Espanto ambiental

JB, Opinião, p. A10 - 25/02/2006
Espanto ambiental

Completado um ano do assassinato do ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro, é inacreditável que os escandalosos problemas combatidos por ele ainda persistam na Reserva Ecológica do Tinguá, em Nova Iguaçu. E que o caçador Leonardo de Carvalho Marques, de 21 anos, seja o único acusado pelo crime. Como Dorothy Stang, Júlio morreu friamente na mira não só de quem apertou o gatilho mas do medo de um Brasil ilegal que teme a força crescente da consciência ecológica.
Do Pará ao Tinguá, cidadãos de bem - indignados com a destruição da natureza e de seus defensores - assistem, espantados, a uma seqüência interminável de vidas extintas. Entre a barbárie e a impunidade, é possível constatar instituições cada vez mais impotentes diante do avanço dos crimes ambientais e um trágico paralelismo entre as três esferas de poder. Município, Estado e União seguem trilhas diferentes, muitas vezes antagônicas. No caso de Tinguá, o assassinato do ambientalista não garantiu a outros defensores da natureza a proteção da Polícia Militar e da Polícia Federal.
Igualmente desprotegidos estão as florestas, os rios e as espécies, cuja defesa configura um monumental obstáculo às atividades ilegais. Estas transformam o mogno, as araras azuis e princípios ativos da biodiversidade em dólares de horror. Convém ressaltar o dossiê apresentado pela organização não-governamental Defensores Ambientais do Gericinó-Mendanha-Tinguá: a reserva e seu entorno, diz o documento, ainda sofrem com os mesmos problemas. E as promessas de combate às agressões ambientais da região não saíram do papel.
A extração ilegal do palmito, a atuação dos caçadores, a exploração da areia e a ocupação irregular do solo integram a galeria de irregularidades, segundo relato das repórteres Branca Nunes e Waleska Borges no Jornal do Brasil de quarta-feira. A submissão a criminosos ambientais precisa acabar. Assim como a leniência do poder público e ausência de coordenação entre os governos de todos os níveis. Se a consciência ecológica não foi enterrada com Dorothy e Júlio, já passou da hora de dar uma basta à rotina nacional de espanto, horror e desastres ambientais.

JB, Opinião, 25/02/2006, p. A10
UC:Reserva Biológica

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