Angra 3 só poderá funcionar com depósito seguro de lixo radioativo

O Globo, Economia, p. 27 - 24/07/2008
Angra 3 só poderá funcionar com depósito seguro de lixo radioativo
Minc quer local longe da praia. Ibama dá licença prévia com 60 restrições

Mônica Tavares

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) só deixará que a usina nuclear Angra 3 - que recebeu licença prévia ontem, com 60 condicionantes - comece a operar quando estiver pronto um novo e mais seguro depósito de lixo radioativo, que servirá também às duas outras unidades já em funcionamento.
Isso significa que o novo local terá que estar acabado em 2014, data prevista para a entrada em operação da usina, segundo prevê o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc - que sempre foi contrário à obra - espera que a localização escolhida pela Eletronuclear seja isolada, e não "em frente à Ilha Grande".
- Não sou defensor de Angra 3. Mas o governo havia batido o martelo antes de eu virar ministro. Quando cheguei ao ministério, 57 dias atrás, o licenciamento estava praticamente concluído. Demos sequência, então - afirmou Minc.
A licença prévia é uma espécie de reconhecimento de que o projeto é viável e o primeiro passo para que ela possa ser construída.
Angra 1 e Angra 2 usam piscinas consideradas por Minc um "sistema precário". Ele reconheceu que não existe "solução definitiva" para os rejeitos das usinas nucleares, como reclamam os ambientalistas:
- Entre o ideal e o precário, há uma solução intermediária, segura, como fazem na Alemanha e na França, não é deixar em uma piscina a metros da praia.
A escolha do local de construção do depósito, afirmou o ministro, cabe ao empreendedor. O ministério e o Ibama vão avaliar a localização. Minc mandou ontem seu recado:
- Tem que ser uma localidade como essa que os países da Europa usam, ser uma mina isolada, completamente lacrada, que não seja em frente à Ilha Grande, uma das praias mais lindas...


Usina financiará R$ 50 milhões de saneamento
Está prevista ainda estrada-parque entre Paraty e Cunha

Além da obrigação de construir um depósito mais seguro de lixo radioativo, a Eletronuclear terá que cumprir outras 59 condicionantes para poder colocar a usina nuclear Angra 3 em funcionamento. A estatal, por exemplo, terá de assumir os custos de manutenção e custeio da Estação Ecológica de Tamoios e do Parque Nacional da Bocaina, entre os litorais Norte de São Paulo e Sul do Rio.
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que a exigência faz parte da política do governo de não conceder licença sem a adoção de parques. Minc antecipou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai anunciar, no fim de agosto, a construção da Estrada Parque Paraty-Cunha e de uma nova ligação entre Angra e Barra Mansa.
Minc: problemas geralmente relatados por funcionários
Angra 3 também terá que financiar até R$ 50 milhões do saneamento ambiental dos municípios de Angra dos Reis e de Paraty.
- Eu sempre fui crítico em relação aos riscos (de uma usina nuclear). Uma vez o governo tendo batido o martelo, cabe a nós (da área ambiental), conhecendo o risco, exigir condições que minimizem os riscos - disse Minc.
O ministro destacou a necessidade de monitoramento da usina por um organismo independente, que pode ser, por exemplo, ligado a uma empresa ou uma universidade, como a Coppe/UFRJ ou a USP.
Essa foi outra exigência feita pelo Ibama. Segundo Minc, nos últimos 15 anos, entre 60% e 70% dos problemas, como vazamentos de água, foram informados por funcionários da Eletronuclear individualmente, não pela empresa.
Minc adiantou ainda que a licença de instalação da usina hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Rondônia, sairá no próximo dia 30. Segundo ele, também será imposta uma série de condicionantes ao empreendedor. Uma delas será a manutenção do Parque Nacional de Mapinguari, criado em 5 de junho deste ano, localizado nos municípios de Canutama e Lábrea, no sul do Amazonas.
Para ambientalistas, restrições são insuficientes
Representantes do Greenpeace fizeram uma manifestação ontem em frente ao Ministério do Meio Ambiente, durante a entrevista coletiva de Carlos Minc e do presidente do Ibama, Roberto Messias. Segundo o representante da Campanha Energias Renováveis, Ricardo Baitelo, apesar das condicionantes impostas, não houve a solução definitiva para o lixo:
- O governo optou por ir diretamente para Angra 3 sem considerar as outras energias renováveis, como eólica (ventos) e solar. (Mônica Tavares)

O Globo, 24/07/2008, Economia, p. 27
Energia:Política Energética

Unidades de Conservação relacionadas

  • UC Serra da Bocaina
  • UC Tamoios (ESEC)
  • UC Mapinguari
  •  

    As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.