Tirar do papel

O Globo, Opinião, p. 6 - 14/12/2006
Tirar do papel

Tão ampla é a área somada das sete novas unidades de conservação da Floresta Amazônica, no Pará, que a sua criação repercutiu intensa e muito favoravelmente não só entre ambientalistas como entre biólogos, e até no exterior. De fato, seria difícil encontrar resposta mais adequada aos que criticam a falta de uma política eficaz de combate ao desmatamento da Amazônia.

Entretanto, embora não haja motivo para duvidar da honestidade de propósitos da iniciativa, o que exigirá agora grande atenção são as medidas práticas de preservação dessa área gigantesca de mata, de 15 milhões de hectares divididos em sete unidades de conservação, no todo equivalentes ao território inteiro de países da Europa.

Se estabelecer por decreto proteção oficial fosse o suficiente para deter a ação das madeireiras ilegais, a grilagem, as queimadas, o avanço contínuo das fronteiras agrícola e da pecuária, então a Amazônia toda poderia ser posta a salvo de um dia para o outro.

Nem é suficiente que o governo do Pará e a Conservação Internacional, sua parceira nessa iniciativa, invistam recursos significativos e deixem perfeitamente claro seu propósito de assegurar que as áreas sejam preservadas. É necessário demonstrar também uma eficiência na proteção que o realismo obriga a considerar inédita no Brasil.

É bom sinal que tenham sido criadas ao mesmo tempo quatro florestas estaduais e uma área de proteção ambiental em que as atividades exploratórias serão permitidas, se conduzidas de maneira sustentável e sob supervisão do governo. A idéia irrealista de manter a floresta intocada é contraproducente: por não se conseguir afastar pecuaristas, produtores de soja ou outros, acaba-se por permitir que os desmatadores continuem atuando clandestinamente quase sem empecilhos.

Por falta de uma política racional de preservação, a Amazônia vem perdendo ano a ano uma área equivalente ao Estado de Sergipe.

O projeto que se torna realidade no Pará é, ainda que não a garantia, pelo menos a promessa de que esse processo de destruição passará a ser enfrentado ali com determinação e eficiência. Esperemos para ver como o que está escrito no papel será executado.

O Globo, 14/12/2006, Opinião, p. 6
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