Desorganização e falta de estrutura prejudicam turismo em Chapada

Midia News - http://www.midianews.com.br - 28/06/2015
Apesar das belezas naturais, falta de estrutura e informações são pontos negativos para visitação


Desorganização, preços altos, falta de informação. Esses são alguns dos fatores que prejudicam o turismo no Parque Nacional de Chapada dos Guimarães.

Criado em 12 de abril 1989, o parque possui uma área de 32.630,70 hectares e é o 6o mais visitado do país de 341 parques de conservação.

Apesar da riqueza natural, com cachoeiras, nascentes e diversos atrativos, a falta de estrutura também colabora para prejudicar a visitação do local.

"Nós concorremos em público diretamente com os parques da Tijuca (Corcovado), Foz do Iguaçu, Itatiaia e Fernando de Noronha. Todos eles infinitamente mais estruturados e organizados do que o nosso", disse Carolina Potter, coordenadora de visitação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela gestão do parque.

O turismo do parque passa por sérios problemas, principalmente após um incidente - deslizamento de uma pedra no Véu de Noivas -, que vitimou uma mulher no dia 28 de abril de 2008. A partir desta data, o parque foi interditado por mais de um ano.

A abertura dele foi permitida após a adequação do plano de manejo publicado em 2009 com a portaria no 45/9. A partir desta data houve também um acordo juntamente com os guias cadastrados e registrados no ICMBio, e com a portaria no6/08 criando um conselho consultivo.
Com o acordo, ficou determinado que para visitar o Vale do Rio Claro, Crista de Galo, São Jerônimo, Cidade de Pedras e Circuito das Cachoeiras, é necessário a contratação de guia ou condutor.

Mas, atualmente, é possível visitar o Véu de Noiva, a Cachoeirinha e Cachoeira dos Namorados sem a contratação de guias.

Além disso, grupos em atividades didática, voluntários e pesquisadores não precisam contratar guias em nenhum atrativo aberto à visitação.

Apesar dessa diferenciação, criou-se uma imagem negativa da nova cobrança. A falta de informação para o público, somada à inexistência de uma tabela com as limitações de valores e quase nenhuma organização, acabou levando o turismo local promissor a retroceder.

Muitos turistas desistem do destino por imaginar que todos os pontos turísticos possuem a necessidade do acompanhamento, e também por não saberem corretamente os custos previstos para cada visitação no parque.

Para o membro da associação de Guias Turísticos de Chapada, Fábio Oliveira, o problema maior não está na cobrança da condução ou do guia, mas sim na burocratização do parque.

"Hoje nós trabalhamos com horários reduzidos, só podemos entrar no Parque às 9h, e temos que sair até as 17h. Uma parte importante do nosso trabalho, que era a vista do pôr do sol, não pode mais ser feita", pondera.

Para ele, a necessidade de um guia é mais importante para o parque do que para os profissionais.

"Esta foi uma saída que encontramos juntos, pois o parque não possui a estrutura adequada para atender a população. Hoje em dia, se uma pessoa se machuca lá dentro, vai processar o parque. Então para que as atrações não ficassem fechadas para todos, sugerimos esta saída", relata.

"Para os guias profissionais, nunca faltou clientela, talvez agora tenhamos um pouco mais é verdade, mas na verdade a exigência afetou mais a população local e de Cuiabá. Os turistas de fora do país ou de outros estados nunca cogitaram ir ao parque sem guia", destacou.

Regras de visitação

O Parque Nacional Chapada dos Guimarães funciona das 09h às 17h para o público, com ou sem guia. São permitidos apenas 144 visitantes no parque por dia.

Para cada guia, o número máximo de turistas é de 12 pessoas, na maioria dos passeios. Já para o Morro de São Gerônimo e Cidade de Pedra, este número cai para 6 pessoas por guia.

O parque recebe em média 120 mil pessoas por ano somente no Véu de Noivas. Para a associação de guias, existe na verdade uma necessidade de estruturação do parque e a cobrança de uma entrada para essa manutenção.

"O parque nacional não tem uma conta própria, então todo dinheiro arrecadado por ele seria levado para conta nacional dos parques. A implantação e manutenção do parque com bilheteria custa caro, e com a expectativa de retorno pequeno, nada é feito", revela Fábio Oliveira.

Para a população local, a associação também sugeriu em reunião junto ao conselho deliberativo do parque a realização de um cadastro e a implantação de um local com estrutura mínima para orientar os visitantes.

"Apesar de todas as tentativas, sempre esbarramos em burocracia e nada é feito. Precisamos de conscientização do Poder Público. Que não podemos deixar o parque sem nenhum acompanhamento é fato. Infelizmente, nem todos preservam o que temos de importante, por isso temos que normatizar", destacou.

"Mas também ressaltamos sempre que é preciso ter a acessibilidade e abrir para a população. Acredito, de verdade, que ao invés da população ficar chateada com os guias, todos deveriam se unir e cobrar do Poder Público mais atitudes ao bem público", finalizou.

Segregação da população local

Para o fotógrafo Izan Petterle, a obrigatoriedade de um guia para ter acesso ao parque é "totalmente inaceitável".

"Todos nós sabemos que a população da cidade de Chapada não tem um poder aquisitivo alto. Com isso, muitos jovens não tem mais a opção de lazer no parque, e isso é realmente muito ruim", ressalta.

O fotógrafo questiona ainda a questão de que, se o parque é um bem público nacional, não pode deixar a população de fora, ou exigir uma cobrança.

"Primeiramente, não foi feito um processo licitatório, dizendo quem pode ou não se favorecer do parque. Como pode, neste caso, uma determinada classe ser diretamente beneficiada com esta exigência?", questiona.

Outra questão levantada pelo fotografo é que, com a exigência, criou-se um mercado desleal.
"Outro dia um amigo meu passeava de bicicleta dentro do parque e foi denunciado por um guia. Imediatamente teve que sair, senão seria notificado e receberia uma multa. Oras, um bem público que está para todos, como isso pode ser aceitável?", indaga.

A questão principal destacada pelo fotógrafo e morador de Chapada é a falta de discussão com a sociedade local, sobre como deveriam ser realizados os processos referentes ao parque.

"O parque tem que ser amigável ao turista. Na verdade, no mínimo, teríamos que colocar na sociedade esta discussão, passar na Câmara de Vereadores, fazer audiência pública. Essa obrigatoriedade cria uma distorção de mercado, principalmente quando a cidade está lotada", finalizou.

Valores destoantes e falta de informação

Quanto ao valor cobrado pelos guias para as atrações turísticas, não existe uma tabela fixa divulgada.

Para o casal de turistas de Brasília, os advogados Gisele Ferreira e Alexandre Coimbra, o dia foi de contemplação e banho de cachoeira. Eles contam que somente na entrada do Véu de Noivas descobriram sobre a obrigatoriedade de guia turístico para entrar no circuito de cachoeiras.

"Eu já tinha vindo há muito tempo atrás, mas antes fui aos passeios com amigos e não paguei nada. Hoje, vim com o meu namorado e tive esta surpresa. Como não sabia, não tive como conseguir um guia, principalmente porque tem que ter uma autorização com um dia de antecedência", contou Gisele.

Ela ainda ressaltou que ficou decepcionada, mas que pagaria tranquilamente pela visita guiada se já soubesse da necessidade.

"Na verdade, já fui a vários lugares que têm esta exigência. Para mim, o que complicou mesmo é a questão de não saber, principalmente porque já tinha vindo. Amanhã vou para Nobres e já comprei o pacote. Concordo com a cobrança, acho normal", finalizou.

Para Alexandre, o impacto não foi tão grande.

"Como eu nunca tinha visto, o que aproveitei aqui foi o suficiente, achei tudo muito lindo, mas também está muito desorganizado. Hoje vi aqui algumas pessoas comentando o valor dos guias e achei um pouco caro, algo em torno de R$ 150 reais. Não acredito que tenha estrutura turística para tanto, mas como não vi tudo, não posso falar muito", destacou.
A reportagem do MidiaNews entrou em contato por telefone com as agências cadastradas nos principais sites de informações sobre o Parque Nacional de Chapada dos Guimarães.

O primeiro contato foi com uma agência divulgada. A atendente não soube informar nenhum valor de imediato. Um pouco confusa, ela solicitou à reportagem que entrasse em contato diretamente com o guia.

Por telefone o guia que se apresentou como Domingos. Primeiramente, quis as informações sobre o passeio, como número de pessoas, se era a primeira vez em Chapada, onde queria ir, se tinha ou não veículo. Após todas as respostas, ele começou a passar os valores.

"Para o grupo de 10 pessoas, é cobrado R$ 50 reais por pessoa, mais o translado, se não houver carro para todo mundo. O grupo terá que escolher se quer ir ao circuito das cachoeiras ou em outros atrativos. Este valor é por dia guiado. Desta forma, o valor total fica em R$ 500 pelo grupo pago em dinheiro à vista, antecipado", explicou.

Na segunda empresa, o mesmo método foi utilizado. A atendente passou o contato do guia. Mas desta vez, a esposa do guia foi quem atendeu pelo nome de Tamara. Foi ela quem passou as informações.

"Ele está em um passeio. Para uma pessoa, o mínimo cobrado é de R$ 200 reais, mas se tiver mais gente, são cobrados R$ 30 reais por pessoa. Caso precise de veículo, são cobrados R$ 100 reais pelo aluguel do veículo, mais o combustível compatível à distância. Esse valor é por conta do desgaste que se tem", informou.

Na terceira agência, a informação já foi passada diretamente pela atendente, revelando que o passeio não sairia por menos de R$ 200 reais com guia credenciado, ou R$ 150 reais com condutor.

"Este é o valor mínimo de saída de um guia, mas se quiser podemos tentar encaixar você em grupo para sair mais em conta. Mas você não vai encontrar nada mais em conta que isso", afirmou.

Já na cidade de Chapada, a guia Marisilma informou que a cobrança realizada pelas agências é maior do que a contratação direta de um guia.

"Quando o turista entra em contato direto conosco fica mais barato. Mas, para falar a verdade, vai mesmo a disponibilidade de um profissional. Eu nunca cobrei R$ 200 reais para levar um turista ao passeio", destacou.

De acordo com a proprietária da Pousada Guimarães, Sônia Bezerra, os valores cobrados ao turista dependem muito da disponibilidade dos guias.

"Nós não intermediamos esta contratação aqui, não cobramos nada do cliente além do nosso trabalho. Mas, por morar aqui e muitas vezes ver as negociações, posso dizer que são bem diferentes, de acordo com o guia e o condutor", revela.

A empresária ainda destaca que muitos hóspedes estranham o fato de algumas agências estarem fechadas.

"Os turistas que vêm para Chapada querem um guia, eles querem saber a história da cidade, ir aos melhores lugares, eles precisam muito do serviço e gostam deles. Mas fico muito sem graça quando eles vêm me perguntar por que as agências ficam fechadas. Por isso, tento me envolver o mínimo possível neste lado", ponderou.

Sônia ainda lembra que esta falta de estrutura atrapalha os negócios para os empresários locais.

"Nós vivemos em uma cidade que poderia gerar muito dinheiro, temos condições de atrair muitos turistas e manter os restaurantes e hotéis cheios o ano todo, mas sem apoio fica complicado", explicou.
"Chapada possui, registradas, 26 agências de turismo e diversos microempreendedores individuais, que de acordo com a normativa da categoria, deveriam atender de portas abertas, mas se você encontrar quatro ou cinco atendendo em horário comercial com portas abertas é muito", finalizou.

Estrutura inadequada

Para a conservação do parque, manutenção da estrutura, controle de visitantes e todas as demandas de preservação da área, estão disponíveis atualmente seis servidores do ICMBio e apenas dois contratados terceirizados.

Esta é a realidade da administração do Parque Nacional de Chapada dos Guimarães.

Desta forma, os pontos de visitas autoguiadas (sem a necessidade da contratação de guias especializados) também continuam com riscos aos visitantes.

Atualmente, o parque não possui uma estrutura de trilhas adequadas, não há acessibilidade, não possui placas de localização, informação e muito menos guardas ou fiscais, que poderiam atender o público no caso de alguma necessidade.

"Hoje, quando nós identificamos que um determinado grupo ou pessoa não deu saída no fim do dia do parque, temos que acionar do resgate. O problema é que eles não trabalham à noite. Muitas vezes, ficamos com esta responsabilidade nos ombros, sem condições de atuar", revela Carolina.

A coordenadora ainda lembra que na época da Copa do Mundo de 2014 foi assinado um termo de cooperação técnica entre o Governo Federal e o Governo Estadual, para a reestruturação do parque.

Entre as promessas, estava a criação de um Centro de Atendimento ao Turista, orçado em cerca de R$ 1,2 milhão - valor disponibilizado e retornado à união por falta de licitação da obra -, mais de R$ 300 mil para a construção da guarita, e ainda em torno de R$ 305 mil para a revitalização do posto de contemplação do Véu de Noivas.

"Apesar de todos os nossos esforços, atualmente só estamos vendo a guarita do Véu de Noivas ser construída, e ainda bem mais lentamente do que gostaríamos", ponderou.

Maiores atrativos de Chapada dos Guimarães

A partir do aeroporto de Cuiabá (Várzea Grande), o percurso até a cidade de Chapada dos Guimarães possui cerca de 70 km - menos de uma hora em estrada asfaltada (sem acostamento e um pouco danificada).

Desta forma, o destino é comum para passeios de fim de semana, já que o acesso é rápido.

Um dos grandes chamarizes de todo o percurso são os paredões que se espalham por mais de 150 km do parque.

Um dos primeiros atrativos e mais conhecidos do público, depois do complexo da Salgadeira, (interditada para reforma por tempo indeterminado) é região da cachoeira Véu de Noiva, com uma queda d'água de 86 metros.

A contemplação é feita em um mirante próximo à entrada do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, cujo acesso é por uma trilha curta.

Após o incidente com o deslizamento no Véu, chegar até lago e conhecer de perto sua queda continua proibido.
Ainda dentro do parque, o Circuito das Cachoeiras é outro atrativo muito visitado.

O percurso leva em torno de cinco horas para ser realizado e inclui a visita a sete quedas d'água, entre elas, a das Andorinhas, uma das mais convidativas para banho.

Anteriormente, a trilha passava por cima da cachoeira Véu de Noiva, mas a fragilidade dos paredões tornou o caminho inseguro e hoje é necessário dar uma volta maior no terreno.

Para os turistas que curtem aventura e trilhas mais pesadas, o desafio da Chapada é chegar ao topo do Morro de São Jerônimo, também dentro do Parque Nacional. A trilha de 16 km tem trechos íngremes e desafiadores.

Fora do parque, outro circuito que reúne cartões postais da Chapada dos Guimarães é o que passa pelas cavernas Aroe Jari, Kiogo Brado e pela Lagoa Azul.

Essas atrações ficam na Fazenda Água Fria, uma propriedade particular. É preciso pagar R$ 45 reais para acessá-las e a trilha só é feita com guias.

Conforme a época do ano, o cenário muda. Na seca, entre setembro e novembro, é possível acessar o salão dourado da caverna Aroe Jari, onde é possível ver paredes com pedras brilhantes.
Na cheia, entre março e julho, a Lagoa Azul fica mais iluminada e transparente.

Já os gigantes paredões ondulados da caverna Kiogo Brado podem ser apreciados o ano todo.

No caminho, as formações rochosas e os desenhos das pedras, que se equilibram curiosamente umas sobre as outras, aguçam a imaginação de quem observa a natureza atentamente. É um índio? Um jacaré? Uma tartaruga gigante? Vai da criatividade de cada um a interpretação dos desenhos.

O percurso é longo - costuma levar manhã e tarde - e rico de imagens. Ao final, um banho refrescante na cachoeira do Alméscar fecha o circuito com chave de ouro.

Outra parada interessante na Chapada é no Mirante do Centro Geodésico, onde seria o ponto central da América do Sul. A localização oficial demarcada por Marechal Rondon, no entanto, aponta para a Praça Pascoal Moreira Cabral, em Cuiabá. A visão é de um extenso mar de morros e da planície pantaneira, com um belo pôr do sol.

Curiosidades

Dizem os estudiosos que a Chapada dos Guimarães (MT) um dia já foi mar, já foi deserto, depois virou floresta e até habitat de dinossauros. Tudo isso há centenas de milhões de anos, segundo a história contada pelos fósseis e pela formação geológica encontrados ali.



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