Beleza eternizada

CB, Cidades, p. 32 - 22/07/2008
Beleza eternizada
Cem das 339 espécies de pássaros catalogadas na Chapada dos Veadeiros ilustram o primeiro livro de fotografias sobre as aves da região vizinha ao Distrito Federal

Érica Montenegro
Da equipe do Correio
O sanhaço-de-fogo e o inhambu-chororó que ilustram esta página são duas das belezas naturais da Chapada dos Veadeiros (GO) eternizadas em papel cuchê. Pela primeira vez, os pássaros da região distante 230km de Brasília ganharam um livro de fotografias. O autor do trabalho é o paulistano Edson Endrigo, que, em 10 anos, clicou exemplares de 1,2 mil das 1,8 mil espécies brasileiras.

Para ilustrar a obra de 120 páginas, Endrigo fez duas viagens à Chapada dos Veadeiros no primeiro semestre deste ano. Ficou encantado com o que viu. "É um dos melhores pontos para a observação de aves do cerrado", relata. O retrato do inhambu-chororó, conseguido nas proximidades do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (veja Para saber mais), é considerado por ele como um dos prêmios das expedições na chapada. "Ainda não tinha um registro tão bonito desse pássaro. Ele não gosta de aparecer. Mas, neste dia, apareceu e ainda cantou", lembra o fotógrafo. A imagem do sanhaço-de-fogo foi feita no caminho entre o município de Alto Paraíso e o distrito de São Jorge.

Nas visitas à chapada, Endrigo chegou a ficar 14 horas em campo à espera dos pássaros. O trabalho começava nas primeiras horas da manhã - a maioria das aves tem hábitos matutinos - e se prolongava até a noite, quando as corujas começavam a aparecer. "Quando sinto que vou ter uma boa imagem, espero o tempo que o pássaro quiser", comenta o paulistano de 41 anos, que estudou comércio exterior, mas optou por ganhar a vida com uma paixão de infância. "Desde criança gostava de aves. Acho que resolvi fotografá-las para ficar perto delas."

Com o título Aves - Chapada dos Veadeiros, o livro traz imagens de 100 das 339 espécies catalogadas na região. Além do sanhaço-de-fogo e do inhambu-chororó, aparecem no catálogo algumas raridades, como o pato-mergulhão, espécie criticamente ameaçada de extinção cuja população estimada no mundo é de apenas 250 indivíduos, e o galito, ave migratória também ameaçada de extinção que usa uma interessante técnica de exibição para atrair a fêmea. "Durante a migração, ele voa com a calda na posição horizontal. Quando chega no território onde vai se reproduzir, começa a voar com a calda na vertical, quase alinhada com a cabeça", conta Endrigo.

Riqueza
Nos céus da Chapada podem ser encontradas 35% das espécies de aves que habitam o cerrado. A existência de diversos tipos de paisagem - campos sujos, campos limpos e matas de galeria -, e o bom estado de conservação da região fazem dela um ponto privilegiado para a vida selvagem. "É uma das áreas mais ricas em espécies de aves no cerrado. Também se destaca por abrigar 17 das 33 espécies consideradas endêmicas (exclusivas) do bioma e 11 espécies ameaçadas de extinção", destaca a bióloga Vivian Braz, da Fundação Pró-Natureza (Funatura), que faz pesquisas na área.

Para a observadora de aves e guia turística Ana Rosa Cavalcante, o registro dos pássaros da Chapada dos Veadeiros em livro contribui para a conservação do meio ambiente por popularizar o conhecimento sobre as espécies da região. "Ao serem apresentados aos outros habitantes da Chapada, os moradores e visitantes enxergam a importância da preservação", afirma Ana Rosa, organizadora de excursões específicas para amantes da observação de pássaros.

O fotógrafo Edson Endrigo, que está em seu quinto livro e costuma percorrer áreas virgens de todo o país à procura de pássaros, pretende voltar a Alto Paraíso. "É um lugar privilegiado. Com paisagens espetaculares."


Para saber mais
Ecoturismo e misticismo

Criado em 1961 pelo então presidente Juscelino Kubitschek, o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros ocupa uma área equivalente a mais de 230 mil campos de futebol. Localizado no nordeste de Goiás, é um dos destinos de ecoturismo mais procurados pelos brasilienses.

No centro da Chapada dos Veadeiros, o parque está a 260km de Brasília e a 480km de Goiânia, com parte nos municípios de Cavalcante (60%) e Alto Paraíso (40%), onde fica a Vila de São Jorge, local de entrada dos visitantes.

A visita ao Parque Nacional oferece oportunidades de contemplação e convivência com a natureza da Chapada dos Veadeiros. Já ao longo da estrada de acesso (GO-239), vale observar o Morro da Baleia no km 18 e as Veredas do Jardim de Maytréia (km20). Por sua vez, na GO-118 avista-se o ponto mais alto de Goiás (1676 m) no mirante do Pouso Alto.

A partir de Brasília, chega-se ao Parque, pelas rodovias BR-020 e GO-118 (220km), que levam a Alto Paraíso, seguindo-se depois pela GO-239 (36km) até a Vila de São Jorge. Chegando ao parque, a recepção , orientações e escolha dos passeios acontecem no Centro de Visitantes.

O principal rio que drena o parque é o Rio Preto, afluente do Rio Tocantins. Ao longo do seu percurso, estão as mais belas cachoeiras da região e paredões de até 300m de altura. Cristais de rocha surgem do solo entre a bela flora local e a variada vegetação do cerrado, enquanto a rica fauna da região abriga espécies ameaçadas de extinção, como o veado-campeiro, o cervo do Pantanal, a onça-pintada e o lobo-guará.

Fora dos limites do parque há diversas cachoeiras, pinturas rupestres e piscinas de águas quentes. Com um solo rico em cristais de quartzo e localização bem no centro do país, a Chapada dos Veadeiros é considerada reduto de espiritualistas e esotéricos de todo Brasil. A explicação para a grande concentração de energia mística no local é de que a região está localizada no mesmo paralelo que atravessa a cidade de Machu Picchu, no Peru.

Aves - Chapada dos Veadeiros
Do fotógrafo Edson Endrigo, Aves e Fotos Editora. Preço: R$ 85 Mais informações: www.avesefotoseditora.com.br

CB, 22/07/2008, Cidades, p. 32
UC:Parque

Unidades de Conservação relacionadas

  • UC Chapada dos Veadeiros
  •  

    As notícias publicadas neste site são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.