É fogo

O Globo, Opinião, p. 19 - 25/10/2017
É fogo
Incidência de incêndios florestais está aumentando ao redor do mundo

TASSO AZEVEDO

Estava lá, na capa do site da Nasa, em meio a imagens de satélite indicando onde estão os focos de incêndios florestais que devastam o mundo, a imagem chocante da Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO) ardendo em chamas. Cerca de 20% do parque já foram atingidos, uma área equivalente a 35 mil campos de futebol.
De janeiro a outubro, o Monitoramento Inpe contabilizou mais de 200 mil focos de fogo e queimadas no Brasil, o maior número desde o inicio do monitoramento, há 20 anos. Metade dos focos está na Amazônia. A área afetada pode superar os dez milhões de hectares, ou mais de duas vezes o Estado do Rio.
A América do Sul também caminha para bater o recorde de queimadas de 2004, quando chegaram a 441 mil focos de calor em um ano. Os incêndios florestais avançam sem trégua nos EUA, Rússia, Canadá, todo o sul da Europa, África Central, Austrália e Indonésia.
Nas últimas décadas, a incidência, a abrangência e a intensidade dos incêndios florestais estão aumentando ao redor do mundo e, com isso, a perda de vidas de pessoas cercadas pelo fogo, a destruição de residências, prédios e infraestrutura, além do impacto na biodiversidade e os problemas de saúde associados à fumaça. Os níveis de poluição do ar medidos na Amazônia na época de incêndios são piores do que os de São Paulo.
Por mais que possam ser caraterizados como desastres naturais (em inglês são chamados de wildfire), o aumento dos incêndios tem grande responsabilidade humana. No Brasil, o desmatamento - muitas vezes seguido de queimadas para preparar o solo para plantio -e a exploração madeireira sem manejo causam a degradação da floresta, reduzem a evapotranspiração da floresta, tornando o ambiente mais seco e mais propício ao fogo. Por outro lado, o desmatamento e as queimadas emitem bilhões de toneladas de carbono na atmosfera, agravando o aquecimento global e, por sua vez, aumentando o risco de incêndios.
Na Indonésia, a conversão de florestas em solos turfosos, com mais de dez metros de material orgânico no solo para plantio de dendê, propicia incêndios que duram meses e fizeram com que o país emitisse mais carbono que os EUA em 2016.
No Canadá, a morte de milhares de árvores acontece pela infestação do besouro do pinheiro (pine beetle), que se tornou uma praga com a redução da temperatura no inverno devido às mudanças climáticas. As árvores mortas são combustíveis turbinados pelas altas temperaturas para o fogo se alastrar.
O ano de 2017 tem dado uma amostra dos impactos alarmantes que se esperam das mudanças climáticas. É urgente nos prepararmos para enfrentar esta realidade. No Brasil, o primeiro passo é zerar, de uma vez por todas, o desmatamento e a degradação florestal e promover a restauração das áreas críticas. Assim, reduziremos o combustível para o fogo (tanto pela redução de emissões quanto pelo ambiente menos seco) e aumentaremos a formação de nuvens e as chuvas, tão fundamentais para nossa agricultura e nossa saúde.

Tasso Azevedo é engenheiro florestal

O Globo, 25/10/2017, Opinião, p. 19

https://oglobo.globo.com/opiniao/e-fogo-1-21987407
Florestas:Queimadas

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