Fogo está perto de área com espécie em extinção

Fogo está perto de área com espécie em extinção
Região da Serra dos Órgãos, a 2.200 metros de altura, abriga mais de 60 tipos de plantas nativas
Fábio Teixeira / Jacqueline Ribeiro


RIO - O incêndio que atinge áreas verdes da Região Serrana há 14 dias, e já afetou mais de 3.500 hectares, sendo 1.550 deles dentro do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (Parnaso), se aproxima do habitat natural de uma espécie em risco de extinção. De acordo com técnicos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Ibama, as chamas estão próximas do chamado Vale da Morte, local onde vivem os muriquis, uma espécie de macaco. De acordo com relatório de 2011 do ICMBio, há menos de três mil desses animais no mundo. Desde sábado, o fogo atinge uma região a 2.200 metros de altitude, que possui um dos ecossistemas mais raros da Mata Atlântica.
- É uma região de valor intangível. Por ser de difícil acesso, é pouco pesquisada. Pode haver ali espécies que desconhecemos - afirma o coordenador de emergências ambientais do ICMBio, Christian Berlinck.
Técnicos do instituto afirmam que os campos de altitude contam com mais de 60 espécies nativas de plantas, além de vários animais típicos, entre répteis, aves e mamíferos.
FALTA APOIO AÉREO
Até o fim da tarde de ontem, as chamas atingiam a vegetação no Portal do Hércules, na entrada do Vale da Morte. Se o fogo chegar ao local, será impossível combatê-lo sem a apoio aéreo, pois o local é inacessível por terra. O ICMBio e o Ibama solicitaram à direção dos órgãos em Brasília um helicóptero especializado nesse tipo de ação.
- Por enquanto estamos fazendo monitoramento. Temos 19 pessoas no local. Para lutar contra um incêndio precisaremos de um helicóptero com maior capacidade de carregar água do que temos agora - afirma o gerente estadual do centro de prevenção e combate aos incêndios florestais do Ibama, Marcelo Oliveira.
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No total, são 98 pessoas atuando no controle às chamas no interior do parque. Destas, 78 são brigadistas, acampados em três diferentes pontos, um deles perto do Vale da Morte. A altitude tem dificultado o trabalho. O helicóptero do Ibama, que chegou no sábado, ainda não conseguiu lançar água sobre a vegetação. O piloto Walter Navarro, com dez anos de experiência, considerou que seria arriscado se aproximar dos focos.
- Quanto maior a altitude, mais perigoso, pois o ar é mais rarefeito. O vento está forte e a fumaça, se entrar no motor, pode causar uma pane.
Uma nova tentativa de lançar água sobre a vegetação será feita hoje. De acordo com Berlinck, a falta de apoio aéreo está sendo o principal problema.
- Temos uma grande dificuldade para deslocar nosso pessoal. Não tem como ser feito por terra.
BALÃO É APREENDIDO POR PMS
Fora do parque, nos distritos de Petrópolis, cerca de 200 bombeiros atuaram ontem com quatro helicópteros para conter as chamas nas proximidades de residências. Ao longo do dia, foram contidos focos em seis pontos diferentes, divididos em três regiões: Itaipava, Secretário e Pedro do Rio.
- Tivemos 180 lançamentos de água por ar no sábado. A última equipe retornou ao quartel às 2h15m. Apesar de o fogo ter chegado perto de residências, os focos não oferecem risco. Não tivemos nenhuma casa atingida, e não teremos. Estamos trabalhando para isso - afirma o comandante dos bombeiros na Região Serrana, coronel Roberto Robadey.
Na tarde de ontem, um novo foco de incêndio poderia ter sido causado por um balão. Com 20 metros de comprimento, ele passou a tarde de ontem flutuando nas imediações do parque e de Petrópolis, sendo monitorado tanto pela equipe do parque quanto pelos bombeiros. Quando caiu, foi apreendido por PMs do Comando de Polícia Ambiental
- Demos sorte de o balão cair em uma área que já estava queimada. Caso contrário, teríamos outro foco de incêndio - conta o subtenente Aldimar Cabral. - Balão não é comum aqui. Com certeza, esse veio da Baixada.

O Globo, 20/10/2014, Rio, p. 16

http://oglobo.globo.com/rio/fogo-esta-perto-de-area-com-especie-em-extincao-14299425

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