Fiscal da Reserva do Tinguá é ameaçado

Fiscal da Reserva do Tinguá é ameaçado
Márcio das Mercês denuncia comércio

O fiscal do Ibama na Reserva Biológica do Tinguá, Márcio das Mercês, 53 anos, sofreu mais uma ameça de morte enquanto trabalhava. Mercês e cinco voluntários foram intimidados, na manhã de terça-feira, por um grupo de comerciantes que ocupa ilegalmente a reserva em Xerém, na Baixada Fluminense. Segundo o fiscal, 30 tendas para venda de alimentos e bebidas foram montadas dentro da unidade. Depois do assassinato do ambientalista Dionísio Júlio Ribeiro, ano passado, Mercês é apontado como o próximo alvo dos criminosos.
- As tendas são restaurantes improvisados com churrasqueira, freezer, equipamentos de som. Algumas têm até cama e colchões - conta Mercês, que denuncia o acúmulo de lixo.
O fiscal e os voluntários foram cercados pelos comerciantes quando chegaram na reserva, por volta das 9h. De acordo com Mercês, a ameaça do grupo teria sido direta com o recado: ''Vamos descer a favela e buscar armamento pesado para pulverizar os fiscais do Ibama que querem a nossa saída daqui''. Depois da intimidação, Mercês chamou o 15o BPM (Duque de Caxias). Apesar da presença dos policias, por segurança, ele decidiu cancelar a fiscalização. Uma nova operação - com a presença das polícias Militar e Federal - será montada ainda esta semana.
O gerente do Ibama no Rio, Rogério Rocco, disse que vai pedir um relatório sobre a visita dos ambientalistas em Xerém para tomar as providências necessárias contra a presença dos comerciantes. Rocco informou que há a possibilidade de aumentar o número de fiscais no Rio - ainda este ano - com a convocação do último concurso do Ibama.
Para o chefe da reserva, Luiz Henrique dos Santos Teixeira, a presença ilegal de comerciantes tende a aumentar nas férias e no carnaval. Segundo ele, há um mês, durante outra fiscalização do Ibama, não foi verificada a presença de comércio na reserva.
Na manhã de ontem, ecologistas, estudantes e moradores do entorno da Reserva do Tinguá lembraram um ano da morte do ambientalista Júlio Ribeiro. Eles plantaram na praça do bairro uma muda de ipê amarelo. Como mostrou ontem o JB, a região ainda sofre com os mesmos problemas denunciados por Júlio: extração ilegal do palmito, atuação de caçadores, exploração de areia e ocupação irregular do solo.

JB, Cidade, 23/02/2006, p. A12

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