Empresa pede redução de parque no Pará

FSP, Ciência, p. A16 - 15/02/2007
Empresa pede redução de parque no Pará
Mineradora quer que governo estadual corte 500 mil hectares na área da maior reserva de floresta tropical do mundo
Medida exigiria revisão de duas leis paraenses, o que o governo diz que não fará; objetivo é exploração de bauxita em grande jazida

Uma das maiores mineradoras do mundo, a britânico-australiana Rio Tinto, pediu ao governo do Pará para reduzir em 12% a área da maior reserva de floresta tropical do mundo, criada no fim do ano passado.

A EE (Estação Ecológica) Grão-Pará é uma unidade de conservação de proteção integral de 4,2 milhões de hectares. Ela faz parte do mosaico de áreas de conservação da calha Norte paraense, anunciado com pompa e circunstância pelo então governador Simão Jatene em dezembro de 2006.

A mineradora Rio Tinto -uma multinacional que lucrou US$ 7,4 bilhões em 2006- possui um título para pesquisa de minério que identificou um potencial de exploração de bauxita nas áreas da EE e da vizinha Flota (Floresta Estadual) do Paru. Cerca de 60% do potencial estaria dentro da estação ecológica, onde por lei não pode ser realizada nenhuma atividade econômica.

Segundo informou anteontem o site de notícias ambientais "O Eco", a Rio Tinto tem assediado o governo paraense por uma redução de cerca de 500 mil hectares na EE. Um representante da empresa disse ao site que a redução poderia ser compensada em outras unidades de conservação.

Ambientalistas temem que a pressão acabe levando à revisão de duas leis estaduais: o decreto de Jatene que criou a EE e o macrozoneamento ecológico-econômico do Estado, o que poria por em risco a biodiversidade da calha Norte. A região da EE abriga quase 200 espécies de mamíferos e 700 de aves.

Saindo do papel

O plano da Rio Tinto aparece no momento em que o governo do Pará, o Museu Emílio Goeldi e as ONGs Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) e Conservação Internacional começam a definir a implementação do mosaico da calha Norte. Ontem foi lançada em Belém uma parceria para criar o plano de manejo das novas áreas protegidas.

"Queremos mostrar que vamos implementar essas unidades. Isso aqui não é parque de papel", disse à Folha José Maria Cardoso da Silva, diretor da Conservação Internacional.
Cardoso disse ter estranhado a manifestação tardia de interesse da Rio Tinto: o processo de criação das reservas durou do fim de 2005 até o fim de 2006. Várias consultas públicas foram feitas nesse período.

"Na época eles ficaram calados. Na hora de criar as reservas, disseram que tinha uma bauxita fabulosa por lá. Bauxita dá em toda a Amazônia. Biodiversidade é insubstituível."
Cardoso disse estranhar também a necessidade de uma área tão grande para a mineração. "Há uma área de 10 mil hectares no município de Juruti [pertencente à empresa de alumínio Alcoa], entre os rios Tapajós e Madeira, e ali existe bauxita para explorar durante cem anos", compara.

Sem chance

Segundo Carlos Souza Júnior, secretário-executivo do Imazon, o interesse teria sido comunicado a Simão Jatene. O tucano indeferiu o pedido.

Após a saída de Jatene e a posse da petista Ana Júlia Carepa no governo do Estado, a Rio Tinto voltou à carga. Mas o atual secretário do Meio Ambiente do Pará, Valmir Ortega, continua irredutível. "Podemos autorizar apenas a pesquisa fora da estação ecológica".
Procurado pela Folha durante toda a tarde de ontem, o representante da Rio Tinto, Marcos Diógenes, não foi contatado até o fechamento desta edição. A informação era que ele estaria o dia todo em uma oficina de trabalho.

FSP, 15/02/2007, Ciência, p. A16

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