CB, Cidades, p. 23 - 24/08/2007
Fora de controle
Três dias de chamas na vegetação de cerrado da maior reserva florestal urbana do DF consumiram 3 mil hectares de área verde. A situação levou o governador Arruda a declarar estado de emergência
Pablo Rebello
Da equipe do Correio
As chamas que consomem a floresta do Parque Nacional de Brasília desde o meio-dia da terça-feira fugiram de controle na tarde de ontem. Os ventos fortes e o calor reavivaram o fogo em pontos onde o Corpo de Bombeiros tinha eliminado a ameaça e agravou o problema em outros locais. Dos nove focos onde atuaram os 240 homens da corporação e os 50 brigadistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), cinco foram classificados como "críticos" . Um dos mais graves, ao lado da barragem Santa Maria, começou sem explicações em um ponto que não estava no caminho das labaredas. Como resultado da queimada, 50% dos 30 mil hectares da reserva ecológica encontram-se comprometidos.
A informação do Ibama era de que até 18h30 mais de 3 mil hectares -10% do Parque - tinham virado cinzas. A situação levou o governador José Roberto Arruda a declarar estado de calamidade pública. A medida permite ao Governo do Distrito Federal convocar pessoal ou adquirir equipamentos sem licitação, além de poder reivindicar junto ao governo federal recursos para combater o incêndio. A escala dos bombeiros, que trabalham 24 horas e têm 72 horas de folga, sofreu alterações. "Fizemos uma escala de emergência de 24h por 24h", reforçou Arruda.
Socorro de Minas
O governador pediu que o máximo de homens comparecessem ao parque para colaborar no combate ao incêndio durante a noite.
A expectativa do Comando Geral do Corpo de Bombeiros era de que 400 combatentes se apresentassem ontem. Para hoje, são esperados mil homens. Além disso, o governador passou para o Corpo de Bombeiros o comando de mais cinco helicópteros. As aeronaves facilitam o transporte das guarnições dos bombeiros para as áreas críticas, que não podem ser alcançadas por automóveis devido ao difícil acesso à região.
Um dos helicópteros, inclusive, será usado para despejar água sobre as chamas. O governo ainda negocia junto ao Ibama e o Ministério do Meio Ambiente o empréstimo de dois aviões de combate ao fogo que se encontram em Minas Gerais.
A expectativa dos bombeiros no final da tarde de ontem era de controlar a situação durante a noite, quando a temperatura mais amena e a maior umidade colaboram com o trabalho de apagar o incêndio. "Mas se o vento não der trégua, podemos ter problemas", disse o Comandante-Geral do Corpo de Bombeiros, coronel Anício Barbosa. A previsão do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) para hoje é de outro dia quente e seco. A umidade do ar deve variar entre 60% e 20%; a temperatura terá máxima de 29oC e mínima de 14oC. O Inmet não tem previsão de chuva para os próximos 15 dias.
Animais mortos
Para enfrentar o incêndio, os bombeiros dividem-se em guarnições de cinco a sete homens.
Eles utilizam abafadores e bombas costais, que levam de 20 a 40 litros de água. Fora a vegetação, os animais que habitam o parque também têm sido duramente castigados pelas chamas. Funcionários do Ibama identificaram entre as carcaças carbonizadas antas, tatus e até um tamanduá bandeira. No entanto, eles ainda não têm dados de quantos bichos foram mortos. Um inventário da fauna afetada será feito depois que a ameaça das chamas for completamente eliminada.
Dois homens que teriam provocado o incêndio florestal que castiga o Parque Nacional de Brasília prestaram depoimento ontem na 2ª DP (Asa Norte). Os dois trabalham como caseiros em um chácara ao lado da Granja do Torto. A dupla teria iniciado o desastre ecológico ao queimarem lixo ou vegetação do terreno onde prestam serviço. Ainda não foi realizada a perícia da área onde o fogo teria começado.
No depoimento prestado na 2ª DP, os caseiros negaram participação no crime. "Eles disseram que estavam alimentando galinhas da chácara quando ouviram o barulho do fogo próximo à porteira. Também afirmaram que combateram o foco inicial com uma enxada e água", contou o delegado-chefe da 2ª DP, Antônio José Romeiro. Eles foram soltos no começo da noite. A polícia trabalha com a hipótese de incêndio culposo (sem intenção), cuja pena varia de seis meses a três anos de reclusão.
Memória
2006
Um incêndio de grandes proporções queimou uma área de 80 hectares do Parque Nacional de Brasília no dia 18 de junho. O Corpo de Bombeiros levou mais de quatro horas para controlar as chamas. O fogo começou por volta das 14h às margens da BR-001, próximo da entrada do Lago Oeste, e pode ter sido provocado por moradores.
2005
Em setembro, três dias de chamas destruíram 60% da reserva ecológica do Jardim Botânico de Brasília. No total, 3.140 hectares de cerrado e 30 hectares de mata ciliar viraram cinzas. O Jardim Botânico ainda deve levar oito anos para recuperar a mata perdida. As chamas também causaram estragos em duas reservas naturais próximas. Uma pertence ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estática (IBGE) e outra pertence à Universidade de Brasília (UnB).
2004
Em agosto, metade da Chapada Imperial, reserva ambiental próxima de Brazlândia, ardeu em chamas por dois dias. Milhares de espécies de animais que viviam nos 4,8 mil hectares da reserva morreram. O incêndio devastou 2,4 mil hectares da maior área particular preservada do DF. A vegetação rasteira e árvores nativas do cerrado foram as mais afetadas pela queimada.
1998
Em setembro, o maior incêndio florestal da história do DF ocorreu no Parque Nacional de Brasília. O fogo deixou em cinzas uma área de 86,3 quilômetros quadrados durante três dias de queimadas.
Um terço da reserva ambiental,ou 10 mil hectares, foi destruído. Após as chamas terem sido apagadas, focos incandescentes que resistiram à ação dos bombeiros voltaram a queimar. Foram precisos mais seis dias de combate ao fogo para eliminar a ameaça.
CB, 24/08/2007, Cidades, p. 23
UC:Parque
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