do site TripAdvisor, cuja seleção é feita a partir das avaliações e opiniões de viajantes.
Além de desbravar os circuitos do parque, também há passeios nas fazendas do entorno e na pequenina Vila de Conceição de Ibitipoca, com pousadas, restaurantes de comida mineira e lojinhas. O caseiro e típico pão de canela é imperdível. Também há cervejas artesanais e festivais de blues, jazz e reggae em diferentes períodos do ano.
Parque Estadual de Ibitipoca
Atualmente, a capacidade é de 1.200 pessoas nos finais de semana e feriados, e 300 durante a semana. É imprescindível chegar cedo. No feriado de Corpus Christi, por exemplo, quem chegou por volta das 10h não pôde entrar. O percurso de Lima Duarte ao parque é em terra e dura uma hora.
Dias úteis: R$ 10. Fins de semana e feriados: R$ 20.
Cartões não são aceitos.
Estacionamento: R$ 20 a diária.
Camping por pessoa: R$ 40, além do valor do estacionamento. Funciona de terça a domingo.
Campistas podem passear na vila, mas devem retornar até as 17h30.
Tel.: (32) 3281-1101
peibitipoca@meioambiente.mg.gov.br.
www.ibitipoca.tur.br
http://www.redebrasilatual.com.br/revistas/109/ibiti-o-que-3250.html
UC:Parque
Related Protected Areas:
- UC Ibitipoca
As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.