O prefeito de Itacoatiara (a 170 quilômetros de Manaus), Mamud Amed, e o vereador Alcimar de Souza Mendonça estão sendo acusados por índios da etnia Mura, da terra indígena do rio Urubu, de estarem loteando a área. De acordo com o líder indígena Ralily Almeida de Carvalho, 42, foram vendidos 110 terrenos dentro da área pelo preço de R$ 600 cada.
Ralily disse que o loteamento começou a ser feito depois que o prefeito abriu uma estrada de 11 quilômetros de extensão dentro da área. Todos os lotes teriam sido vendidos, mas a maior parte ainda não está ocupado. Ralily diz que o clima é de tensão na área e afirma que ele e outras lideranças indígenas vêm recebendo ameaças de morte.
No domingo passado, segundo Ralily, uma equipe de saúde da Coiab foi impedida de atender os índios da aldeia Cana, onde vivem 26 famílias. "Uns 40 homens saíram do meio do mato e fizeram de refém um microscopista e apreenderam a radiofonia. Uma médica conseguiu fugir disfarçada e avisou a representação local da Funai (Fundação Nacional do Índio)." Ele também afirma que o prefeito, em represália, ameaça dispensar os professores indígenas. Os índios também estariam sendo impedidos de conseguir financiamentos agrícolas.
"Estamos sendo perseguidos pelo prefeito. A qualquer momento pode morrer alguém, tanto da nossa parte quanto da deles", avisa Ralily. A situação na área deu origem a um relatório da Funai, que foi encaminhado à Polícia Federal. Na terra indígena vivem cerca de 900 índios, segundo Ralily.
De acordo com a assessoria de comunicação da Funai, não poderiam ter sido vendidos lotes dentro da terra indígena, que está em processo de demarcação. Em 1986 a Funai fez um estudo, identificando e delimitando a área. O processo de demarcação, que é demorado, está em curso, informa a assessoria.
A Funai também afirma que foram encontrados vestígios de índios naquela área desde 1714. Em 1787, o padre jesuíta Barbosa Rodrigues, em viagem pela região, identificou várias malocas. Algumas dessas aldeias existem até hoje, como a Cana, Correnteza, Maquira e Taboca. Segundo a assessoria, as lideranças municipais deveriam ser as primeiras a reconhecer as comunidades tradicionais e não ficar incentivando a animosidade entre os índios e outros moradores do município.
Prefeito se diz inocente
A venda de lotes em terras indígenas foi negada pelo prefeito de Itacoatiara, Mamud Amed. "Desconheço qualquer loteamento nessa área", afirma. Segundo o prefeito, não há tribos indígenas no local. "A única pessoa que se diz de origem indígena é uma pessoa que se chama Ralily", comenta.
O prefeito garante que não persegue comunidades indígenas. "Não persigo ninguém. Todas as escolas e professores dessas área são mantidos com recursos da prefeitura", diz, negando a denúncia de que iria suspender o pagamento de professores indígenas.
Mamed também afirma que construiu a estrada a pedido dos moradores da área, que fizeram um abaixo-assinado. "A estrada foi feita com recursos do Governo do Estado, a pedido dos moradores. Temos documentos provando isso", observa. E afirma que o financiamento agrícola não é feito via prefeitura, mas por bancos oficiais.
O prefeito diz que foi comunicado oficialmente pela Funai do processo de demarcação da área, mas afirma que não existem índios no local. "Não tem nenhuma maloca por lá", diz, afirmando que como filho do interior sempre busca a paz.
Afirmando que vai tomar providências, o prefeito acusa o índio Ralily de instigar os moradores da região. Ele diz que está preocupado com a possibilidade de conflitos na área.
PIB:Tapajós/Madeira
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