EdUFSC atualiza polêmica sobre reservas florestais na Amazônia

Notícias UFSC - http://noticias.ufsc.br/ - 23/12/2014
A Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC) está publicando uma das pesquisas mais completas e complexas sobre os reflexos da política de criação e implantação de reservas ambientais na Amazônia. O livro Uma floresta de disputas - Conflitos sobre espaços e identidades sociais na Amazônia, de Edviges Marta Ioris, trata da primeira reserva florestal governamental estabelecida na região: a Floresta Nacional do Tapajós (Flora Tapajós), criada em 1974 para "promover a pesquisa e a exploração planejada dos recursos madeireiros". A antropóloga, que acompanha o projeto desde sua origem, logo percebeu "a estreita relação entre as identidades sociais das comunidades que lá se encontravam e as sucessivas definições dos espaços da reserva florestal".

O livro, que integra a recém-criada Coleção Brasil Plural, analisa, discute e propõe caminhos possíveis para os "longos e intensos conflitos" criados com as populações locais. A polêmica já dura mais de três décadas e não tem prazo para acabar, mobilizando burocratas, cientistas, ambientalistas, ativistas de direitos humanos e as comunidades rurais afetadas.

Marianne Schminck, que assina o prefácio e orientou a autora no doutorado em Antropologia na Universidade da Flórida (EUA), classifica de "fascinante" o estudo desenvolvido sobre a economia das florestas brasileiras. "A Flora Tapajós foi objeto de luta pelas comunidades locais, tanto durante um período inicial da ditadura nos anos 1970, como mais tarde, depois da abertura política em finais dos anos 1980, quando os movimentos sociais puderam aproveitar de muitas outras fontes de apoio (regionais, nacionais e internacionais)". Edviges Marta Ioris mostra, nas palavras de Marianne, que "a tenacidade e a criatividade destes habitantes locais, cada um vivendo suas próprias trajetórias históricas em relação ao Estado e ao resto do mundo, empurraram as lutas locais sobre terras e recursos para rumos inesperados". Não poderia ser diferente, afinal, como constata a autora, "o longo histórico de ocupação das 18 comunidades nos territórios que habitavam foi direta e prontamente ameaçado pela criação e implantação da Flora Tapajós".

Acrescido de novos dados e pesquisas, o livro oferece aos leitores o conteúdo da tese de doutoramento defendida em 2005 nos Estados Unidos. São seis capítulos, que, além da pesquisa "in loco", fundamentam e contextualizam a temática em pauta. A pesquisadora fecha o livro com um texto dissecando, didaticamente, o conteúdo abordado, acendendo uma luz no fim do túnel ao falar de "conquistas alcançadas" com a disciplinação dos "espaços, a exploração madeireira e as relações sociais". A pesquisadora faz um agradecimento especial às comunidades que visitou, "e, particularmente, às 22 localizadas dentro dos limites da Floresta Nacional do Tapajós".

A nova obra da Coleção Brasil Plural, segundo Edviges, se inicia com as pesquisas para o doutorado e prossegue com a bolsa de pós-doutorado, na Universidade de Brasília (UnB) e, posteriormente, com a sua vinculação à UFSC, onde atualmente é professora do Departamento de Antropologia e coordena o Núcleo de Estudos de Populações Indígenas (NEPI), do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH/UFSC).

Com belas capas e ilustradas com mapas e fotos, os títulos da Coleção Brasil Plural chamam atenção no catálogo da EdUFSC. O título inaugural deu o tom: A festa da Jaguatirica - Uma partitura crítico-interpretativa, de Rafael José de Menezes Bastos, veio acompanhado de um CD com músicas que recuperam quatro décadas de pesquisas realizadas junto aos Kamaiurá, do Alto Xingu, Mato Grosso. Dando visibilidade às pesquisas do Instituto Nacional de Pesquisa Brasil Plural (INCT/CNPq), também editou a obra coletiva A terra do não-lugar Diálogos entre Antropologia e performance, que reúne artigos de 24 autores.

A nova coleção da EdUFSC conquista espaço ao "retratar as diferentes realidades brasileiras em toda a sua complexidade e contribuir para a elaboração de políticas sociais que levem em consideração as perspectivas das populações e comunidades estudadas". Ao mesmo tempo é uma mão na roda para pesquisadores e profissionais que atuam na área.



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Produção Cultural:Literatura

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