Baleias desprestigiadas

O Eco - www.oeco.com.br - 12/10/2010
O governo do Estado de Santa Catarina é mestre em não querer aproveitar as oportunidades magníficas que tem no seu território para o ecoturismo. O primeiro e mais notório exemplo de desperdício para estimular o turismo na natureza é negar o acesso ao espetacular Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, com seus 80.000 hectares de mata atlântica. Outro exemplo é a insistência das autoridades estaduais e municipais, por ignorância ou, mais provavelmente por desídia, em não estimular, de forma adequada, a observação das baleias francas que freqüentam o litoral do estado, justamente no inverno, época de menos atrativos para o turismo na orla.

O caso do parque da Serra do Tabuleiro merece um artigo a parte. Não dá, efetivamente, para compreender a lógica de se dispor de uma maravilhosa e extensa unidade de conservação, a poucos quilômetros da capital do Estado e na beira de estradas principais que unem o Brasil com o resto do MERCOSUL, hermética, fechada a qualquer tipo de visitação desde seu estabelecimento. Ou seja, sem oferecer alguma oportunidade de recreação e educação ambiental e nem tampouco de promoção do turismo que pode ir paralelamente com os serviços ambientais oferecidos pela proteção. Será que os políticos de plantão estão esperando que o virtual abandono dessa área facilite a vida de mais invasores, para logo ter argumentos para cortar outro grande e suculento pedaço imobiliário do parque? Mas agora vou me limitar a falar do caso das baleias.

A baleia franca é uma sobrevivente, pois esteve à beira da extinção devido à sua caça indiscriminada até a metade do século passado. Na década de trinta os estudiosos estimaram uma população remanescente em todo o Hemisfério Sul de apenas 300 indivíduos. Porém no Atlântico Sul elas foram caçadas até a década de 70. Elas chegam a pesar 60 toneladas e a medir até 18 metros, e recebeu o nome de baleia franca, certa ou verdadeira exatamente por ter sido considerada a mais certa de se matar, pois é um animal grande, lento e que freqüenta as regiões costeiras no seu período de reprodução e amamentação.

Felizmente há cerca de 30 anos começou-se no Brasil o Projeto Baleia Franca, sediado na cidade catarinense de Imbituba, a 88 quilômetros ao sul de Florianópolis. O projeto praticamente salvou a baleia franca. Hoje se estima que 500 baleias francas freqüentem nosso litoral. Todos que começaram o esforço para se salvar a baleia franca na nossa costa merecem aplausos entusiasmados. A idéia do projeto e seu começo aconteceram graças ao enorme esforço do almirante Ibsen de Gusmão Câmara, um reconhecido nome na área ambientalista do Brasil, e, também, internacionalmente. Os técnicos do Projeto até conseguiram a decretação de uma Área de Proteção Ambiental federal (a APA da Baleia Franca) em 14 de setembro de 2.000 com 156.100 hectares para garantir condições adequadas para sua sobrevivência.

No entanto o objetivo desta coluna é o de espinafrar as autoridades constituídas e ainda o setor privado que não sabem como oferecer àquelas pessoas que querem ver as baleias francas as necessárias facilidades turísticas. Todos os anos, por exemplo, na época que as baleias estão por aqui, quer dizer de julho a novembro, eu tento vê-las e levar amigos de outras paragens ou ambientalistas para vê-las. Tenho amigos que vivem há décadas aqui e que gostariam de vê-las e nunca conseguiram. Eu corro atrás delas perguntando de praia em praia para surfistas (eles em geral sabem se elas estão e onde elas estão, ou se já foram embora), garis, donos de pousadas, bares restaurantes, etc. e raramente consigo saber. É desgastante. Procuro na imprensa, seja ela escrita ou falada e nada, principalmente em Florianópolis. Na ilha da magia ninguém dá notícias onde elas estão. Pessoalmente como sou persistente, procuro muito, e assim sendo consigo vê-las de vez em quando. Mas eu sou ambientalista e posso e gosto de gastar meu tempo atrás de bichos, mas os turistas não podem perder todo santo ano a espetacular oportunidade de ver estes enormes animais, amamentando, brincando, se virando, justo na arrebentação de nossas belas praias, no centro sul do estado.

Justiça seja feita que o Projeto Baleia Franca possui um site que informa, quando funciona, onde elas estão dentro da APA, mas não fora da APA, como é o caso da Ilha de Santa Catarina, justamente onde está nossa capital, Florianópolis. A APA chega até a praia do Pântano do Sul, somente. Quando se liga para Imbituba, os estagiários tentam nos atender bem, mas eles não trabalham na sede do projeto para atender turistas exatamente quando estão os turistas, ou seja, fins de semana e feriados. Esta não é uma crítica aos técnicos ou estagiários, mas sim às autoridades locais que não conseguem providenciar quem atenda adequadamente aos turistas que queiram ver os enormes mamíferos.

Porque também as rádios e os jornais locais não informam diariamente onde e como vê-las? Em geral se se sabe onde estão é só conseguir ir para um morro ou uma parte alta para vê-las com segurança, de forma barata e muito emocionante, também. Mais ainda porque as autoridades e o setor hoteleiro e de turismo receptivo não prepara seus funcionários para informarem sobre as baleias? Por mais que se pergunte à gente local poucos respondem ou nos olham com uma cara de espanto não entendendo o porquê de estes loucos quererem ver baleias.

A observação autorizada para certos barcos é de matar. Além do desconforto do embarque desde as praias de água movimentada e gelada e dos horários pouco civilizados, das 4 vezes que fui com amigos ambientalistas ou familiares não consegui ver nem uma baleia. Aí fico pensando: porque empresários deste turismo- o de observação de baleias- que faz mais de 1 bilhão de dólares por ano no mundo, não pode proporcionar, em Imbituba e arredores, incluindo Florianópolis, condições para fomentar e facilitar operações de vôos de helicópteros, que seguramente seriam mais eficazes e seguros para se ver as madames? É óbvio que esses aparelhos deverão respeitar regras severas e não ocasionar moléstias aos animais. Esses mesmos vôos poderiam contribuir para contagem e melhor monitoramento das baleias e assim mesmo, oferecer acesso às vistas tão lindas da ilha maravilhosa e dos seus arredores.

Parece mesmo que as autoridades locais não conseguiram ainda perceber o grande negócio que seria para seus municípios aproveitar melhor a sua natureza espetacular. Oxalá que o novo governo estadual, diferentemente dos anteriores, valorize o patrimônio natural do Estado, o proteja de verdade e o aproveite sustentavelmente.

http://www.oeco.com.br/maria-tereza-jorge-padua/24445-baleias-despretigiadas
Biodiversidade:Fauna

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