Crime ambiental destrói ecossistema em Jurubatiba

O Globo, Rio, p. 22 - 19/01/2007
Crime ambiental destrói ecossistema em Jurubatiba
Abertura da barra leva água do mar para lagoa

Paulo Roberto Araújo

Um crime ambiental levou por água abaixo pesquisas científicas que vinham sendo feitas há anos na Lagoa de Cabiúnas, no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, em Macaé. Pessoas ainda não identificadas pela Polícia Federal abriram a barra de areia na madrugada de anteontem, provocando o vazamento de 90% da água doce da lagoa, que tem 34 quilômetros quadrados, o que destruiu o ecossistema lagunar. Centenas de espécies de peixes, crustáceos e plantas foram arrastados para o mar ou morreram nas margens da lagoa, onde os pesquisadores estudam os efeitos da poluição sobre os mananciais de água potável.
Os responsáveis pela abertura da barra sumiram com equipamentos de pesquisa que foram financiados pela Petrobras, pelo CNPq, Capes e outras instituições. Agentes ambientais acreditam que a barra foi aberta por pescadores para permitir a entrada de larvas de peixes e crustáceos de água salgada, que têm maior valor comercial. 0 lucro dos pescadores, no entanto, é um desastre para o meio ambiente porque as espécies de água doce não suportam o aumento da salinidade promovido pela entrada de água do mar e morrem. Cabiúnas tem uma área semelhante à Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio.
- 0 pior é que esta não é a primeira vez que isso acontece, mostrando que nenhuma atitude foi tomada para proteger as 18 lagoas do parque - lamentou o professor Francisco Esteves, diretor de Núcleo de Pesquisas da UFRJ em Macaé.
Plano de manejo ainda não foi concluído
A abertura violenta da barra arrastou a vegetação aquática no fundo e nas margens da lagoa. Segundo os pesquisadores, em pouco tempo o quadro vai se agravar porque a vegetação marginal tende a secar com a ação do sol. As plantas que ficam dentro da água também não vão suportar o sal.
0 novo crime ambiental revoltou a comunidade científica e os ambientalistas porque o Ibama, que criou o parque em 1998, até hoje não aprontou o plano de manejo para gerenciar o uso do parque. Sem o plano, a unidade de conservação não tem verba própria, nem funcionários para fiscalizar os seus 40 km de extensão ao longo do litoral que vai de Macaé a Quissamã. 0 parque, conhecido como o único no mundo que protege vegetação de restinga, convive com construções irregulares, furto a visitantes, desmatamento e a ação de caçadores e invasores que danificam a vegetação.
0 prefeito de Quissamã, Armando Carneiro, disse que o Ibama prometeu concluir o plano de manejo, que está sendo feito há cinco anos, em fevereiro. 0 gerente regional do Ibama, Rogério Rocco, disse que pediu ontem à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e à Diretoria de Ecossistemas do Ibama, em Brasília, que priorizem a conclusão do plano de manejo do Parque de Jurubatiba. Segundo ele, os agentes do Ibama e da Polícia Federal, que instaurou inquérito criminal, não conseguiram identificar os responsáveis pelo crime ambiental.

O Globo, 19/01/2007, Rio, p. 22
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