Fazendeiro reincidente abate 2 milhões de árvores

OESP, Vida, p. A20 - 28/07/2005
Fazendeiro reincidente abate 2 milhões de árvores
Ele já havia derrubado em 2004 um trecho equivalente a 2.800 campos de futebol em área protegida no sudoeste do Pará. Sem responder a processo, desmatou agora 8.900

Carlos Mendes

O coração da Terra do Meio, no sudoeste do Pará, está ardendo em chamas. Fiscais do Ibama e policiais militares de Marabá flagraram cerca de 2 milhões de árvores derrubadas e queimadas pelo fazendeiro José Dias Pereira, que foi multado em R$ 20,5 milhões. Ele destruiu a floresta para criar gado e iria começar a jogar sementes no pasto quando os agentes chegaram de surpresa. Foi o maior desmatamento registrado este ano na Amazônia.
Pereira mora em Ourilândia do Norte, no sul do Pará, e é reincidente em devastar e queimar a floresta amazônica. No ano passado, foi multado por mandar derrubar e incendiar uma área da mesma fazenda do tamanho de 2.800 campos de futebol. Mas nem foi denunciado ou responde a processo por crime ambiental.
Embalado pela impunidade, decidiu ser mais ousado e agora pôs no chão mais 8.900 hectares - ou 8.900 campos de futebol - da fazenda localizada a mais de 500 quilômetros de Altamira. A área, segundo o Ibama, está dentro da Estação Ecológica da Terra do Meio, criada no começo do ano por decreto presidencial.
Os fiscais desceram de helicóptero no local e conversaram com empregados do fazendeiro, que trabalhavam com tratores e motosserras para limpar o solo. Mas nenhum equipamento foi apreendido. Isso só será possível numa operação com forte contingente policial e de veículos. A área devastada é de difícil acesso por terra. Uma ponte destruída por grileiros e madeireiros que atuam clandestinamente na região impede a passagem de veículos.
O chefe da fiscalização do Ibama de Marabá, Norberto Neves, disse ser necessária a presença do Exército na região para reprimir a destruição cada vez maior da floresta. O Ibama não tem fiscais suficientes para atuar dentro dos 8,5 milhões de hectares da Terra do Meio, que é hoje toda protegida por lei federal.
O avanço da pecuária em área onde antes havia apenas a extração ilegal de madeira, na avaliação do gerente-executivo do Ibama de Marabá, Ademir Martins, é um fato preocupante. "Nós já identificamos isso e estamos agindo para punir os infratores." Ele acredita que uma ação integrada de órgãos ambientais, fundiários e da polícia poderá reduzir os crimes contra a floresta no sul e sudoeste paraenses.
'TODO MUNDO FAZ'
Na sede da fazenda, 30 homens contaram aos fiscais que tinham ordens de Pereira para continuar o serviço, mesmo com a presença dos agentes. Sem querer se identificar, um filho do fazendeiro reconheceu que seu pai não tinha autorização para queimar a floresta. Mas justificou a seu modo: "Nós fazemos isso, porque todo mundo também faz". A forma mais barata de transformar a mata em pasto, para ele, é por intermédio do fogo.
No ano passado, a Amazônia perdeu 26 mil quilômetros quadrados de suas florestas, a maioria em Mato Grosso. No começo do ano, o Ibama suspendeu todas as autorizações de desmatamento na região, principalmente no Pará, e alega que as terras de onde a madeira era retirada são públicas e não privadas.
Os madeireiros estão pressionando o governo federal, exigindo a liberação de seus projetos, e ameaçam interromper novamente, a qualquer momento, o tráfego no Rio Amazonas e nas Rodovias Santarém-Cuiabá e Transamazônica.

OESP, 28/07/2005, Vida, p. A20
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