Novo método de elaboração de plano de manejo otimiza uso de recursos financeiros do ICMBio

ICMBio - www.icmbio.gov.br - 08/06/2009
O dito popular de que em casa de ferreiro o espeto é de pau está com os dias contados no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). As equipes de analistas ambientais do Instituto na Estação Ecológica (Esec) Terra do Meio e no Parque Nacional (Parna) Serra do Pardo decidiram mostrar que servidores da casa podem realizar expedições científicas, descobrir novas espécies, mapear a diversidade dos seres vivos de uma região e elaborar um plano de manejo objetivo para gestão das unidades de conservação.

Com uma nova proposta metodológica de elaboração de plano de manejo, em que buscaram valorizar o potencial acadêmico dos servidores do ICMBio, as equipes que administram as duas unidades de forma integrada enfrentaram o desafio de rastrear e de inventariar a biodiversidade e os recursos naturais na estação ecológica e no parque nacional.

O resultado foi a descoberta de uma riqueza imensa com registros inéditos de animais ameaçados de extinção e a observação de um lagarto não identificado do gênero Tropidurus, conhecido entre os pesquisadores por ter um alto índice de endemismo, o que indica a possibilidade de se tratar de uma nova espécie. A confirmação dessa hipótese vai depender da realização de novos estudos. Os relatórios finais dos levantamentos deverão ser divulgados em agosto deste ano e a conclusão do plano de manejo está prevista para o início do ano que vem.

Embora com a participação de pesquisadores de instituições parceiras, como universidades e institutos de pesquisa, a IV Expedição nas Unidades de Conservação de Proteção Integral da Terra do Meio foi realizada basicamente com especialistas de centros de pesquisa do próprio ICMBio para coleta de dados que irão subsidiar a elaboração do plano de manejo. "Reduzimos gastos e focamos o trabalho em um plano de manejo objetivo, que deverá fornecer informações básicas sobre as duas unidades e servir de base para a definição de ações prioritárias de pesquisa, manejo e gestão", afirma o chefe do Parna Serra do Pardo, Leonardo Brasil.

Segundo ele, até agora, as duas unidades investiram R$ 300 mil nas quatro expedições e a estimativa é de que, ao final do trabalho, depois da quinta e última expedição, esse valor aumente para R$ 500 mil. "Para termos um parâmetro de comparação, as duas unidades juntas têm aproximadamente 3,8 milhões de hectares. Há pouco tempo um consultor externo cobrou R$ 600 mil mais o apoio de logística para trabalhar o plano de manejo de uma das unidades da Região Norte que tem apenas 101 mil hectares", afirma Brasil.

Além da participação de analistas ambientais da Esec Terra do Meio, do Parna Serra do Pardo e da Reserva Extrativista (Resex) Tapajós Arapiuns, pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação das Aves Silvestres (Cemave), do Centro de Proteção de Primatas Brasileiros (CPB), do Centro Nacional de Pesquisa para Conservação dos Predadores Naturais (Cenap) e da Universidade Federal do Amapá (Unifap) também integraram a quarta expedição.

Além de valorizar o potencial acadêmico dos servidores do ICMBio, as equipes usaram uma metodologia diferente para elaborar os planos de manejo: em vez de realizar estudos exaustivos, que geram relatórios gigantescos, mas pouco aplicáveis para a gestão da unidade, os estudos foram elaborados com o objetivo de produzir relatórios com informações básicas, de forma que possam subsidiar a definição de linhas de pesquisa que devam ser incentivadas no futuro e as ações prioritárias para a gestão das unidades.

As quatro expedições do plano de manejo foram realizadas em parceria com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), a WWF-Brasil e a Unifap. A quarta expedição ocorreu entre os dias 6 e 17 de maio, período em que os pesquisadores percorreram diversos pontos do parque nacional e da estação ecológica em busca de informações sobre fauna e flora amazônicas. Para isso, foi montada uma grande operação de logística, que contou com a utilização da Base Operacional de Proteção e Pesquisa do Parque Nacional, equipe de apoio, segurança e vários tipos de embarcação, como duas voadeiras grandes e uma pequena, caminhonete e helicóptero.

Eles localizaram várias espécies de aves, mamíferos, répteis e anfíbios, das quais algumas listadas no Livro Vermelho do Ministério do Meio Ambiente como animais ameaçados de extinção. Registraram a presença de onças pintadas, macacos-aranha-de-cara-branca, zogues-zogues (uma espécie de macaco noturno), urubus rei, gaviões reais, araras azuis, cachorros-do-mato-vinagre, ariranhas, antas e, pela primeira vez, um registro de guaxinim na região da Terra do Meio. "O guaxinim é uma espécie comum em outras regiões, mas nunca havia sido registrado nas unidades de conservação da Terra do Meio, o que é um dado ecológico interessante", informa o chefe do parque nacional.

O botânico da Unifap observou espécies da flora que não haviam sido registradas nos levantamentos anteriores. Identificou, preliminarmente, mais de 50 espécies de plantas e classificou tipos fitofisionômicos (flora característica da região), além de áreas de transição entre florestas (ecótonos). Todos considerados importantes para construção do plano de manejo.

De acordo com Leonardo Brasil, apesar de estar prevista, ainda sem dada marcada, uma última expedição no período da seca para levantamento da sazonalidade dos dados já coletados, as informações existentes permitem uma previsão dos tipos de pesquisas que poderão ser desenvolvidos na unidade.

Nas quatro expedições, os pesquisadores focaram o trabalho no levantamento de dados bióticos e físicos, tais como informações sobre fauna, flora, qualidade da água, pressão da pesca, e socioeconômicos, como ocupação da área, populações no interior e no entorno da unidade, formas de uso dos recursos naturais, pressão sobre as unidades, dentre outras.
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