Quilombolas são treinados para combater incêndios usando o próprio fogo, em Cavalcante

G1 g1.globo.com - 17/08/2017
Um grupo de moradores da Comunidade Kalunga foi treinado para combater incêndios usando o próprio fogo como aliado, em Cavalcante, na região nordeste de Goiás. Os quilombolas fizeram um curso de brigadistas para aprender a fazer o manejo do fogo, queimando áreas de pastagem secas e evitando que o fogo chegue às matas.

De acordo com o líder quilombola Cirilo dos Santos Rosa, a técnica já era usada há 300 anos e agora foi regatada por um projeto do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). "O fogo não queimava o mato dos brejos, das nascentes. Era queimada controlada", disse.

O Projeto PrevFogo, do Ibama, capacitou 50 quilombolas como brigadistas na região da Chapada dos Veadeiros, uma das maiores áreas preservadas do país. Eles atuam desde o ano passado na prevenção e recebem um salário mínimo para fazer o trabalho. Segundo Gabriel Constantino, chefe da iniciativa, depois do início do projeto, os focos de incêndio caíram pela metade na região.

De acordo com ele, em 2016 foram 19 focos de incêndio na região, enquanto a média, antes do projeto, era de 70.

"Em alguns locais conseguimos 50% de redução dos incêndios florestais. Tivemos algumas áreas que praticamente conseguimos encerrar o problema de incêndios florestais com o manejo do fogo. É um trabalho que dá muitos resultados positivos", comemorou.

O quilombola Damião Moreira dos Santos é um dos brigadistas do projeto e disse que a iniciativa uniu o conhecimento popular com o científico, a fim de proteger o cerrado. "Aprendemos sobre tipo de fogo, como combater, horários mais complicados, velocidade de vento", revelou.

Técnica

Entre os meses de julho a outubro o cerrado está bastante seco. A baixa umidade e o vento forte potencializam o fogo. Diante disto, a comunidade está resgatando a técnica que surgiu com os escravos. Para tentar de evitar a propagação de grandes incêndios, eles queimavam tudo o que restava das lavouras, de dois em dois anos, sempre no final do período chuvoso.

As áreas são queimadas antes do mato ficar totalmente seco, e cria barreiras de proteção para as matas e nascentes, protegendo a vegetação e a fauna do local. Para o coordenador Augusto Avelino, a situação mostra que o fogo pode ser um aliado do ecossistema.

"Isso mostra que o fogo é um agente benéfico ao cerrado, mas tem que saber usá-lo", alertou.




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