Favelas se multiplicam na Região dos Lagos

O Globo, Rio, p.16 - 01/11/2005
Favelas se multiplicam na Região dos Lagos

Taís Mendes

A favelização cresce a passos largos em direção à Região dos Lagos, na mesma proporção em que aumenta a população dos municípios que a integram: pessoas atraídas pelo crescimento do turismo e pelos royalties do petróleo. Um sobrevôo na faixa entre os municípios de Maricá e Arraial do Cabo revela um rastro de destruição. A Área de Proteção Ambiental (APA) de Massambaba, segundo o Ministério Público estadual, tem atualmente mais de dez focos de invasões sobre dunas e vegetação nativa. Do alto, não resta dúvida de que a favelização na área preservada é crescente.
Até salinas são aterradas e viram loteamentos
Nos distritos de Monte Alto e Figueira, a cinco quilômetros do Centro de Arraial, casas foram construídas no alto de dunas, em cima de brejos e ao longo da restinga. Salinas foram aterradas para dar lugar a loteamentos irregulares. Os pontos críticos são as localidades de Pernambuco, Figueira e Monte Alto. As invasões avançam tanto para o mar como para a Lagoa de Araruama, que tem 65% da área em Cabo Frio.
O deputado Carlos Minc, da Comissão de Meio Ambiente da Alerj, que organizou o sobrevôo na Região dos Lagos, anunciou dois novos projetos de lei para tentar conter a favelização em Massambaba:
— Já entrei com um projeto de lei criando o Parque Estadual das Salinas, para impedir os loteamentos, e um outro projeto determinando que cada empreendimento habitacional reserve 10% da área para abrigar pessoas que vivem em locais de risco.
Não são apenas as áreas de proteção que estão ameaçadas pelas invasões. A favelização também é visível nos centros urbanos. Em Arraial do Cabo, as invasões crescem cerca de 10% a cada ano. O município, de cerca de 25 mil habitantes, tem hoje duas favelas: Morro da Cabocla e Morro Boa Vista. O Morro da Cabocla, no Parque Municipal da Praia do Forno, uma das mais belas do município, já perdeu 30% da área verde, conforme estudos elaborados no ano passado pela Fundação de Meio Ambiente do município. No Morro da Boa Vista, a ocupação irregular foi contida por um muro, mas a verticalização da favela vem crescendo nos últimos anos.
Em Cabo Frio, a única favela reconhecida pela prefeitura é a Buraco do Boi, na Praia do Forte, cartão-postal do município turístico. A comunidade pobre instalou-se por trás dos prédios da orla, em barracos de alvenaria e madeira, sem água encanada ou sistema de esgoto. A prefeitura diz que está negociando a transferência das famílias, mas quem mora lá não quer sair do lugar. Na divisa do município com São Pedro da Aldeia, a favela Barraca Verde é habitada por pelo menos cem famílias que convivem com o esgoto a céu aberto.
Os prefeitos da região culpam o êxodo rural e criaram até barreiras para impedir a migração. Em Cabo Frio, no ano passado, chegou-se a montar um posto para impedir a entrada de famílias que chegam no município sem ter onde morar.

O Globo, 01/11/2005, Rio, p. 16
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