Corta-água: do Pantanal para Mar Chiquita

O ECO - 03/05/2008
Uma ave de nome vulgar "corta-água" e o pomposo nome científico de Rhynchops nigra, anilhada no Pantanal, mais precisamente na Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) do SESC onde nascera, em 2006, foi fotografada pelo fotógrafo argentino Javier Canevari na laguna de Mar Chiquita, situada perto de Mar del Plata. Percorrera 2.350 km, em linha reta, sendo este o registro conhecido do maior deslocamento da espécie em todo planeta. Javier Canevari mandou as fotos para o CEMAVE/ICMBIO, o órgão responsável pela coordenação de anilhamento no Brasil e graças às marcações na anilha, que possuem uma seqüência única de números, pode-se ter certeza que essa ave é aquela mesma que nascera na RPPN do SESC Pantanal em julho de 2006.

Naquela região, nas praias do rio Cuiabá, as aves como taiamãs, gaivotas e corta-águas andaram meio que sumidas; pois não podiam nidificar nas praias do rio devido principalmente à grande presença de pescadores e turistas, que lá acampavam ou simplesmente usavam as praias, muitas vezes até sem se dar conta que estavam literalmente pisando nos ovos dos ninhos, a céu aberto, outras vezes coletando ovos ou evitando a postura. Mas desde o estabelecimento da RPPN pelo SESC em 1997 e 1998, com seus mais de 80.000 hectares e sua conseqüente implementação, começaram-se os estudos com aves, primeiramente com as araras-azuis (Anodorhynchus hyacinthinus), araras-canindés (Ara ararauna) e araras-vermelhas (Ara chloropterus); e em 2002 resolveu-se monitorar a nidificação das espécies que ocorrem nas praias dos rios Cuiabá e São Lourenço, dentro dos lindes da Reserva e começou-se aí o anilhamento.

Em 2002 anilhou-se algumas dezenas de filhotes e então aconteceu um período fraco de posturas e anilhamento até o ano 2006. Das duas uma: ou as aves preferiram ficar em Mar del Plata ( brincadeira) ou o efeito do fechamento da barragem do rio Manso era realmente palpável para essas espécies que nidificam nas praias do Cuiabá. Bem nenhuma das duas hipóteses era verdadeira, pois em 2006 houve grande produção de filhotes e 450 indivíduos foram anilhados. Anilhar esses bichos é para se saber para onde vão, durante as cheias do Pantanal, quando as praias ficam obviamente submersas.

Também nesse período os peixinhos dos quais se alimentam ou a seus filhotes dispersam-se pela grande área de inundação, dificultando sua pesca. Depois de dois anos de espera pela resposta eis que surge esse traidor em 2008, que se refugia exatamente na Argentina. Ainda bem que o CEMAVE informou, na última semana, que encontrou outro indivíduo marcado também na RPPN do SESC Pantanal em uma rede de captura no Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul a 1.700 km em linha reta de seu ponto de origem. Vão para o sul na época das cheias. O mais interessante de se notar é como um monitoramento científico, fácil e preciso, como o anilhamento, pode continuar a demonstrar a importância de unidades de conservação para a vida silvestre e sua proteção, quer sejam essas áreas protegidas públicas, como no caso do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, ou privada, como no caso da RPPN do SESC Pantanal.

Se não tivesse havido a proteção das praias do rio Cuiabá pela presença de uma RPPN bem implementada e a conseqüente postura e nidificação, bem como o processo simples e eficaz do anilhamento; e se não houvesse áreas protegidas como o Parque Nacional da Lagoa do Peixe, nós não teríamos a informação da movimentação e dos hábitos dessas aves aquáticas migratórias e o registro de sua enorme viagem poderia nunca ter ocorrido.

Para o SESC mantenedor da maior RPPN do Brasil deve ser particularmente importante saber que sua área, além de muitos outros atributos, é um importante local de reprodução do corta água, em escala continental.
UC:Geral

Unidades de Conservação relacionadas

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