Estao atirando contra a lei e a democracia

O Glob, Rio, p.17 - 24/02/2005
‘Estão atirando contra a lei e a democracia’

BRASÍLIA e RIO. O secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, classificou como chocante o assassinato do ambientalista Dionísio Ribeiro. Ele divulgou nota defendendo a atuação da Polícia Federal no caso e afirmou que, se as investigações comprovarem que a morte de Dionísio tem relação com sua atuação na proteção do meio ambiente, estará configurada uma grave violação dos direitos humanos”.

— Essas pessoas que atiram contra o defensor de direitos humanos, como no caso da missionária Dorothy Stang e do Dionísio Ribeiro, estão atirando contra a lei e a democracia. Essas pessoas não se conformam com o estado democrático de direito e isso não se pode aceitar — disse Nilmário.

Na nota, ele informou que soube da morte do ambientalista pelo deputado Fernando Gabeira e recorreu também ao deputado estadual Alessandro Molón (PT).

Ministra suspeita de motivação socioambiental”

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, admitiu ontem que o assassinato de Dionísio pode ter motivação que ela chamou de socioambiental. Ela reconheceu, no entanto, que os autores do crime também podem estar ligados a outros problemas na região.

— A natureza do crime pode ser conflito socioambiental, mas pode ser outra, porque essa é uma área com problemas sociais graves. Mas, independentemente da natureza do crime, ele tem que ser esclarecido — afirmou.

Tão logo soube do crime, Marina acionou a Polícia Federal. Ela mesma ligou para o diretor-geral da PF, delegado Paulo Lacerda, e também entrou em contato com o secretário de Segurança Pública do Rio, Marcelo Itagiba, o secretário estadual de Justiça, José Carlos Paes, e a Superintendência da Polícia Federal no Rio. Ela queria garantir que a investigação do caso seja feita de forma conjunta pelas polícias federal e estadual.

O deputado federal Chico Alencar (PT-RJ) mostrou-se preocupado com a truculência dos mandantes de crimes contra pessoas que assumem algum tipo de militância.

— É um caso que guarda semelhanças com as mortes de Chico Mendes e da irmã Dorothy. Ele tinha militância ambiental e foi ameaçado. Há indícios de clima de vingança. Na medida em que as atitudes preservacionistas crescem, a reação de desespero e truculência vai sendo essa. As autoridades têm a obrigação de encontrar os assassinos em poucos dias. E ver se há uma rede de mandantes em torno dos crimes.
PARTICIPARAM DESTA COBERTURA Ana Cláudia Costa, Ana Wambier, Antônio Werneck, Elenilce Bottari, Laura Antunes, Luiza Damé (Brasília), Maiá Menezes, Marcelo Dutra, Maria Elisa Alves, Selma Schmidt, Taís Mendes e Vera Araújo

Notícia já repercute no exterior


A notícia do assassinato do ambientalista Dionísio Ribeiro foi distribuída ontem pelas principais agências internacionais — Reuters, EFE, AP e AFP — e divulgada em sites como os das redes de TV americana ABC e CNN. A página na internet do Swissinfo, da Suíça, também fala da morte do ambientalista.

A Reuters contou que Dionísio foi morto dez dias depois do assassinado da irmã Dorothy Stang, no Pará. A agência também lembrou a morte da feira e enfatizou que o ecologista há anos se destacava por defender uma reserva (a do Tinguá) que ajudou a criar.

A AP afirmou que o ambientalista, que lutava pela proteção de uma importante reserva perto do Rio de Janeiro, morreu baleado em uma emboscada. A AFP destacou que o ambientalista era conhecido por sua luta contra a caça e a exploração ilegal do palmito. Reproduziu ainda frase do gerente da reserva do Tinguá, Luiz Henrique dos Santos, de que defender o meio ambiente se tornou atividade de alto risco.

O Globo, 24/02/2005, Rio, p.17
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