Sumaúma Vovó é "celebridade" da Amazônia

O ECO Amazônia - www.oecoamazonia.com/br - 20/08/2010
Maguari (Tapajós) - Eram nove horas da manhã quando Seu Walter nos aguardava nas margens do igarapé de águas transparentes da vila ribeirinha de Maguari. "Todo dia, eu ou um dos outros dois rapazes que trabalham de guia levamos turista para visitar essa árvore, batizada de Vovó. E é gente do mundo todo", veio logo contando o simpático e comunicativo, Seu Walter.

A Sumaúma, também chamada de Samaúma ou Sumaumeira, é uma árvore muito especial, sobretudo, pelo fato de ser considerada a maior de toda a região amazônica. Há lendas e muitas histórias sobre essa gigante por vários cantos do Brasil. No entanto, o apelido e a fama dessa específica Sumaúma de Maguari se devem a sua idade, estimada entre 900 e mil anos. Uma verdadeira anciã da floresta.

Maguari fica dentro da Floresta Nacional do Tapajós, FLONA no jargão ambiental, e é uma unidade de conservação federal de aproximadamente 600 mil hectares. Criada em plenos anos de chumbo pelo General Médici, foi a primeira floresta nacional da Amazônia e como tal, a pioneira em enfrentar o desafio de unir conservação ambiental com a presença de atividades econômicas de comunidades tradicionais que lá habitavam.

Para chegar até a vila saindo de Santarém, é preciso rodar cerca de 60 quilômetros entre asfalto e chão de terra esburacado, dirigindo pela PA- 457 em direção à Alter do Chão e depois pela BR-163. A polêmica rodovia federal que liga Santarém a Cuiabá (MT) faz limite com a FLONA e trouxe desmatamento ilegal e especulação fundiária à região. Muitas fazendas de soja se alastraram por lá, como verificamos no caminho, e expulsaram antigos moradores. Atraídos pelo dinheiro, muitos acabam vendendo suas terras e migrando para centros urbanos, como Santarém, onde descobrem que os "Reais" não eram tantos assim. E a dura realidade se revela em desemprego, moradias precárias e violência. Em apenas cinco anos, segundo a Polícia Civil do Pará, a criminalidade aumentou em 135% em Santarém.

História feliz

Fugindo dessa trajetória, a comunidade de Maguari e sua árvore milenar têm uma história bem mais feliz para narrar. Por estarem dentro da Floresta Nacional, conseguiram se proteger da mordida do agronegócio e ao mesmo tempo se beneficiar de projetos de organizações não governamentais e do governo. Assim, tornaram-se uma comunidade ribeirinha modelo, visitada até pelo herdeiro do trono britânico. O Príncipe Charles esteve lá em 2009, dançou Carimbó e ficou tão maravilhado que resolveu doar dinheiro para a comunidade comprar painéis fotovoltaicos para gerar energia solar.

Na vila há acesso à internet por meio de um telecentro comunitário do projeto da ONG Saúde e Alegria. Com os computadores, a população fica antenada com o que acontece no globo e produz notícias do mundo de lá em seu próprio blog (http://maguari.redemocoronga.org.br/). A comunidade também está envolvida em um projeto de fabricação de couro ecológico, produzido a partir da extração do látex da seringueira, ainda bastante vasta na região devido ao que restou do ciclo da borracha. São confeccionados sapatos, bolsas, chaveiros e outras peças de artesanato, que são vendidos na lojinha local e também em iniciativas voltadas para o apoio ao comércio justo.

Rumo à Vovó

A caminhada é feita como uma visita guiada a um museu. A cada momento parávamos em frente a uma "obra-de-arte" e ouvíamos as explicações do guia, que aprendeu a andar na floresta ainda menino pequeno com o pai. Copaíba, Jatobá, Quina-Quina, cipó Apuí, palha Curuá, Breu Branco...é vasto o vocabulário da biodiversidade no caminho até a Vovó. Uma profunda aula de ecologia. A floresta de proporções imensas se agiganta sobre nós, encostando copa com copa no céu, deixando a luz entrar de forma suave na vegetação.

Após cerca de quatro horas de caminhada, lá estávamos nós diante dela. Hora de respirar e ficar alguns minutos em silêncio para observar com calma todos os detalhes da Vovó. É impressionante o emaranhado de cipós, trepadeiras e todo tipo de vida vegetal e animal que se abriga na anciã. Em volta dela, por magia amazônica, centenas de borboletas azuis voavam aproveitando a clareira de sol que se abria em baixo da Sumaúma. Como sua copa é rarefeita e muito alta, a uns 30 metros do chão, permite generosamente a entrada de luz. Conta-se, inclusive, que por isso algumas tribos indígenas gostam de cultivar milho e feijão ao seu redor.

A Sumaúma não é a maior árvore do mundo em comprimento, ficando bem abaixo das gigantes sequóias norte-americanas, mas em largura certamente pode entrar na disputa do título. Para abraçar a Vovó, por exemplo, é preciso reunir umas 20 pessoas de mãos dadas. Alguns exemplares ainda maiores do que ela chegam a necessitar de 30, 40 pessoas. Esse tronco prodigioso como uma muralha da China forma alas, chamadas de sapopemas, que se espalham horizontalmente parecendo braços que se alongam pela terra. Nelas repercute-se um som alto, possível de ser escutado a longas distâncias. Por isso, ela é chamada de "comunicadora" pelos povos da floresta.

Seu Walter conta também que a Sumaúma é a morada do Curupira, eleito o protetor das matas por vagar pela floresta confundindo e assombrando caçadores. Há registro de que essa é a lenda mais antiga do Brasil e seu primeiro relato foi feito em uma carta do Padre Anchieta datada de 1560. "Aqui há certos demônios, a que os índios chamam Curupira, que os atacam muitas vezes no mato", escreveu Anchieta à Corte Portuguesa.

Lendas e histórias que compõe uma espécie de mitologia etnobotânica sobre a Sumaúma nos aguçam a imaginação e aumentam a admiração por essa gigante amazônica. Mas, a Vovó do Tapajós foi além e ganhou a sua própria história como símbolo de uma floresta ameaçada: é uma árvore milenar que dá trabalho e renda para quem sabe viver na natureza sem destruí-la. Como nos versos de Olavo Bilac, em sua poesia "Velhas Árvores":
"Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores moças, mais amigas,
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...
O homem, a fera e o inseto, à sombra delas
Vivem, livres da fome e de fadigas:
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas. (...)"

Link vídeo: http://www.4shared.com/video/xsnddzYl/5_sumauma_vov_1_mpeg2video.html

http://www.oecoamazonia.com/br/reportagens/brasil/57-sumauma-vovo-e-celebridade-da-amazonia
Amazônia:Biodiversidade

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