O Globo, Rio, p. 19 - 01/10/2009
Após a perereca, um peixinho no caminho do PAC
Espécie rara só é achada em reserva de Seropédica e pode causar novo atraso nas obras do Arco Metropolitano
A construção do Arco Metropolitano, em Seropédica, considerada uma das maiores obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) no Rio, poderá sofrer atraso depois da nova descoberta de biólogos, que identificaram no local uma espécie rara de peixe, o Notholebias minimus. A informação foi dada ontem pelo site G-1. Na semana passada, as obras já haviam sido interrompidas depois da localização de uma espécie de perereca ameaçada de extinção.
Segundo o biólogo Sérgio Potsch de Carvalho e Silva, responsável pelo laboratório de répteis e anfíbios da UFRJ, o peixinho - assim como a perereca Physalaemus soaresi -, também é praticamente uma exclusividade do brejo da Floresta Nacional Mário Xavier.
Parte dos 77 quilômetros do arco ocupa 1,6% (cerca de 80 mil metros quadrados) da floresta.
-A perereca foi descoberta na década de 60. Pesquisas mostram que ela não existe em nenhuma outra área a não ser naquela reserva específica. Com o peixinho acontece o mesmo. A mata em si não tem grande importância científica, mas tem um significado imenso como habitat dessas espécies - explicou Potsch.
A Physalaemus soaresi - que foi apelidada de Norminha, em referência à personagem de Dira Paes na última novela das oito - mede apenas dois centímetros e estaria em fase de reprodução, conhecida como "canto nupcial".
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, anunciou na semana passada que a solução para não interromper as obras do PAC seria a instalação de placas de ferro separando o canteiro de obras do habitat da perereca. Técnicos da Secretaria estadual de Obras, do Ibama e do Instituto Chico Mendes estão discutindo o assunto para preservar a Physalaemus soaresi e dar continuidade às obras do Arco Metropolitano.
O biólogo Potsch acredita que a construção do muro de metal cercando o brejo, com tubulações servindo de "bichoduto", proposto pelo governo para salvar as pererecas, é uma medida paliativa.
Ele disse não saber que tipo de interferência a cerca pode representar para os animais.
- Trata-se de uma espécie que tem uma audição muito sensível. Já imaginou a barulheira que faz os carros passando na estrada sobre a tubulação? - perguntou o biólogo.
O Globo, 01/10/2009, Rio, p. 19
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