Grande Sertão

CB, Lugares, p. 1-8 - 07/07/2004
Grande Sertão
(O parque)
Conheça a reserva ambiental criada para preservar os Campos Gerais, paisagem que inspirou Guimarães Rosa na criação de um clássico da literatura

Sebastião Vicente (textos) Carlos Moura (fotos)
Da equipe do Correio

Espanto nenhum, senhor ou senhora. Caso aqui não é bem de convidar. Em antes, de desconvidar. Na primeira batida do olho, cerradão enjoa. O viajante precisa ter olho com lente de ler minúcias. Está tudo ali onde, diz o povo, mora o Sem-Nome - nos detalhes. Para chegar nele, paciência. Vistoriar a mata como quem fiscaliza a si mesmo, por dentro. E tempo, que no sertão é composto de matéria mais elástica. No completo, para torar por ele, só com montaria possante. Dias de ontem, cavalo forte. Hoje, jipão robusto. Esses quatro-por-quatro. Por outra, nem venha.
Sabe conversar com o silêncio, gosta de escutar o lho-ro-ró do riacho triscando em toco seco? É boa providência que aprecie tais solidões. Pois no sertão que inspirou Guimarães Rosa ainda se viaja horas e horas sem ver viv'alma. E bicho não marca hora - aparece quando quer, ligeiro, só de mostra. Tempo, paciência, jipão robusto, minúcias. Vá juntando. Outro elemento: viagem se recomenda para quem gosta de cerrado, mas não é homem ou mulher de meio-dia com orvalhos. Alguma fibra, desconforto muito. Região meio desprovida, uns hoteizinhos de dormir - e só. Ponto de partida é Chapada Gaúcha, agrovila que virou cidade lá pelo ano de 96. Município-redemunho. Quem está na estrada é para se empoeirar.
Pra externar de vez os assuntos: a chapada, as veredinhas demarcadas por buritis ou a cachoeira Mato Grande satisfazem mais os filhos, netos e bisnetos literários de Riobaldo, herdeiros das mirações de Diadorim, contra-parentes de Hermógenes. Povo calejado de desbravar livro grosso e seguir caminho de letra. Desse que agora quer mesmo é ver-o-lido em paisagem de fato. Andar por onde personagem passou. Na fala de Riobaldo-Guimarães: ''Daí em longe, os brejos vão virando rios. Buritizal vem com eles, buriti se segue, segue. Para trocar de bacia o senhor sobe, por ladeiras de beira-de-mesa, entra de bruto na chapada, chapadão que não se devolve mais. Água ali nenhuma não tem - só a que o senhor leva.''
A pois, me desdigo: vá! Ou venha! Só não espere exuberâncias amazônicas ou praieiras nesses campos gerais de Minas, parede-e-meia com Bahia e Goiás. Viver é muito perigoso? Viajar de pouso precário, em jipe possante, com cantil de água e mochila de lanche, pode ser também. Mas vale.

Vastidões e minúcias dos Gerais
Circunstância de 40Km. É a distância da sede do município de Chapada Gaúcha até a entrada principal do Parque Grande Sertão Veredas. Parece mais. Demora muita. Cerrado imenso ondulando na janela do carro, que chacoalha - rodas soltas sobre barranco ou terreno arenoso, atoleiro à espreita. Parece que não vai chegar nunca - mas chega. Placas informam onde o parque começa. Por enquanto, a infra-estrutura é só essa. Poucas placas, muita estrada de terra cortando o sertão labiríntico que só se deve atravessar com guia do Ibama.
O lugar ainda não está aberto à visitação. Justo por não ter centro de recepção, banheiro, restaurante, plaquinha de indicação, geografia demarcada. Mas, aqui e ali, recebe sim, um visitante. Devidamente autorizado pelo Ibama, que tem escritório em Chapada Gaúcha, com gente que conhece bem cada buritirana desses caminhos. O que mais aparece é afilhado informal de João Guimarães. Da qualidade de leitor-pesquisador apaixonado pelos textos do mineiro de Cordisburgo, querendo conhecer a região onde ele esteve por 45 dias, nos anos 50, acompanhando boiadeiros, e de onde tiraria a matéria de composição do Grande sertão: veredas, o livro. Visitante de lugar grande em busca do sertão como ele é. A doce brutalidade dos Gerais, sem enfeite.
Campos Gerais. Esse é o nome de guerra da região há umas tantas gerações. Naqueles tempos, de guerra de jagunços e pacto com o Coisa-Ruim, era uma terra que metia medo - assim feito o Liso do Suçuarão que o escritor mineiro descreve no seu clássico, pela voz de Riobaldo: ''Pra lá, pra lá, nos ermos. Se emenda com si mesmo. Água, não tem. Crer que quando a gente entesta com aquilo o mundo se acaba: carece de se dar volta, sempre''.
Esse liso, na ficção ou de fato, há de saber?, era o pior dos Campos Gerais. Que, no todo, era - ou é - formado por toda a região onde correm os afluentes da margem esquerda do rio São Francisco. Noroeste de Minas, pedaço da Bahia, cantinho de Goiás. Na justa medida, 13 milhões de hectares, dizem. Para o visitante afoito, pouco importa. É uma amplidão tamanha que contar diferença não faz. ''O sertão é do tamanho do mundo'', já dizia João-Riobaldo.
Mas naquele tempo não havia plantio de soja e capim, agricultura mecanizada, produção em escala. Logo, logo, esse outro mundo, de cá, iria se chegando às chapadas dos sertão, o ermo extremo. Corria a década de 70, o asfalto da BR-020 (Brasília/Fortaleza) e os baixos preços das terras atraiam agricultores do Sul. Não é por acaso que o lugarejo mais próximo do parque se chama hoje Chapada Gaúcha. Continuando: onde tinha terreno plano, mato se deitou. Substituído por lavoura de soja, manejada por máquinas. Ou capim pra revender. Vá e veja. O cerrado nativo encurralado aos pouquinhos. Empurrado para os terrenos acidentados, onde o empreendedor sulista não gosta de desenvolver plantio. Aí surgiu outro personagem que não está nos livros de João Guimarães. Nem capiau nem jagunço. Um tal de ecologista, tanto faz se geógrafo, engenheiro florestal, biólogo.
Foi ali por 1989. Alguma coisa ia mudar. Os ecologistas da Fundação Pró-Natureza, a Funatura, organização não-governamental com sede em Brasília, ganharam uma guerra sem jagunço. Conseguiram que o Ibama decretasse a existência do parque. Decreto criou. O nome já estava lá, esperando à sombra das veredas. O mesmo do livro que para muito brasileiro ainda é o mais próximo que eles sabem sobre esse rincão.
Um parêntese: só pra especificar a constituição da vereda, aquela que o título do livro também celebrizou. Não é bem caminho aberto no mato, como parece. É coisa de maior valia. Ai do sertão dos Gerais se não fosse a vereda. É um cursinho d'água, pequenos córregos que garantem um mínimo de umidade no cerradão. Para o capiau de ontem ou para o visitante de hoje, um oásis. O filetinho sussurrando suas humildades, a modéstia do verde restrito, que a escassez faz poderoso. Quer saber onde há uma? Procure os butiris. Onde tem buriti tem vereda. A palmeira nasce ali, semeada pelos pássaros - uma atrás da outra, quase fila indiana, como se disposta pelas réguas de Deus. E tem atoleiro, viu? Andar na vereda, só olhando pro chão.
A pois: na área do parque, há também trechos de ''carrasco'', que vem a ser uma flora de transição, a meio caminho entre o cerrado do Centro-Oeste e a caatinga nordestina. O Grande Sertão é o único parque nacional que tem esse tipo de vegetação. Nuns e noutros, as principais espécies presentes são o pequi, a aroeira, o araticum, o pau-terra, o jatobá-do-campo, entre outros, espalhados pelos campos de gramíneas, nos varjões cheios de buritis e buritiranas. Rasgando as vastidões, o rio Preto, um dos principais cursos d'água. Mas tem, também, nas cercanias, a nobreza do rio Urucuia, citado e recitado nas páginas do Grande sertão. E também em Sagarana, livro de contos de Guimarães. Neste, vá direto às últimas páginas, ao encontro de Augusto Matraga - aliás, Nhô Augusto - que se refugiou pr'as bandas do Urucuia enquanto esperava chegar sua hora e sua vez, conforme o título do conto famoso.
Capítulo dos bichos, muitos sob risco de extinção: no parque tem lobo-guará, ema e seriema, arara-vermelha, tamanduá-bandeira, veado-campeiro e suçuarana. Precisa sair listando mais? Pode criar ilusão nas expectativas de quem se impressiona fácil. É que, já se disse, mas convém redizer, bicho não usa relógio. Olhe, até usa. Tem as horas de sair das tocas, farejar alimento. Início da manhã, finalzinho da tarde. É nessa hora que o senhor ou a senhora deve chegar no mato para ter oportunidade de ver. Mas sem papel passado que bicho livre no cerrado não gosta de gente nem faz contrato de se mostrar. Até aparece, mas assim de passagem, se quem mira se fizer quieto, barulho nenhum - tocaia de paz. Errado seria dar qualquer garantia. Ver bicho? É sorte. Graça do cerrado é a dificuldade.

Uma amostra do Brasil rural
Domingo, sete e meia da manhã. Céu se firma, poeira se assenta. No meio, nariz respira qualidades intermediárias: ar limpinho no coração da vila. Do Brasil, pode-se dizer? A pois, sim. Meio gaúcha, meio mineira. Cara de fronteira tem esse lugar. Começa o dia do viajante na acanhada mas brasileirinha sede do município de Chapada Gaúcha. A antiga Vila dos Gaúchos, que virou cidade em 1996, mas conserva o jeitão de agrovila. Lugar exato para quem quer mostrar aos filhos pequenos, infantes urbanóides, o que é o Brasil rural.
Quando o dia se adianta, o ar limpinho vira poeirão levantado pelos pneus das camionetes estradeiras. Muito trator e os pátios das casas mais parecem estacionamento de máquinas agrícolas. São poucas ruas distribuídas em torno de duas avenidas principais. Ruas largas, de terra. Avenida plana. E, nela, um cruzamento carregado de simbolismo: avenida Getúlio Vargas com Tancredo Neves. Mineiro com gaúcho. Se o visitante ficar parado por uns dez minutos bem nesse local vai ter uma noção de como é a vida aqui. Basta olhar em volta, o povo, os tratores, as camionetes, o comércio acanhado, o céu abobadado, as placas dos carros - Araraquara (SP) e Jequié (BA), só para ficar em dois exemplos da diversidade.
Os mineiros já estavam lá, vivendo da culturazinha de subsistência - como muitos vivem hoje. Os gaúchos vieram depois, década de 70 do século passado, com um desafio empreendedor no bisaco. ''Quando viemos para cá, diziam que éramos loucos, fugidos da polícia'', diverte-se o prefeito, Eloe Baron, um gaúcho falador, pioneiro da migração. Corria o ano de 76 quando chegou, junto com outros seis aventureiros. ''Era nós e Deus'' - e os mineiros do lugar, naturalmente. ''Na época, o pessoal saía do Sul e ia para Mato Grosso, Goiás, Unaí, Paracatu, Buritis, Patos de Minas'', desfia a memória. Hoje, colônia estabelecida, soja rendendo, capim plantado, dinheiro circulando, prefeito sulista, como fica a convivência com os mineiros? ''O bom é a misturança'', resume Baron.

Violas e folias
Folião de respeito faz festa até para defunto. E não é por desenvolver motivo à toa para farrear. É por correção, mesmo. Coisa de obrigação. Toda vez que a Folia de Reis passa, a caminho de algum lugar, pelo portão de um cemitério, tem por dever entrar e cantar - saudar, para usar uma palavra mais condizente. Celebração para as almas, que também são filhas de Deus. ''Não pode deixar de entrar; é contra.'' Quem conta esse mandamento folião são os irmãos Antônio Bento e Ildefonso Cardoso, integrantes do Folia Aliança, natural do município de Urucuia (MG).
Histórias como essa brotam aos borbotões nas conversas com figuras como Antônio, Ildefonso, Joaquina, seu Henrique ''Quente'' e Sislei Cigano. É tudo gente do sertão dos Gerais, moradores das vizinhanças do Parque Nacional Grande Sertão Veredas, seja em Urucuia ou na Serra das Araras. Está nas mãos desse povo aquilo que os intelectuais chamam pomposamente de ''sobrevivência das manifestações culturais'', os professores primários de "folclore'' e os jovens universitários de ''cultura de raiz''. Nome é linguagem - impressiona mesmo é ver como essas ''manifestações'' continuam vivas, ou foram recuperadas, nesse pedaço dos Gerais. E, especialmente, perceber que não há, nas apresentações dos grupos de Folia de Reis - e outros tipos de música e dança - o menor esforço para parecer ''autêntico'' ou ''cultural''. É apenas um tipo de rito ou diversão - ou as duas coisas juntas - natural. Eles não tocam, cantam e dançam para turista ver. Fazem tudo para a diversão - ou a devoção - deles mesmo.
É verdade que um evento anual realizado pela terceira vez em abril último ajudou a dar um empurrãozinho. O Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas foi idealizado e organizado pela Fundação Pró-Natureza (depois seria quase que totalmente assumido pela Prefeitura de Chapada Gaúcha e pelos próprios participantes) como uma maneira de levantar a auto-estima dessa gente que passa o ano inteiro oculta nos rincões. A idéia do encontro faz parte do pacote que busca integrar a conservação da área do parque com a gente do lugar. Este ano, o Lugares esteve lá. Os grupos que você vai conhecer nestas páginas - assim como a Folia Aliança - apresentaram-se no encontro mais recente. Mas esse não é o único evento de que participam. Há apresentações espalhadas ao longo do ano.
No caso das folias, é no período natalino que se ouve o som dos foliões, com suas rabecas, violas curraleiras, caixas e outros instrumentos, nos rituais de saudação da lapinha - o presépio com o menino Jesus. Mas, de vez em quando, o calendário oferece um ''festival'' onde a presença dos ternos é coisa certa. Na região de Chapada Gaúcha, sempre que há um desses festivais - também chamados de ''encontro de folias'' - a Folia Aliança está lá, comandada por um ''imperador'' ou ''imperatriz''. Dona Joaquina Oliveira, 69 anos, irmã de Antônio Bento e de Ildefonso, é uma espécie de patrocinadora desse grupo. Funciona assim: a ''imperatriz'' faz um pedido aos santos (a ''promessa'') e, sendo atendida (recebendo a ''graça''), ''cumpre o voto''. Quer dizer: banca a folia.
Mulheres do Ribeirão
Melhor do que a Folia de Reis é quando, depois dela, vem um complemento como os cantos e danças do Grupo de Mulheres do Ribeirão de Areia. São umas doze mulheres com idade dos 17 aos 64 anos que redescobriram uma diversão cultivada pelos antepassados. ''As avós cantavam e a gente gravou'', conta Pedrelina Gomes, 49 anos. As mais novas, como Gelma, 17 anos, até que resistiram um pouco. Mas o apelo e a facilidade da dança acabaram vencendo. E nenhuma delas sabe explicar mais exatamente de onde vieram e como foram criadas as danças que executam, como a ''do Sabiá'' e a ''do Carijó'', com acompanhamento de viola e rabeca.
''Essas modas antigas estão todas voltando'', anima-se Maria dos Reis Nunes, moradora de Chapada Gaúcha que foi ao Encontro dos Povos do Grande Sertão para matar a saudade. Sentia falta das irmãs, primas e conhecidas residentes em Ribeirão da Areia, distrito situado a 23Km das ruas de Chapada Gaúcha. Quando morava em Ribeirão, Maria costumava dançar com as amigas no Grupo de Mulheres. E, no dia do encontro, lá estava ela... sem a roupa típica, apropriada para as danças. Não seja por isso: Maria caiu na dança com as amigas, sem constrangimentos. Só evitou as fotos, para não estragar a caracterização do grupo.
Confidências da rabeca
Pode-se dizer, com uma certa liberdade no uso das palavras, que Henrique ''Quente'' é um garotão esperto com 56 anos de folia. De idade, são 74. Os primeiros contatos com a rabeca, como aprendiz, começaram aos sete anos. Por duas vezes, ele foi imperador - patrocinou as apresentações dos foliões. Gosta de exibir no pescoço a toalha com os três reis magos estampados. Rabeca em punho, ele passeia entre os participantes do Encontro dos Povos do Grande Sertão com aquela solenidade informal dos senhores mais velhos que não se envergonham da idade, experiência acumulada. Juventude é a vontade de tomar uma dose de cachaça entre uma apresentação e outra - desejo que ele não faz a menor questão de esconder.
Se a rabeca de seu Henrique falasse - e ela quase fala, naquela fina sonoridade de além das serras - iria contar muitas histórias sobre seu dono. Poderia dizer, por exemplo, que ele, embora não tenha sido propriamente um contemporâneo, conheceu muitos jagunços do bando do temido Antônio Dó, cangaceiro temporão que foi uma espécie de Lampião de Minas. ''Valentão... São Francisco (um distrito próximo) foi arrasada muitas vezes'', interrompe o folião. Espera, seu Henrique, deixa a rabeca contar mais.
A musiquinha tirada de arranhão lembra que seu Henrique é do tempo em que, naqueles campos, só se via ema correndo. E havia ainda aquele mundão de ''carrasco'' (flora intermediária entre o cerrado e a caatinga) - onde, para o sujeito passar sem tanto arranhão, era preciso botar sebo no corpo. Ora, mas havia as festas - continua a confidenciar a rabeca. Seu Henrique, ainda meninote, via o terno de reis, ''copiava para a cabeça'' e depois tocava. Igualzinho.
E esse apelido, Henrique ''Quente'', de onde vem? A rabeca não conhece segredos. Rasga o ar num acorde indiscreto e está conhecida a origem da troça. Nesses Gerais, de gente que durante anos viveu meio isolada do mundo, não é de estranhar que até os apelidos se tornem hereditários. Foi o que se deu. O pai de seu Henrique já era ''Quente'' - Chico Quente - como ele também seria, bastando apenas crescer um bocadinho. E por quê? ''É porque é sambista!'', ri seu Henrique, aborrecendo a rabeca por lhe tomar a palavra. Quando diz isso, ele dá um pulinho, com quem dança durante uma folia. E mais não explica - precisa?
Agora que tomou a palavra, seu Henrique não larga dela. Como a rabeca é mais afeita às coisas festeiras da vida, convém deixar que o dono, com aquela ar majestoso dos idosos orgulhosos de sua vivência, formule a declaração final. Ouça bem e guarde na memória, para quando for visitar o Grande Sertão. É uma definição sobre todas essas festas e festejos da região. Quer dizer: é e não é. É mais. É assim: ''Reis é reza, não é cantiga. Cantiga é lundum''.
Violeiros
Outros habitantes do sertão dos Gerais se dedicam à ''carreira solo'' mesmo. É o caso do violeiro que tem nome de artista de programa popular de televisão, mesmo sendo um - perdão - ''autêntico'' morador da distante Serra das Araras. Sislei Cigano deixa claro, com seus 23 anos de idade, que - mil perdões - ''folclore'' é a vovozinha! Não é preciso estar na casa dos ''enta'' (quarenta, cinqüenta, sessenta anos...) para praticar com satisfação as - milhões de pedidos de perdão - ''manifestações autenticamente culturais do povo sertanejo''.
Ocorre que Sislei Cigano é unha e carne com uma viola, que toca quase sem parar e usa também para fazer suas próprias músicas, como ''Amigo Serrano'' ou ''Filho Abandonado'' (Estou vivendo igualzinho um passarinho / Saiu do ninho e nunca mais voltou). Isso quando não está desempenhando sua profissão. Sim, amigo urbano, ainda há gente neste Brasil que tem como ofício ser ''tropeiro''. Que, Sislei faz muita questão de destacar, não é o mesmo que ''boiadeiro''. A distinção: ''Boiadeiro só mexe com boi'', zanga-se o violeiro. Tropeiro, não. Conduz tropa de cavalo, mula.
Pois bem, o tropeiro aprendeu a tocar sozinho, ouvindo as modas no rádio e tentando copiar. ''Aprendi na bruta'', orgulha-se. Isso, diz ele, começou quando tinha oito anos. ''Eu tô ouvindo, então eu vou caçar (as notas) aqui (aponta as cordas da viola).'' Desde então, já ensinou muitos outros, menos inteligentes nos mistérios das cordas.
Outro para quem as cordas não têm mistério algum é seu Justino Rodrigues, 45 anos. Um agricultor pacato, que assim, à primeira vista, parece mais ser do tipo que não quer conversa com viola. Pois dá-se é o contrário. É um violeiro das antigas, companheirão dos novos como Sislei, e para quem a festa de Santo Antônio, todo mês de junho no município de Serra das Araras, deixa na poeira o Encontro da Chapada Gaúcha. ''Aqui é bom, mas em festa lá é mais-mais'', declara, em ''guimarês'' legítimo, pronúncia impecável.

Passeios para espairecer
Vigie: anda sofrendo de ranço de desgosto, duvidação, o irremediável extenso da vida urbana? É capaz de uns passeios por dentro e no entorno do Parque Grande Sertão Veredas lhe proporcionarem um espairecer de contentamento. O que se diz é, em ''guimarês'', se carece de tradução: estressado com o trabalho, o trânsito, os estímulos da cidade grande? Experimente o silêncio e a discrição do cerrado. Pegue o 4X4, estoque água, prepare um lanche e vá passear no parque, com autorização e guia do Ibama. abaixo, três sugestões de lugares a percorrer:
Mirante da Seriema
1 - Logo depois de uma das entradas principais do parque, um terreninho elevado convida. Você desce do carro e sobe a ladeira pisando no cascalho. Nem se dá conta mas, lá em cima, quando vê, o panorama descortina seu palco natural. Imensidão. Cerrado a perder de vista. Uns buritis entrincheirados numa baixada indicam, quase sem querer, que corre um riachinho naquelas dobras da terra. O céu - arre - de dar inveja ao de Brasília. A curva do mundo, aos seus pés. O lugar ainda não existe - quer dizer, com a tal infra-estrutura. Mas, por outra, está lá - o essencial. Chamam de Mirante da Seriema. Quando as bases da visitação estiverem pronta, será assim como um portão principal. Atração primeira. Bem a propósito: veja primeiro o geral dos Gerais. Depois, vêm os menores e os pormenores.
De volta ao carro, mais umas descidas, sempre devagar que é para não atropelar bicho nem estragar a estrada de terra, e o visitante vai caminhar de novo. Trilha pouca. Só o bastante para chegar à cachoeira Mato Grande, acidente do rio do mesmo nome. Eh, banho bom para aplacar a quentura desse sol. Umas tantas quedinhas d'água, uma mais niveladinha, outra de maior arrebentação, no fundo as pedras lisas, lisas - cuidado para não escorregar neste mei'de mundo. Água geladinha, poço, pedras para secar o corpo, uma até lembra um trampolim feito pela natureza. E sombra, dos arvoredos. Não é pouco. Sombra é coisa rara em qualquer passeio pelo parque. Água, já se sabe. Flor também. Mas é assim como se as flores se quisessem valorizar. Quanto menos, mais admiradas. E como são bonitas em sua economia.
Rio preto
2 - Em outro dia - aqui tudo é muito longe e tempo tem outra medida - peça ao guia do Ibama para conhecer o parque por um caminho diverso. O destino é o rio Preto. Uma graça para apimentar as vontades: no Grande sertão, o livro, Riobaldo conta que, de rio Preto, já se molhou nuns três. Será que não é o mesmo? Esse rio atravessa o Grande Sertão, o parque. Mas se apresse. Saia cedo de Chapada Gaúcha - coisa de cinco, seis da manhã - caso queira ver os animais. Vai levar uma hora até o carro vencer os areais e atoleiros da estrada de terra. Se você não está acostumado a guiar o veículo nesses terrenos, pior ainda. Tivemos sorte: vimos seriemas, um porco-do-mato e veados. Outra precaução, uma que pode ser tomada de véspera: vá lá no escritório do Ibama e peça para conversar com o engenheiro agrônomo Fábio Kuick, analista ambiental. O homem sabe tudo sobre cada pedaço do caminho, aponta bicho, dá o nome de pássaro, diz o que é comum e o que é raro.
Em lá chegando, no rio Preto, o que há é ele mesmo - o rio Preto. Queria o quê? Digo assim porque, de primeira impressão, parece pouco. Impressão é parente do vento - passa. E o que fica é o remédio para o estresse moderno. Sente no velho pontilhão de madeira e deixe a correnteza lhe lavar a vista. Para os ouvidos, há o lho-ro-ró das águas. Além das pessoas do seu grupo de visitantes, não haverá mais ninguém por perto para fazer barulho e desviar a atenção da natureza (parques nacionais têm que ser totalmente desocupados, embora no Grande Sertão ainda existam algumas famílias, poucas). Pelo Brasil afora, há lugares onde se vai para ver alguma coisa, onde se vai para comer determinado prato, onde se vai para, como se diz?, agitar...? Pois esse aqui, pontilhão debruçado no rio Preto, é lugar onde se vai para decantar o espírito. Atividade que deve ser exercitada ao som da música do lugar - o canto dos pássaros e a melodia da água corrente.
Acabou não. Depois do repouso na ponte velha, acerte o passo rumo a umas tantas veredas logo acima. Ausências de espetáculo - é tudo mínimo, e no entanto forte. Filinhas de buritis, moitas de buritirana, valezinho. Um lago, logo atrás, de natureza tão plácida que mais parece pintado no paisagem. É um panorama tão quietinho, arvoredo tão tímido, água tão comportada que, no fim, o visitante já vai estar olhando pra dentro dele mesmo. Como num esquecido culto ancestral - procurando em si o elo que o mantinha em sintonia com a vida natural. Metafísicas demais, já basta. Vá, veja e sinta. E para cortar as especulações, o prazer tátil: molhe-se no rio Preto e o corpo está preparado para a volta a Chapada Gaúcha.
Buraquinhos
3 - Terceiro passeio, esse no entorno do parque. Buraquinhos fica logo depois dos Buracos. Os dois são nomes de comunidades do município de Chapada Gaúcha, a uma boa meia hora da sede, mais ou menos. É que, além de pegar a estrada principal, que leva ao município de Serra das Araras, ainda é preciso percorrer uma outra estradinha de acesso, estreita como um beco e arenosa como terreno de praia. Mas, como compensa: o ponto final da jornada é um elevado de onde se contempla um vale imenso, cortado por um riozinho que, lá na frente, vai dar no rio Pardo (dá para ver o curso d'água maior, ao longe, reflexo do sol se espelhando).
Chama-se Buraquinhos, mas quem chega de longe exclama logo ''oh, buracão''. O vale está entre paredões rochosos e visão similar só na Chapada Diamantina. Lá embaixo, uma casinha simples - a escola da comunidade. Para descer, só a pé. Erosões levaram o resto da estrada. Atrativo extra são as araras, que fazem das encostas sua moradia e, manhãzinha ou fim de tarde, saem em bandos. Leve um binóculo e cruze os dedos. Mas, mesmo que elas não saiam - ou voem muito distante -, só a visão do vale inteiro já compõe o passeio.

Para abrir as porteiras
No Dia da Biodiversidade, em maio último, o governo federal deu um presentão para o Parque Grande Sertão Veredas. Um decreto aumentou o tamanho do parque de 84 mil hectares para 231 mil hectares. A área com garantia de preservação ficou quase três vezes maior, para satisfação dos ambientalistas e irritação de muitos fazendeiros baianos, já que a maior parte da ampliação contempla terras no estado da Bahia. ''Eles tiveram que aceitar'', conta Cesar Victor do Espírito Santo, superintendente-executivo da Fundação Pro-Natureza (Funatura), a entidade que defendeu a criação - e depois, a ampliação - da reserva natural.
Para o turista, a boa notícia é de que nas próximas semanas uma equipe de técnicos do Ibama vai percorrer parte do parque para desenvolver um projeto final destinado a abrir o local para visitação regular. Se os prazos previstos forem cumpridos, pode-se estimar que daqui a seis meses o Grande Sertão contará com uma estrutura mínima para receber visitantes - e estará, finalmente, aberto ao público. Atualmente, é preciso pedir autorização ao Ibama para conhecer. E o visitante tem que ter consciência de que quase não há infra-estrutura para recebê-lo além do guia autorizado.
''É importante abrir para visitação. As pessoas precisam conhecer para querer preservar. Se não, fica uma batalha muito nas mãos dos ambientalistas'', anima-se Cecília Ferraz, diretora de Ecossistemas do Ibama. Há dois meses ela visitou o parque, percorrendo os principais pontos onde os visitantes deverão circular quando a estrutura de apoio estiver pronta. Cecília gostou do que viu. ''Em termos de cerrado, é maravilhoso.'' Mas, àquela altura, estava preocupada também em garantir que os pesquisadores do cerrado - público preferencial do parque - sejam ouvidos na hora de definir um formato para o projeto de visitação. Como especificar, por exemplo, qual o diferencial do Grande Sertão em relação a outros parques nacionais.
Cesar tem um palpite: quanto mais for mantida a atmosfera natural do parque, melhor. É dos que rejeitam até mesmo passarelas suspensas - para muitos uma forma de garantir conforto ao visitante sem agredir o solo. Para Cesar, isso acaba comprometendo a visão do cerrado como ele é. ''O melhor é o natural, sem calçadinha'', defende.
E pode estar certo, caso se leve em conta a impressão que o parque tem deixado nas pessoas que o visitaram até agora. ''Elas saem daqui com a expectativa superada. Vêem um tipo de beleza que não encontram em outros lugares'', conta Kolbe Soares, engenheiro florestal que chefia o parque. Ele garante que o desconforto não tem sido obstáculo para esses visitantes pioneiros. ''Muitos chegam em busca de um turismo mais selvagem.''
Se for alguém cujo trabalho ou estudo tem a ver diretamente com a natureza, melhor ainda. Basta perguntar a um deles. ''Isso aqui para o pesquisador é um sonho'', elogia o biólogo Marcelo Lima, que trabalha para a Funatura mas visitou o parque pela primeira vez com o mesmo grupo que incluía a diretora do Ibama. ''O parque tem várias fisionomias. Tem uma beleza cênica e um lado educativo. E o cerrado ainda é muito pouco conhecido.''

Programe-se
Como Chegar
Existem três caminhos para ir de carro de Brasília até a área do parque:
1 - Pela saída Sul, tome a BR-251 até Unaí (MG). De Unaí, siga até Arinos (MG) por 150Km de asfalto e, de Arinos, percorra 90Km de estrada de terra até Chapada Gaúcha (MG). Ao todo, são 420Km.
2 - Pela saída Norte, tome a BR-020. Passando por Formosa (GO), siga por 18Km na BR-020, entrando na GO-346 para Cabeceiras (GO). De Cabeceiras, siga em direção a Buritis (MG) pela MG-202 até o entrocamento para Arinos, em trecho por estrada de terra de 42Km. Seguir para Arinos, passando por 67Km de via asfaltada. De Arinos, segue-se para Chapada Gaúcha por 90Km de estrada de terra. Ao todo, são cerca de 370Km.
3 - Pela saída Norte: pegar a BR-020 passando por Formosa (GO), seguindo para Alvorada do Norte (GO), num total de 270Km. De Alvorada do Norte, seguir para Formoso (MG), num trajeto de 85Km de estrada de terra. De Formoso, segue-se até Chapada Gaúcha, num trajeto de 120Km, também por estrada de terra. Neste trajeto, passa-se ao lado de uma das entradas do parque (região sul). Ao todo, são cerca de 475Km.
Como Visitar
O parque ainda não está aberto à visitação regular. Mas isso não significa que a entrada seja terminantemente proibida. É preciso apenas pedir a autorização do Ibama, que tem escritório no município de Chapada Gaúcha. O endereço é rua Guimarães Rosa, 149. Fone/fax: (38) 3634-1132. Normalmente, os grupos interessados em visitar o parque são compostos por ecologistas ou pessoas que estudam a obra de Guimarães Rosa. E o Ibama costuma autorizar a entrada de pequenos grupos sem fazer maiores exigências.
Quando ir
Aproveite este mês, porque a partir de agosto o clima mais seco torna mais incômodas as caminhadas por trilhas de terreno arenoso - situação que continua durante setembro. Nos outros meses, o retorno da umidade propicia os passeios nos campos abertos. É um passeio recomendado para quem tem carro com tração nas quatro rodas e gosta de explorar paisagens mais rústicas.
Onde ficar
Não espere nada muito confortável. Apenas a estrutura mínima para o descanso entre os passeios:
Pousada JF- Avenida Getúlio Vargas, 430. Fone: (38) 3634-1141. Diária: R$ 15,00. Duas pessoas no mesmo apartamento pagam taxa única de R$ 25,00.
Pousada Veredas - Avenida Getúlio Vargas, s/n. Fone: (38) 3634-1111.
O que usar
Para explorar os caminhos do parque, é indispensável um bom calçado de caminhada, já que o terreno muitas vezes é acidentado. Para não sofrer com os insetos, camisas de mangas compridas e calças jeans ajudam. Mas os tecidos devem ser leves, já que as caminhadas são feitas sob sol forte e quase não há sombra na área do parque. Repelentes de insetos são uma boa idéia.
De ônibus
A empresa de ônibus Santo Antônio faz o percurso Brasília-Chapada Gaúcha. A passagem custa R$ 37,20. As saídas são diárias, às 7h15 e 20h45.
Onde comer
O restaurante JF fica ao lado da pousada de mesmo nome. Parece mais um bar de beira de estrada, mesmo ficando na principal avenida da cidade. Mas a comida mineira, cobrada pelo peso, é honesta e saborosa.

Parque Nacional Grande Sertão Veredas
1 - Cachoeira Mato Grande
Tem grande volume de água, cascatas mais leves e outras com maior desnível, fundo de pedras lisas e pode ser alcançada por uma trilha de dois quilômetros.
2 - Corredeiras do Onça
Local agradável para banho, descanso e piquenique. Do córrego Onça, é possível seguir por uma trilha com cerca de 800m, beirando as veredas e uma mata ciliar.
3 - Mirante Seriema
A visita pode ser feita no caminho de ida ou volta da cachoeira Mato Grande e proporciona uma bela vista do parque
4 - Morro Três Irmãos
Tem altitude de 830m, permitindo uma visão ampla de toda a região. No caminho, cruza-se as belíssimas veredas Três Irmãos
5 - Chapada Gaucha
O município mais próximo das entradas principais do parque foi emancipado em 1996 mas ainda conserva um clima de agrovila. Habitada por nativos mineiros e migrantes gaúchos, é um centro de produção de soja. Um bom lugar para mostrar às crianças como é a vida no Brasil rural, embora a estrutura de hospedagem seja precária.
6 - Veredão
Conjunto de veredas próximas à casa que funciona como ponto de apoio para pesquisadores, construída e mantida pela Funatura dentro do parque. Com buritis e buriranas, dá ao visitante uma idéia do que são as veredas e tem a vantagem de ficar mais próxima das entradas do parque.
7 - Rio Preto
Citado várias vezes por Riobaldo na saga do Grande sertão: veredas. O personagem diz que, de rio Preto, já atravessou uns três. Para quem visita o parque, a impresssão é de que os três rios citados são um só - já que o Preto atravessa grande parte da reserva natural.



Leia antes de ir
Para aproveitar melhor as caminhadas dentro do Parque Nacional Grande Sertão Veredas, é mais do que válido enveredar um pouco mais pelas leituras relacionadas à reserva e ao escritor cuja obra acabou por batizar o local. A seguir, sugestões de livros que servem como inspiração ou guia para essa excursão ecocultural:

Grande Sertão: Veredas
(Guimarães Rosa)
Ao escrever o longo monólogo do ex-jagunço Riobaldo, Guimarães Rosa reinventou uma língua e elevou os sentimentos dos homens do Brasil profundo à categoria de literatura universal. O romance se tornaria um clássico mundial - foi eleito um dos cem livros mais importantes de todos os tempos pelo Círculo do Livro da Noruega. Riobaldo narra suas aventuras e desventuras pelos sertões dos Campos Gerais, entre guerras de jagunços e a atração pelo esquivo companheiro Diadorim. Se não encontrar nas livrarias, faça uma busca na seção Catálogo do site da editora Nova Fronteira (www.novafronteira.com.br). O livro custa R$ 59.


Diário do Grande Sertão

(Bruna Lombardi)

Nos anos 80, a Rede Globo aceitou o desafio de transpor para a tela da tevê, em formato de minissérie, a narrativa épica do livro Grande Sertão: Veredas. Coube a Walter Avancini a tarefa de realizar a minissérie - uma empreitada que envolveu 300 profissionais e cerca de 2 mil figurantes gravando em pleno cerrado. Durante as gravações, a atriz Bruna Lombardi, que interpretava Diadorim, manteve um diário sobre as dificuldades enfrentadas, o dia-a-dia da produção e a própria obra de Guimarães Rosa. O diário virou livro, publicado logo após a exibição da minissérie que, infelizmente, nunca foi lançada em VHS ou DVD. O livro pode ser encontrado em sebos. Na internet há um sebo virtual, de Porto Alegre, que informa dispor do livrinho de 80 páginas, que vende a R$ 8. O endereço do site: www.traca.com.br

Fronteiras, Margens, Passagens
(Marli Fantini)

Desde que Grande sertão: veredas foi publicado, uma sucessão de estudos literários passou ser feita em torno dos textos de Guimarães Rosa, com o objetivo de esquadrinhar a riqueza da prosa do escritor mineiro. São ensaios, artigos em revistas especializadas e teses universitárias que viraram livros. Uma das mais recentes é este trabalho de Marli Fantini. O estudo teve uma boa recepção da crítica especializada, sendo comparado às leituras de Guimarães feitas por outros intelectuais que precederam Marli, como Antonio Candido, Augusto de Campos e Walnice Galvão. À venda no site www.submarino.com.br por R$ 34,90.

Guia Philips de Parques Nacionais
Esta publicação apresenta as principais atrações dos 52 parques do Brasil e entorno, incluindo aqueles criados mais recentemente, até 2002. Traz mapas detalhados, roteiros, informações sobre fauna e flora e cultura regional, além de dicas de hospedagem. O volume dedica quatro páginas ao Parque Grande Sertão Veredas. E pode ser adquirido pela internet, no site www.horizontegeografico.com.br a R$ 49, edição em português ou inglês.

Ao todo, o cerrado
...tem mais de 10 mil espécies de plantas, 837 de aves, 67 gêneros de mamíferos e 150 espécies de anfíbios. Por isso é considerado uma das áreas de maior biodiversidade - e também das mais ameaçadas - do planeta. Esse ecossistema ocupa quase 25% do território brasileiro - ou 200 milhões de hectares

Com a ampliação
...foi anexado ao parque Grande Sertão Veredas uma área de 150 mil hectares, situada no município de Cocos (BA), no extremo sul do cerrado baiano. Ambientalistas já haviam constatado na área a presença de 244 espécies de aves, 62 de peixes, 56 de mamíferos, 31 répteis e 22 anfíbios.

As veredas
...são formações típicas do Brasil central, onde se destaca a palmeira buriti (Mauritia vinifera), em terreno encharcado, sobre grandes tapetes graminosos. A existência delas é vital para a sobrevivência dos psitacídeos - aves da família das araras, papagaios e periquitos - por serem fontes de alimentos, abrigo e local de reprodução.

Guimarães Rosa
O mineiro de Cordisburgo que escreveu o clássico Grande sertão: veredas, é considerado o nosso Joyce, pelo que seus textos representaram para a estética literária brasileira. Em 1946, ele já surpreendia com os contos reunidos no livro Sagarana (por sinal, o mesmo nome de uma comunidade no entorno do Parque Grande Sertão). Dez anos depois, publicaria o livro em que utilizaria, de forma revolucionária, a linguagem oral do sertanejo para forjar uma prosa cheia de neologismos, termos arcaicos lusitanos, palavras estrangeiras e onomatopaicas, num painel quase metafísico do Brasil profundo. Com o Grande sertão, Guimarães Rosa produziu uma das obras primas do século 20. Uma curiosidade: eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1963, adiou a posse por quatro anos. Conta-se que achava que morreria tão logo tomasse posse. Acabou assumindo em 1967. Três dias depois, morreu.

O que é mesmo...
...um parque nacional? É um dos tipos de áreas naturais protegidas existentes no Brasil. Quando um parque é delimitado oficialmente, ficam protegidos os recursos naturais e também a cultura de uma área - o que significa conservar fauna, flora, fontes de água, sítios históricos e arqueológicos. Tudo isso será explorado apenas por meio de atividades educativas, com a visitação pública e a pesquisa científica. Quem administra os parques nacionais é o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente.

Vá mais longe
A 50Km do Parque Grande Sertão - ou a 30Km de Chapada Gaúcha - fica a Serra das Araras, com escarpas que abrigam araras-vermelhas em paredões e uma festa junina em homenagem a Santo Antônio que atrai 5 mil romeiros. A festa deste ano já passou, mas a natureza bruta é um atrativo permanente. Tanto que a paisagem local virou parque estadual, com preservação garantida.

CB, 07/07/2004, Lugares, p. 1-8
UC:Parque

Unidades de Conservação relacionadas

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