Raizeiros, benzedores, parteiras e pajés estão reunidos até domingo no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, para um encontro raro. Eles são detentores de conhecimentos tradicionais que estão desaparecendo do mapa cultural brasileiro.
Em sua maioria, são anciões que resistem como podem à avalanche de preconceitos, perseguições e o boicote dos sistemas convencionais de tratamento e cura das doenças.
Como se não bastasse, o desmatamento, o agronegócio com seus pesticidas e a acelerada perda de biodiversidade também colocam em risco as plantas medicinais, base material e razão de ser da sua ciência ancestral.
"Para colher as plantas para a nossa medicina, é preciso de ambiente livre de contaminação", explica a organizadora do encontro, a bióloga Daniela Ribeiro, especialista em fitoterapia pela Universidade Federal de Goiás. Segundo ela, diversas plantas com elevado potencial de cura estão desaparecendo.
"É preciso ir cada vez mais longe para encontrar os remédios", conta Daniela. E cita o barbatimão, cuja casca é usada como cicatrizante. Segundo ela, falta também uma política pública que oriente o manejo sustentável e que incorpore as práticas populares no sistema de saúde. "Tudo é canalizado para a grande indústria farmacêutica".
Com incrível capacidade de atravessar os séculos, os chás, unguentos, garrafadas e macerações trouxeram esses curadores até o século 21. Se seguirão adiante, vai depender de escolhas civilizatórias que a sociedade brasileira precisa fazer. Agora.
Apesar de possuir uma megabiodiversidade vegetal e de ter na sua matriz étnica uma mescla inédita de índios, negros e brancos, com um acúmulo espantoso de conhecimento sobre as plantas medicinais o Brasil não conseguiu até hoje incorporar tudo isso em benefício da população.
Nem tão pouco conseguiu aprender com eles a usar os recursos naturais, mantendo a integridade do meio ambiente.
O país não os reconhece. Vivem nas brenhas do sertão, distantes, esquecidos. Por isso o encontro que os reúne esta semana na Chapada dos Veadeiros tem uma importância especial. Aqui eles são vistos e ouvidos. Conhecem e se reconhecem uns aos outros. Saem da invisibilidade.
http://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?58264/Encontro-na-Chapada-dos-Veadeiros-rene-raizeiros-do-Cerrado-Caatinga-e-Amaznia
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