O município de Boa Nova, no sudoeste da Bahia, concentra boa parte das espécies de aves catalogadas no estado. Por causa da grande biodiversidade foram instituídas duas unidades nacionais de conservação, que preveem o uso racional dos recursos naturais. Na prática, muita coisa ainda precisa ser feita.
A transição entre florestas úmidas e a vegetação seca da caatinga fazem de Boa Nova, no interior da Bahia, um dos municípios com a maior biodiversidade do estado. É possível encontrar uma extensa faixa de mata de cipó, refúgio para a maioria das 400 espécies de aves registradas no município. Esse número, representa metade de todas as espécies catalogadas na Bahia. Gravatazeiro, por exemplo, só é encontrado lá. O pássaro franzino de olhos vermelhos e canto inconfundível tornou-se símbolo de preservação ambiental no município.
Cerca de 14 espécies de aves encontradas nas áreas das unidades de conservação estão ameaçadas de desaparecer. O biólogo Edson Ribeiro trabalha em uma ONG de preservação ambiental em Boa Nova. Ele é um dos maiores incentivadores da proteção da biodiversidade no município. "O gravatazeiro não aparece em área aberta, é um pássaro de ambiente florestal, então ele precisa de uma mata que esteja em bom estado de conservação para reproduzir e conseguir alimento", contou.
No ano passado, o Governo Federal criou através de decretos duas unidades de conservação em Boa Nova: o Parque Nacional de Boa Nova, com 12 mil hectares, onde fica proibido qualquer atividade de extração ou de uso do solo, e o Refúgio da Vida Silvestre, com 15 mil hectares, uma área que envolve o Parque Nacional a fim de minimizar os efeitos das atividades humanas sobre a reserva protegida. No entanto, o Conselho Municipal de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Boa Nova reclama que a implantação das unidades de conservação ainda não saiu do papel.
O parque ainda não possui um grupo gestor e não há quem fiscalize o cumprimento da legislação ambiental. "A gente está aguardando ansiosos para que não fique só no papel, não só pela questão de grande importância de preservação do meio ambiente, mas também pela questão de vir o ecoturismo para Boa Nova e gerar fonte de emprego", explicou Silvia Helena Quirino, presidente do Conselho de Meio Ambiente de Boa Nova.
Um dos métodos de preservação que devem ser adotados nas unidades de conservação é a utilização racional dos recursos naturais. Pés de cacau são plantados no meio da floresta, onde é possível encontrar árvores centenárias com mais de 20 metros de altura. "Não só o sombreamento é bom, como os animais, a polinização de insetos que trabalham aqui, as próprias nascentes também", disse o agricultor Manoel Barreto.
Um exemplo claro de que preservação do meio ambiente e produção agrícola de qualidade andam juntas é a lavoura orgânica. Ela produz bem durante todo o ano, bem ao lado de uma área de mata preservada. O dono da propriedade, Manoel de Souza, exibe uma raiz de mandioca com mais de 20 quilos. O agricultor se orgulha da plantação que concentra grande variedade de culturas em um pequeno espaço de terra: cana, couve, café, alface, banana. A diversidade no plantio é uma das técnicas utilizadas por ele para manter a lavoura livre das pragas. "Se você planta um só, o inseto vem e elimina. Quando você diversifica, ele escolhe um e algumas vezes até desiste e não ataca".
A fartura de água na propriedade é o que garante a boa produção agrícola em qualquer estação do ano. Manoel faz questão de frisar, toda a água só está por lá, graças à reserva natural da Mata Atlântica próxima a lavoura. "Se você desmatar, aí ela seca", comentou demonstrando consciência ambiental.
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