Analistas ambientais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que atuam na Área de Proteção Ambiental (APA) do Ibirapuitã, fronteira oeste do Rio Grande do Sul com o Uruguai, estão à frente de um trabalho que alia conscientização e educação para salvar a bacia hidrográfica do rio Carolina.
O projeto "Abrace o Carolina", executado em parceria com o Sindicato dos Professores do Rio Grande do Sul, visa a melhorar a auto-estima da população e fortalecer a participação social para minimizar danos ao meio ambiente decorrentes do desenvolvimento desenfreado. O objetivo é ampliar a cidadania e gerar resultados que beneficiarão a todos os que moram na região.
A bacia hidrográfica do Carolina, rio que dá nome ao projeto, inclui diversas nascentes e afluentes localizadas na área urbana do município de Santana do Livramento (RS). A equipe formada por técnicos da APA e pelo diretor do 23o Núcleo do CPERS/Livramento realizou levantamento fotográfico de pontos críticos dessa bacia para mostrar a dimensão dos problemas a serem enfrentados e contornados.
Cerca de 80% do território urbano de Santana do Livramento está situado na bacia hidrográfica do rio Carolina. Ele é um dos principais afluentes do rio Santa Maria, que hoje se encontra em situação crítica no que diz respeito à qualidade e quantidade de água. Entre os maiores problemas ambientais enfrentados na bacia estão a contaminação da água e do solo por esgoto, o que tem causado doenças de pele, gastroenterites e parasitoses em adultos e crianças, acúmulo de lixo no leito e nas margens e alagamento e contaminação das casas localizadas ao longo dos cursos d\'água, por estarem localizadas em Área de Preservação Permanente (APP).
Muitos dos espaços às margens do rio eram usados há algumas décadas como áreas de lazer e "balneários", além de local onde as lavadeiras lavavam as roupas de seus clientes. Com a contaminação da água, ocupações irregulares de APP e desmatamento das matas ciliares, as atividades cessaram e o número de espécies da biodiversidade aquática e vegetal local vem diminuindo.
Além de 80% da área urbana de Livramento localizar-se dentro da bacia do rio Carolina, os problemas surgiram pelo fato de menos de 1/3 do esgoto da área urbana de Santana do Livramento ser tratado. "O restante é direcionado \'in natura\' para os cursos hídricos. Na verdade o quadro é de exclusão social e omissão por parte dos governos, o que vem há décadas favorecendo a instalação de parte da população de baixa renda nas áreas de grande susceptibilidade ambiental, como APP de cursos hídricos, além do direcionamento de resíduos e efluentes sem tratamento para os cursos hídricos", explica a chefe da APA, Eridiane Lopes da Silva.
Segundo informações do Comitê de Gerenciamento da Bacia do Rio Santa Maria, caso o rio Carolina seja recuperado, pode voltar a representar papel importante no lazer da população do município.
De acordo com José Louis Sampaio, diretor do CPERS/Livramento, este rio tem uma importância histórica na ocupação da fronteira Brasil-Uruguai. O nome "Carolina" se deu em função da instalação, nesta Bacia Hidrográfica, do Batalhão Imperial Carolina, com cinco mil soldados, por ordem do Imperador D. Pedro I, o que originou o início de Santana do Livramento. A presença ostensiva dos soldados brasileiros forçou a instalação de um exército espanhol onde hoje existe a cidade de Rivera, no Uruguai.
Os analistas ambientais da APA explicam que, territorialmente, a área de ações diretas da proposta ultrapassa as fronteiras da unidade de conservação. Segundo eles, a participação ativa de moradores, empresas e instituições que atuam da região será essencial para o sucesso do "Abrace o Carolina".
O envolvimento da população já vem sendo trabalhado pela direção do CPERS e pelos técnicos da APA há algum tempo por meio de palestras e oficinas nas quais são discutidos com a comunidade os sérios problemas ambientais e de saúde pública surgidos ao longo dos anos na bacia e como estas comunidades podem ajudar na busca de solução para estes problemas. "Acreditamos que essas questões serão resolvidas quando a população tiver consciência de que a responsabilidade em resolvê-las é de todos", observam os técnicos. "Temos plena noção de que será um processo lento, que transcenderá os quatro anos iniciais de planejamento do projeto. Por isso, estabelecemos metas e o subdividimos em etapas", adiantam eles.
De acordo com os analistas ambientais, um passo importante, por exemplo, é promover a participação de instituições que atuam no município dentro dos mais diversos ramos, seja cultura, turismo, alimentação, segurança, saúde ou justiça. "O \'Abrace o Carolina\' exigirá o comprometimento de muitos parceiros. Temos metas a cumprir e, além de conscientizar estudantes e a comunidade em geral, vamos também capacitar jovens para a elaboração de projetos. Eles aprenderão a captar recursos governamentais e não-governamentais, que serão investidos em projetos para geração de emprego e renda, saúde, segurança e lazer", revelam.
Técnicos da APA encaminharam em abril deste ano uma carta-consulta ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, gerido pelo Ministério da Justiça, por meio da qual buscam financiamento para ações em 2010 tais como: capacitação de 160 professores e líderes locais no curso de "Gestão Ambiental e Cidadania", de 80 professores na oficina "Incluindo a Temática Ambiental Local no Currículo Escolar"; de 80 professores e líderes locais na oficina "Elaboração de Projetos & Captação de Recursos"; aquisição e montagem de um laboratório de análise básica da qualidade da água; montagem de exposição fotográfica itinerante com 100 fotos sobre a realidade atual da bacia hidrográfica e dos seus habitantes, além da realização de um documentário de 15 minutos sobre o projeto e a situação atual da bacia. A resposta sobre o pedido de financiamento deve vir no segundo semestre deste ano.
Universidades e pesquisadores também serão convidados a participar da busca de soluções para os problemas ambientais e socioeconômicos encontrados na bacia hidrográfica do Carolina e passarão a integrar a proposta.
UC:APA
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- UC Ibirapuitã (APA)
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