Apesar do verde, regeneração completa da Chapada pode levar até uma década

Correio Braziliense - http://www.correiobraziliense.com.br/ - 26/11/2017
Apesar do verde, regeneração completa da Chapada pode levar até uma década
A vegetação de campo, rasteira, é que se recupera com mais rapidez, mas a vegetação mais sensível, das veredas e das matas de galeria demoram mais


Nem tudo são flores e fartura. Os incêndios de outubro têm consequências graves. Tanto que ainda não é possível precisar o tamanho do estrago na biodiversidade do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. O certo é que muitos animais e plantas morreram. Espécies podem ter sido extintas na unidade de conservação. O levantamento dos prejuízos começou, mas pode demorar meses ou anos para ser concluído. A regeneração completa da flora pode levar até uma década.

A vegetação de campo, rasteira, é que se recupera com mais rapidez. A vegetação mais sensível é a das veredas e das matas de galeria, onde nascem e passam os córregos, ribeirões e rios. A recuperação dessas áreas depende das chuvas e de novas sementes. "A nossa preocupação maior é com os solos de turfa: são locais com muita matéria orgânica, como as raízes das plantas e micro-organismos e com muita capacidade de armazenar água, inclusive na seca. A gente diz que é a caixa d'água da Chapada. Vimos fumaça desses locais até oito dias depois do fim do fogo", conta o diretor da reserva, Fernando Tatagiba.

O parque é a maior unidade de conservação de cerrado do mundo. Considerado Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), abriga três aquíferos: o Guarani, o Urucuia e o Bambuí. No cerrado ficam as nascentes de seis das oito bacias hidrográficas brasileiras: Araguaia, Tocantins, Atlântico Norte, Nordeste, Bacia do Parnaíba, São Francisco, Atlântico Leste, Bacia do Rio Paraná. O parque da Chapada tem centenas de nascentes, cursos d'água e rochas com mais de um bilhão de anos. Ele abriga espécies ameaçadas de extinção ou endêmicas (que só existem no local), como o cervo-do-Pantanal, lobo-guará, pato-mergulhão e a onça-pintada, maior mamífero carnívoro da América do Sul.


Menos dinheiro

Em 2016, mais de 60 mil turistas visitaram o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros para conhecer suas belezas. O comércio na região movimentou mais de R$ 70 milhões. Mas os números devem ficar aquém em 2017, por causa dos incêndios. Pousadas tiveram 80% menos hóspedes nos fins de semana de outubro e nos três mais recentes feriados prolongados- Nossa Senhora Aparecida (12 de outubro), Finados (2 de novembro) e Proclamação da República (15).

O empresário Fernando Couto ressalta que as perdas do turismo refletem em toda a região da Chapada dos Veadeiros, em especial em Alto Paraíso. O setor responde por 80% do Produto Interno Bruto (PIB) do município de pouco mais de 7 mil habitantes, que depende do repasse anual de R$ 20 milhões do Governo Federal para se manter. "Com 250 mil visitantes por ano, o turismo emprega 1,5 mil pessoas diretamente e rende R$ 100 milhões para Alto Paraíso, cinco vezes mais do que o repasse federal", destaca Couto, ex-secretário de Turismo do município e dono de um restaurante no centro de Alto Paraíso e da Cachoeira dos Cristais, complexo com sete quedas d'água, restaurante, bar, espaço para festa e área para campismo. "Só eu emprego 51 pessoas", completa.

Couto diz que, no feriado de Finados de 2016, a maioria das 80 pousadas, dos 15 campings e 13 hostels de Alto Paraíso registrou 100% de ocupação. "Este ano, por causa do incêndio, teve estabelecimento que não recebeu hóspede", conta. No bar do Vale da Lua, toda a bebida comprada para atender os visitantes de Finados serviu para a demanda daquele feriado e de todos os dias seguintes, até ontem, segundo Robson Noberto da Silva, um dos responsáveis pela propriedade. "A gente teve uma queda de 70% em Finados e na Proclamação da República. Agora, apostamos no réveillon", observa ele. A atração, que cobra R$ 20 pelo acesso, costuma receber até 300 pessoas em um dia de feriado ou fim de semana.


Visitação

O Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros abre de terça-feira a domingo. Em janeiro e julho, fica aberto todos os dias, por se tratar de férias escolares. Os visitantes têm das 8h às 12h para entrar na reserva, e devem sair até as 18h. A entrada é gratuita e não há obrigatoriedade da companhia de um guia.
A visitação é limitada de acordo com a capacidade das trilhas. A Trilha dos Saltos pode receber até 250 visitantes por dia. A Trilha dos Cânions, 200. Já para a Trilha da Seriema, são permitidas só 30 pessoas por dia. Na Travessia das Sete Quedas são liberados até 20 visitantes acampados durante a noite.


Memória

Fogo após ampliação

O maior incêndio do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros começou em 17 de outubro e terminou em 2 de novembro. Ele queimou 66 mil hectares, o equivalente a 28% da área total da unidade de conservação, que ocupa 240 mil hectares. Mas o estrago foi bem maior. Somados os outros quatro incêndios iniciados e apagados desde 10 de outubro, foram queimados cerca de 75 mil hectares. Em todo o ano, o fogo consumiu 82 mil hectares, mais do que toda a área antiga da reserva, que era 65 mil. O tamanho foi ampliado por meio de portaria assinada pelo presidente da República, Michel Temer, em julho. O balanço, no entanto, não leva em conta a área queimada fora do Parque Nacional. Fazendas e reservas particulares também sofreram com uma série de incêndios, em outubro. O Vale da Lua, um dos mais famosos atrativos turísticos da região, foi o mais atingido. O fogo chegou a uma pousada vizinha, onde queimou um bangalô.



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