Dançarinos do ar

CB, Cidades, p. 34 - 24/05/2006
Dançarinos do ar
A visita de um beija-flor sempre encanta. O Distrito Federal abriga 26 espécies, entre as quais uma das menores do Brasil

A admiração pelo belo pássaro de vôo rápido que tem bico fino e longo para sugar o néctar das flores já foi descrita por Guimarães Rosa e cantada em versos. Não é difícil encontrar quem se encante pelo beija-flor e deixe escapar uma exclamação qualquer ao vê-lo pairar delicadamente no ar, diante de uma flor. O cerrado do Distrito Federal abriga várias espécies. Das 78 que existem no país, 26 sobrevoam o amplo céu do Planalto Central, inclusive o Heliactin bilophus, um dos menores beija-flores brasileiros. Tem 11cm do bico à extremidade da calda, pesa duas gramas ou menos e é uma espécie que só existe no cerrado do Brasil-Central, em áreas de vegetação preservada.

A sua sobrevivência depende da conservação da natureza. Em Brasília, o pequenino pássaro, que popularmente é chamado de chifre-de-ouro, já foi visto na Estação Ecológica de Águas Emendadas, Jardim Botânico e Fazenda Água Limpa da Universidade de Brasília (UnB). Chifre-de-ouro por ter um topete azul e vermelho, em tons metálicos. De tão ligeiro que é, não deixa seus admiradores notarem toda a sua beleza, como o colorido reluzente da sua plumagem. Dependendo da incidência da luz, o verde, lilás ou azul adquire um surpreendente brilho.

Para admirar tantas nuances de beleza, é preciso paciência. "E um binóculo", sugere o ecólogo Miguel Marini, do Departamento de Zoologia da UnB. O beija-flor é rápido demais. A cada segundo é capaz de bater as asas 80 vezes. Algumas espécies conseguem atingir a velocidade de 74km/h. Nicolaus von Behr, um paisagista apaixonado pelas plantas e aves do cerrado, dá uma dica para o brasiliense ter o privilégio da visita dos beija-flores. "A grevilha-anã (Grevilea banksii) é a que mais atrai o beija-flor", conta.

A planta é um arbusto de médio porte, nativo da Austrália, e que atinge até 5m de altura. A muda nos viveiros custa de R$ 8 a R$ 12. Mas não é a única a atrair o pássaro. A russélia e a ipomea rubra são opções para o jardim das casas. As flores brancas das laranjeiras e dos ingazeiros também são muito procuradas. O beija-flor é um voraz devorador de néctar. Num único dia, é capaz de visitar até 1,5 mil flores. "É só ter o olhar rápido para admirar esses beijas-flores fugazes que estão sempre aí, alegrando a nossa vida", encanta-se o paisagista.

Essas espécies de plantas são uma solução melhor que os bebedouros de plástico, instalados em árvores e nas varandas das casas. Se não forem limpos com freqüência, surgem fungos que podem provocar doenças nos beija-flores. São recomendados de quatro a seis partes de água para uma de açúcar. Concentração mais alta e mel provocam fermentação no líquido e provocam micose na língua do beija-flor, podendo levá-lo à morte.

Das 26 espécies que vivem na região do Distrito Federal, 13 ocorrem em áreas urbanas, em vegetações alteradas, como o Parque da Cidade e jardins das superquadras. O beija-flor-orelha-violeta (Colibri serrirostris) e o beija-flor-tesoura (Eupetomena macroura) são espécies comuns na cidade. "Infelizmente, os beija-flores são poucos estudados no Brasil. Sabe-se, por exemplo, que das 26 espécies do DF, sete são migratórias", explica o ecólogo Miguel Marini.

A devastação do cerrado ao redor da capital é uma séria ameaça às espécies não urbanas, como os besourinhos. "Esses beija-flores são encontrados nas matas próximas à Fercal, em Sobradinho, mas vão desaparecer do cerrado do Distrito Federal se não houver proteção da vegetação dali. Não há nenhuma reserva naquela região", observa Paulo de Tarso Zuquim Antas, biólogo especialista em aves.

2,5% do peso
Do corpo de um beija-flor deve-se ao seu coração, grande demais em relação a outras espécies

30 vezes
O peso do seu corpo é o que alguns beija-flores conseguem consumir diariamente, em razão do enorme gasto de energia

Típicos das Américas

Os beija-flores só ocorrem nas três Américas, num total de 320 espécies. A maior concentração é nos Andes, na região do Equador e da Colômbia. Vivem de 5 a 8 anos. Fazem ninhos caprichados, usando paina, teias de aranha, raízes, fibras e até crina. Líquens e detritos vegetais são colocados na área externa para dificultar a visão dos predadores, como cobras e lagartixas A fêmea põe dois ovos (do tamanho de um grão de feijão branco) e os filhotes deixam o ninho em três semanas. Até 1967, quando foi proibido o comércio de animais silvestres no Brasil, os beija-flores eram a principal matéria para a confecção de flores artificiais com penas. Atualmente, uma ameaça aos beija-flores são os inseticidas usados em plantações de abacaxis, bastante visitadas por eles. Uma curiosidade desses pássaros é a capacidade de voar para frente e para trás, para os lados, para cima e para baixo, além de poder parar no ar, como um helicóptero. São capazes de fazer acrobacias, como ficar de costas para baixo. Outra particularidade é a capacidade de hibernar. Pouquíssimas aves têm essa característica. Caem em sono letárgico durante o frio. A temperatura corporal que de dia, com o calor, é de 40o a 42o, iguala-se à do ambiente, à noite. Além do néctar das flores, eles se alimentam de insetos, inclusive vetores de doenças tropicais como a febre amarela, a malária e a leishmaniose.


CB, 24/05/2006, Cidades, p.34
Cerrado

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