Exportação estimula artesanato

OESP, Oportunidade, p. Co 3 - 02/10/2005
Exportação estimula artesanato
O movimento em prol do comércio justo e solidário abre um rentável mercado para comunidades de artesãos

Lilian Primi

"Cerâmica Serra da Capivara, comunidade Barreirinha, município de Coronel José Dias, Piauí, Brazil". A frase, carimbada nas 300 caixas enviadas para a Itália há um mês, reflete uma vitória para a pernambucana Gisleide Maria Alves de Oliveira, administradora de uma oficina de cerâmica artesanal do Piauí. E é um exemplo, entre muitos, de artesãos que passaram a ter renda mensal e horizonte azul, banhado pela onda do "politicamente correto, ecologicamente perfeito e socialmente justo".
As caixas guardam 4,8 mil peças, compradas pela italiana Ravinala Cooperativa, que irá vendê-las na região do Veneto, junto com outros 852 itens feitos pelas comunidades de artesãos do Brasil. "No ano passado exportamos quatro lotes desses, só que pelo Sebrae. Não tínhamos a documentação necessária", conta. A gerente também conseguiu fechar o primeiro contrato com uma loja na Nicarágua, que comprou 800 peças. "Fico me lembrando das primeiras vendas. Lotava a perua e saía de cidade em cidade".
A fábrica emprega 22 pessoas, que antes da chegada de Gisleide, viviam da caça e da roça de milho e feijão. Hoje têm carteira assinada e ganham, em média, R$ 500 por mês. Engrossam a lista dos mais de 130 mil artesãos espalhados por 24% dos municípios brasileiros que, segundo Durcelice Candida Mascene, coordenadora nacional do Programa de Artesanato do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), são atendidos pela entidade (veja box).
Gisleide conta que no seu caso, o Sebrae oferece apoio técnico. "O projeto é uma iniciativa da Fundação Homem Americano, que paga o meu salário. Temos ainda apoio dos compradores na logística de distribuição." No Brasil, as cerâmicas rupestres estão nas prateleiras das 23 lojas da rede Tok Stok, que também investe na compra deste tipo de produto. "São cerca de 20 grupos de artesãos que fornecem perto de 80 itens", conta Lucia Pinto, gerente de produto de auto-serviço da rede. "Em agosto, vendemos 7 mil peças dessas comunidades". Lúcia diz que as maiores dificuldades ocorrem apenas no começo. "Temos uma logística própria que precisa ser atendida% explica.
Segundo Gisleide "é a Tok Stok quem garante a base para a fábrica" . Em agosto, a rede vendeu 1,5 mil peças da linha Rupestra, que segundo Lúcia, tem ótima aceitação no mercado. "São bonitas, têm qualidade e preços competitivos. E a origem agrega valor", diz.
Na fábrica do Piauí, custam de R$ 3,50 a R$107 (bandeja gigante com 45 em x 30 em). Nas lojas da Tok Stok, de R$ 14,50 (xícara de café) a R$ 39,90 (suplat). E nas lojinhas da Ravinala, adepta do movimento mundial de comércio justo e solidário, são vendidas em média por € 40 (R$ 108,30). "Somos a primeira cerâmica brasileira com certificado de Saúde Pública% orgulha-se Gisleide, que este ano, voltou a produção para o mercado "sob encomenda". "É mais vantajoso. Já fechamos contratos assim com a Fundação Banco do Brasil, Skania (brinde de natal), Ultragás, ProjetoTerra ecom aMaria de Barros no RJ", avalia.
Sebrae promove rodada de negócios e trabalha na abertura de novas formas de facilitar o acesso ao mercado
Durcel ice Candida Mascene, coordenadora nacional do Programa de Artesanato do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), diz que o sucesso da vendas das comunidades é resultado da aplicação de uma metodologia adotada em 1998 pela entidade. "Não focamos a exportação. Damos apoio técnico e procuramos facilitar o acesso ao mercado", diz. Conheça os principais eventos do Programa em 2005:
SALÃO PARAIBANO DE ARTESANATO. (Campina Grande-PB)realizado em junho, com a participação de 110 artesãos. R$110 mil em negócios.
PIAUÍ SAMPA (São Paulo-SP) -E maio, com 14 artesãos piauienses. R$ 80 mil em vendas.
VI FEIRA NACIONAL DE NEGÓCIOS EM ARTESANATO (Recife-PE)-Em julho, com 80 associações dE artesãos e 157 mil visitantes.
II ENCONTRO MINEIRO DE NEGÓCIOS EM ARTESANATO (Montes Claros-MG) - Em agosto, com 40C artesãos mineiros. R$ 400 mil em negócios. No mesmo evento aconteceu uma rodada de negócios, que gerou R$ 1 milhão. Informações: wwwsebrae.com.br

Renda de bilro
ALTA COSTURA- 0 trabalho das Rendeiras do Morro da ~ariana, no Piauí, tornou-se referência para a alta costura, depois que o estilista Walter Rodrigues usou as rendas de bilro nos vestidos da coleção apresentada na edição 2001 do São Paulo Fashion Week. Walter se deixou influenciar e também mudou a concepção do artesanato local, ao introduzir novas cores e técnicas, como o uso de fios de seda, de viscose e lycra. 0 que se vê hoje no estande é uma variedade de cores nas camisas de renda. A presidente da Associação das Rendeiras do Morro da Mariana, Socorro Galeno, lembra o tempo em que ainda não tinha feito cursos do Sebrae, nem conhecia Walter Rodrigues. "Muitos artesãos ganhavam cerca de R$ 50 por mês. Hoje ganham dois salários mínimos ramos 15, mas agora temos 80 associados", festeja.

Diversidade
PARCERIA -Tem todo tipo de produto brasileiro sendo exportado. De panos de prato e bonecas de pano a roupas de algodão natural e móveis de bambu. 0 site da Ravinala (www.ravinala.org) permite o download do catálogo completo. Há ainda exportações para outros países. Fátima Dutra, a Fatinha, por exemplo, de Olhos "D'Água (Goiás), trabalha com palha de milho, de bananeira e tecelagem e teve um de seus trabalhos destacado na Feira de Milão, na Itália. Ela e o marido Beto faturam de R$ 3 m i 1 a R$ 6 mil por mês só com tecelagem. Maria Abadia Coelho, da mesma cidade, teve suas emas feitas de capim vendidas na Alemanha.

OESP, 02/10/2005, Oportunidade, p. Co 3
Comércio Justo

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