Gente da Floresta: Francisco e Sebastião mudaram de vida explorando a borracha sustentável no Acre

WWF - http://www.wwf.org.br - 17/07/2015
"De uma coisa tenho certeza: meus filhos não vão se sujeitar aos mesmos sacrifícios que fiz para trabalhar com a borracha. Eles estão vivendo um tempo muito bom. É bem diferente de antes".

É deste modo que o seringueiro Francisco Pinto Filho, 57 anos, resume a vida de um grupo de seringueiros dos municípios de Feijó e Tarauacá, no Acre.

Morador da região conhecida como Parques das Ciganas, em Feijó, Francisco vive em uma propriedade de 150 hectares (cerca de 150 campos de futebol) e trabalha com a Folha Defumada Líquida (FDL) da borracha - um tipo mais sofisticado do produto, com maior valor agregado e que gera mais rendimentos aos seringueiros.

Francisco é um dos 50 extrativistas que, desde 2009, recebem apoio técnico e financeiro do WWF-Brasil para explorar, através de boas práticas, o material da seringueira, além de receber auxílio para vender sua produção em mercados diferenciados.

Qualificação e melhoria

O apoio à cadeia produtiva da borracha faz parte do projeto Protegendo Florestas - uma parceria do WWF-Brasil, do Governo do Acre, da rede de televisão britânica Sky e do WWF Reino Unido.

Como parte desta iniciativa, o WWF e seus parceiros investiram na qualificação dos seringueiros, na melhoria da borracha e no estabelecimento das bases justas para as transações comerciais. Quando o projeto teve início, os seringueiros recebiam R$ 5 por quilo de borracha FDL - hoje, este preço já ultrapassa R$ 10,50, uma valorização de 210% em poucos anos.

"Nunca sonhei em vender o quilo da borracha a esse preço. Antes, isso era um sonho muito longe, distante, quase impossível", explicou Francisco, entusiasmado.

Este resultado só foi possível porque o WWF-Brasil intermediou, junto ao Governo do Acre, para que políticas públicas de subsídio fossem implementadas. Essas políticas ajudam a compor o preço final do produto, aumentando o valor do quilo da borracha e, consequentemente, a renda dos seringueiros.

Grande ajuda

Francisco foi um dos primeiros seringueiros a se voluntariar para o trabalho junto ao WWF-Brasil, ainda na fase de "projeto piloto". Hoje, ele retira anualmente cerca de 200 quilos de suas florestas, obtendo uma renda de R$ 2,2 mil somente com este produto.

Para quem vive dentro da floresta e tem pouco acesso a fontes de renda, vive basicamente de agricultura de subsistência e de troca de produtos, este dinheiro é de grande ajuda e auxilia na compra de utensílios como móveis, equipamentos para agricultura e reforma de casas.

Para ele, uma das maiores vantagens em trabalhar com a borracha nativa é o fato de que, ao fazê-lo, o seringueiro "mexe pouco" com a floresta. "Mesmo você explorando todos os anos, a floresta fica sempre do mesmo jeito - Não é como a madeira, por exemplo, que você derruba uma árvore e ela leva uns 200 anos para ficar daquele jeito de novo", disse.

A floresta, segundo ele, é um dos mais valiosos recursos das populações tradicionais, e deve ser protegida a todo custo. "Na floresta você tem açaí, coco, patoá, mel de abelha, milho, farinha... Se acaba a floresta, acaba a caça, a água, a chuva. A floresta nos alimenta e nos protege", explicou Francisco.

Reformas

Outro seringueiro que teve sua vida modificada com este trabalho foi Sebastião Lima Gomes, 32 anos. Morador do Seringal Barés, em Feijó, ele extrai da floresta, todos os anos, entre 400 e 500 quilos de borracha, que rende algo em torno de R$ 4 a R$ 5 mil por ano só com borracha.

Com este dinheiro, Sebastião trocou o telhado de sua casa, construiu uma varanda e comprou utensílios domésticos como fogão e um telefone rural, que ele usa para se comunicar com as pessoas de fora de sua comunidade.

"Este dinheiro da borracha é uma ajuda boa, que melhora muito a vida de gente como nós, que vive no meio da floresta. E tem outras vantagens: é um trabalho que faço em poucos meses, apenas em junho, julho e agosto; e é o tipo de serviço em que você começa a trabalhar na segunda e na sexta já está com o dinheiro em mãos", disse, referindo-se a um acerto que permite o pagamento do seringueiro assim que ele entrega sua produção na sede da associação ou da cooperativa responsável.

Sebastião esteve recentemente no intercâmbio promovido pelo WWF-Brasil, WWF-Peru e WWF-Bolívia que reuniu 32 seringueiros para trocar experiências sobre a produção de borracha no Brasil e Peru. Em toda a sua vida, esta foi a terceira vez que ele saiu da pequena cidade de Feijó.

Comércio justo

O Protegendo Florestas promove ações que ajudam famílias de produtores e extrativistas a gerar renda de forma sustentável com a venda de produtos como açaí, borracha e copaíba. Assim, é possível combater o desmatamento dentro das propriedades rurais.

Além disso, por meio de atividades como essa, é possível fomentar o comércio justo de produtos florestais, mantendo as florestas brasileiras em pé e permitindo que comunidades ribeirinhas, extrativistas e populações tradicionais tenham opções de geração de renda.

Reconhecendo a importância deste trabalho, desde 2011 a empresa francesa Vert compra a produção de borracha dos produtores do município de Feijó e dos moradores da Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, da cidade de Assis Brasil. Os franceses usam esta matéria-prima para fabricar sapatos. Em 2013, a empresa gaúcha Mercur entrou neste projeto e começou a comprar a produção das comunidades da cidade de Tarauacá.

O objetivo final é garantir a conservação de 164 mil quilômetros quadrados de floresta no Estado do Acre - além de manter um bilhão de árvores em pé naquele território.



http://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?46743/Gente-da-Floresta-Francisco-e-Sebastiao-mudaram-de-vida-explorando-a-borracha-sustentavel-no-Acre
Florestas:Extrativismo

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