Futuro das águas de Roraima
Ciro Campos*
"A água não é só dos índios, é de todos nós". Foi o que declarou Davi Yanomami após protocolar carta à presidente Dilma e à governadora Suely em 02 de dezembro. Na carta, Davi solicitava que o rio que abastece não apenas seu povo, mas também a população e o setor produtivo de Roraima fossem protegidos contra a mineração.
Embora despercebido pela sociedade, está em jogo a destinação de uma área cobiçada pelas mineradoras, e que protege a água consumida por quase toda população do estado. Trata-se do leito do rio Uraricoera, principal formador do rio Branco, maior rio de Roraima.
Devido à sua importância estratégica e da constante ameaça da mineração e do garimpo, o decreto de transferência das terras da União para Roraima (6754/2009) determinou que esta área fosse anexada à Estação Ecológica de Maracá, um tipo de unidade de Conservação que não permite a mineração. Entretanto, em 2015, o governo estadual pediu para transformar a área em Floresta Estadual, um tipo de unidade de conservação mais frágil, que pode permitir a mineração. E o governo federal teria aceitado.
Mas ainda não foi batido o martelo. O governo estadual já declarou que está aberto ao diálogo e que não pretendia com esta mudança incentivar a instalação de grandes mineradoras no leito do rio. E conforme declarou o Secretário de Planejamento, se a presidente desistisse de criar a Unidade de Conservação dos Lavrados, o governo do estado estaria disposto a reavaliar o caso do rio Uraricoera.
Agora que a presidente atendeu à solicitação da governadora e não vai mais criar a Unidade de Conservação dos Lavrados, o momento é oportuno para a governadora alterar a proposta levada à Câmara Técnica de Destinação e Regularização Fundiária das Terras Federais na Amazônia Legal, para que seja mantida a destinação da área para a expansão da Estação Ecológica de Maracá.
O momento exige prudência, diálogo e responsabilidade. Não podemos esquecer da recente tragédia da mineração que praticamente matou o rio Doce, em Minas Gerais. Devemos lembrar também da Hidrelétrica que pretendem fazer no rio Branco, do desmatamento nas margens, do abuso de agrotóxicos, da falta de saneamento, da poluição urbana, de tudo que ameaça a saúde de nossos rios, porque sem água não há futuro.
A decisão sobre o futuro do rio Uraricoera pode ser tomada ainda neste fim de ano. E o que está em jogo não é só a destinação de um pequeno pedaço de terra entre a Ilha de Maracá e a terra Yanomami. Nas mãos da governadora Suely Campos está o futuro da água, para a vida do povo e para o desenvolvimento de Roraima.
* Instituto Socioambiental - ISA
http://www.folhabv.com.br/coluna/Opiniao-24-12-2015/1858
Mineração:Política Mineral
Related Protected Areas:
- UC Maracá
- TI Yanomami
As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.