Ambientalistas sofrem atentado
Tiros são disparados contra a casa de dois integrantes de ONG ecológica
Ana Paula Verly
Cinco dias depois da morte de Dionísio Júlio Ribeiro Filho do Grupo de Defesa da Natureza (GDN) , a 200 metros da Reserva Biológica do Tinguá, em Nova Iguaçu, tiros foram disparados contra as residências de outros dois ambientalistas e contra a sede do grupo, no Centro de Tinguá, entre a tarde e a noite de domingo. A Polícia Federal investiga a possível ligação entre os casos. Segundo testemunhas, homens armados em um carro preto fizeram quatro disparos em direção a casa de Paulo Malvino, durante à tarde, quando a sede do grupo também foi alvo de disparos. Por volta das 23h, ainda foram disparados cinco tiros contra a residência do fiscal do Ibama Márcio das Mercês.
Tive a impressão de que tinha sido alvejado. Foi horrível contou o ambientalista, acrescentando que passou o resto da noite com outros membros do GDN, que foram apoiá-lo.
Paulo e Márcio combatem os palmiteiros e caçadores que atuam na Reserva do Tinguá, causa pela qual Dionísio pode ter sido assassinado. De acordo com Márcio, as testemunhas ainda não prestaram depoimentos por temer represálias. Sabemos que há um grupo por trás disso. Esse quadro de terror espalhou medo na vizinhança explicou o ambientalista.
De acordo com o deputado Carlos Minc (PT), que esteve ontem em Nova Iguaçu com o delegado Marcelo Bertolucci, que investiga o caso, vizinhos apontaram um homem como autor dos disparos. A polícia não revela o nome do suspeito para não atrapalhar as investigações.
Para o delegado Roberto Cardoso, da 58ª DP (Posse), responsável pela prisão, na última sexta-feira, do caçador Leonardo de Carvalho Marques, que confessou ter matado Dionísio Júlio, o caso está esclarecido:
Ele confessou que agiu sozinho, por vingança. Não acredito na existência de outros envolvidos disse.
Na tarde de ontem, Márcio foi escoltado até a Delegacia da Polícia Federal de Nova Iguaçu, onde registrou queixa. Apesar das ameaças, ele não quis proteção policial.
Há muita política envolvida. Não é justo ter segurança individual quando toda a população vive na insegurança comentou o ambientalista, anunciando para quinta-feira o início de uma greve de fome.
A conservação da reserva depende de políticas públicas que garantam o sustento e a dignidade da comunidade. Minha luta é por isso defendeu, informando que ficará em uma gaiola, no Centro de Tinguá, até que suas reivindicações sejam atendidas.
O deputado estadual Alessandro Molon (PT) enviou ontem ofício ao secretário de Segurança Pública, Marcelo Itagiba, para reforçar o pedido feito em 24 de fevereiro de máximo empenho na garantia de vida aos 11 ambientalistas que sofreram ameças no Tinguá.
Uma missa em homenagem a Dionísio Júlio acontece hoje no Quartel Geral da Polícia Militar, às 14h, no Centro.
JB, 01/03/2005, p. A15
UC:Reserva Biológica
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