Censo mostra crescimento do número de araras-azuis-de-lear na natureza

ICMBio - www.icmbio.gov.br - 24/07/2009
Uma boa notícia para a biodiversidade brasileira: o censo populacional das araras-azuis-de-lear, realizado na semana passada pelos pesquisadores do Instituto Chico Mendes (ICMBio), que atuam no Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação das Aves Silvestres (Cemave), mostra que o número dessas aves na natureza aumentou. Passou de 900 exemplares no ano passado para 1.060 - um crescimento de 18% em apenas um ano. A arara-azul é uma das aves mais ameaçadas no mundo.

A contagem foi realizada entre terça (14) e quinta (16) na área de ocorrência da arara-azul-de-lear, na região do Raso da Catarina, na caatinga baiana, entre os municípios de Jeremoabo e Canudos. Foram feitas três contagens técnicas, o que significa dizer que as aves foram contadas seis vezes, uma de manhã e outra à tarde em cada um dos três dias. "Tiramos a média e o número final é de 1.060," explica o biólogo Kleber de Oliveira, um dos responsáveis pelo censo. Esta incursão em campo foi a primeira deste ano. Outra deve ocorrer em novembro, para confirmar os dados colhidos até agora.

A arara-azul-de-lear é citada no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção, editado pelo Ministério do Meio Ambiente, e na lista da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza, na sigla em inglês). Segundo os pesquisadores, com os novos números, ela pode passar, ainda neste ano, do status de "criticamente ameaçada" para o de "ameaçada". Isso significa que a situação melhorou, mas o animal ainda corre risco de desaparecer.

Apesar de continuar ameaçada, Kleber de Oliveira considera a situação da ave hoje "um grande avanço" em relação ao passado quando ela foi quase extinta. "O Cemave busca a conservação de um número viável dessa espécie na natureza. O crescimento populacional é fruto de um trabalho de envolvimento da comunidade, de parcerias importantes com instituições como a Universidade Estadual de Feira de Santana, a Esec Raso da Catarina, a Prefeitura de Jeremoabo, a Fundação Biodiversitas , dentre outras", diz ele.

Para garantir a perenidade desse avanço na preservação e reprodução da ave, os especialistas do Cemave desenvolvem outras ações importantes. Fazem o monitoramento das áreas de alimentação, para assegurar que a principal fonte de comida das araras - a palmeira licuri - não seja destruída e buscam identificar novas áreas para onde a espécie se desloca, ampliando as atividades de manejo e conservação. Isso sem falar nas inúmeras iniciativas de educação ambiental junto às comunidades moradoras das áreas de ocorrência do animal.

VITÓRIA - Os novos números do censo é o que se pode chamar de batalha ganha numa guerra ainda em andamento. Ano a ano as contagens feitas pelo Cemave indicam avanços na conservação de um dos símbolos mais belos da natureza brasileira. Desde 2001, quando o Centro montou sua base em Jeremoabo, para cuidar da preservação da arara-azul, a presença do pássaro na natureza só tem aumentado. Só para se ter uma ideia, num intervalo de dois anos (2006-2008) a quantidade de indivíduos registrados subiu de 652 para 900. Agora, tem-se novamente outra onda de crescimento.

Kleber de Oliveira atribui os bons resultados à metodologia utilizada pelo Cemave e ao processo reprodutivo da arara. "Quando o acompanhamento da espécie passou a ser feito por nós, houve padronização da metodologia de contagem, com maior cobertura da área em que vive e treinamento dos pesquisadores. Soma-se a isso o fato de que mais indivíduos estão chegando à idade reprodutiva a cada ano."

Depois de tanto tempo acompanhando essa ave, os pesquisadores já conhecem bem os dormitórios e os locais onde fazem os ninhos. Um deles está em Canudos (chamado de Toca Velha) e o outro em Jeremoabo, ao sul da Estação Ecológica (Esec) Raso da Catarina. Este último local é maior e abriga grande número de ninhos no período reprodutivo. As contagens são feitas simultaneamente nas duas regiões, com o posicionamento de grupos de pesquisadores e colaboradores nos pontos de chegada e partida das aves. São sete pontos na Esec e três na Toca Velha.

Com essas informações e estratégias em mãos, a equipe monta a base nas proximidades dessas localidades. Cada grupo de pesquisadores fica em locais de visão privilegiada, de olho na saída e chegada das aves. Elas saem bem cedinho e voltam no final da tarde. "Finalizadas as contagens, são somados os dados de cada ponto e temos um número total para cada dormitório. Usamos binóculos e rádios para conversarmos sobre possíveis saídas de aves para pontos próximos, evitando ser notados por elas. Fazemos contagens duplas," relata.

As observações são feitas, normalmente, no alvorecer e no final do dia. "A gente tem que acordar às 3h da madrugada, para estar nos pontos antes do amanhecer. Percorremos esses locais a pé. Podem ser até 40 minutos de caminhada no escuro, às vezes, com chuva e frio. As aves saem no início da manhã, lá pelas 5h. Depende da época em que o sol nasce. No verão é mais cedo. Depois que as aves saem, retornamos aos nossos acampamentos. À tarde, por volta das 15h, fazemos o caminho de volta aos dormitórios, à espera do retorno das araras, por volta das 17h30 e 18h. Feita a contagem, retornamos ao acampamento."

Segundo Kleber, o trabalho é muito cansativo. Requer atenção, pois nem sempre a luz natural favorece a visualização das aves. Mas também tem seus momentos prazerosos. "Nas contagens, são reunidos colegas de vários locais do Brasil, biólogos contratados, estudantes de biologia, pessoas da comunidade, todos na base, ou acampados ao redor da casa. Há bons momentos de descontração. O clima é de alegria principalmente porque estamos fazendo uma atividade importante para a preservação de nossa biodiversidade", afirma o biólogo do Cemave.
UC:Estação Ecológica

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