Fogo ainda ameaca Alcatrazes

OESP, Vida, p.A18 - 04/12/2004
Fogo ainda ameaça Alcatrazes
Marinha não revela os danos causados à biodiversidade da ilha
Herton Escobar
Notícias de um incêndio na Ilha de Alcatrazes, no litoral norte de São Paulo, continuam a atormentar pesquisadores e ambientalistas que trabalham com a preservação do local, três dias após a detecção dos primeiros sinais de fumaça. Novas chamas foram vistas na madrugada de ontem por moradores de São Sebastião, mas não há informações oficiais sobre o tamanho da área atingida ou a magnitude dos danos causados à biodiversidade. A situação está sendo gerenciada pela Marinha, que usa o arquipélago como alvo para treinamento de tiro e até agora não permitiu que imagens sejam feitas do local, a mais de 35 quilômetros do continente.
Os primeiros relatos de fogo surgiram na terça-feira, quando a Marinha fazia exercícios no arquipélago. Na quarta-feira, as informações eram de que o incêndio estava encerrado, mas o surgimento de novas chamas fez soar mais uma vez o alarme. Procurada pelo Estado, a Marinha informou que foram detectados focos de incêndio ontem e quinta-feira. O combate foi feito com o apoio de embarcações e três helicópteros - dois deles equipados com dispositivos para transportar água.
Na manhã de ontem, segundo a Marinha, "já não se observava mais fogo ou fumaça". Uma equipe de combate deveria permanecer na ilha durante a noite. Equipes dos Bombeiros e do Ibama também ajudaram no rescaldo.
Moradores, pesquisadores e ambientalistas, entretanto, estão pessimistas. "Soube de relatos da própria Marinha de que pegou fogo em tudo", disse o coordenador do Projeto Alcatrazes da Sociedade de Defesa do Litoral Brasileiro, Fausto Pires de Campos. Choveu durante todo o dia ontem em São Sebastião, o que pode ter ajudado a combater o incêndio, mas dificultou a visão do continente.
Para os cientistas, a ilha serve como um importante laboratório de pesquisa de espécies endêmicas de répteis e anfíbios. Entre elas, a jararaca-de-alcatrazes e um sapo ainda não descrito, que vive justamente na área de tiro da Marinha.
Parte da ilha é protegida pela Estação Ecológica Tupinambás, gerenciada pelo Ibama. O instituto, entretanto, não tem barco adequado para chegar até o arquipélago, o que retardou sua capacidade de responder ao incêndio. A gerência local teria feito um sobrevôo da ilha apenas ontem, com um helicóptero da Marinha, mas ninguém foi encontrado para comentar a situação.

OESP, 04/12/2004, p. A18
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