Ibama encontra 83 pistas clandestinas no Pará

O Globo, O País, p. 13 - 01/05/2005
Ibama encontra 83 pistas clandestinas no Pará
Do total, 32 funcionam dentro de unidades de conservação e são usadas por traficantes, garimpeiros, grileiros e madeireiros

Depois de analisar fotografias tiradas por satélites e de sobrevoar por dez dias a região, a equipe da Coordenação Geral de Fiscalização do Ibama, responsável pelo combate ao desmatamento na Amazônia, descobriu 83 pistas de pouso clandestinas na região da Terra do Meio, no Pará, usadas por madeireiros clandestinos, garimpeiros, grileiros e até traficantes.
Além de funcionar sem autorização do Departamento de Aviação Civil (DAC), segundo o Ibama, das 83 pistas, 32 estão dentro de unidades de conservação ambiental. Ou seja, servem de instrumento para o desmatamento levando grileiros, madeireiros, moto-serras e o material usado para retirar madeira para o interior de áreas que deveriam estar sendo preservadas.
São pistas de terra batida de até mil metros. Em alguma, chegam a pousar Hércules, aviões usados no transporte de tropas. Numa das pistas, dentro da Floresta Nacional de Altamira (PA), os fiscais do Ibama fotografaram laboratórios como os usados para refino de cocaína. Ao lado de outra pista, na reserva indígena Kuruáya, funciona um garimpo clandestino de ouro também fotografado pelo Ibama.
— Existem fortes indícios de que, além de contribuírem para o desmatamento ilegal, essas pistas servem de apoio a atividades criminosas, como o narcotráfico — afirma o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Flávio Montiel, responsável pelo levantamento.
Exército e PF devem começar a destruir pistas
O levantamento foi apresentado na última semana ao Grupo de Gestão Integrada, que funciona no Palácio do Planalto desde o assassinato da missionária americana Dorothy Stang para tratar da crise no Pará. Agora, a Polícia Federal e o Comando de Operações Terrestres do Exército devem organizar missões para destruir as pistas. Segundo Montiel, as 32 pistas que estão dentro de unidades de conservação começarão a ser destruídas este mês. As dez primeiras já não devem mais existir em 15 dias.
A descoberta das pistas faz parte das ações adotadas pelo Ibama como parte do plano de prevenção e controle do desmatamento na Amazônia.
As pistas servem principalmente para agilizar o trabalho das madeireiras clandestinas. Perto de uma das pistas, dentro da Estação Ecológica Terra do Meio, o Ibama encontrou uma área de 6,4 mil hectares devastada de uma só vez. Os fiscais descobriram um paiol repleto de sementes de capim, prova de que os grileiros pretendiam transformar a área em pasto. Nem a madeira da floresta derrubada chegou a ser retirada das terras.
— Eles queriam criar apenas um fato consumado para atrapalhar a criação da reserva — conta Montiel.
Um dos principais instrumentos para o controle sobre o desmatamento na região, o sistema Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), como o nome diz, permite aos fiscais do Ibama ter informações em tempo real sobre as áreas devastadas e com isso mandar equipes aos lugares em que são constatadas novas frentes de desmatamento.
Ibama usou avião bimotor para fazer fotos
Foram essas imagens de satélite que permitiram que os fiscais do Ibama iniciassem o levantamento das pistas clandestinas. Com base nestes dados, foram feitos sobrevôos e tiradas fotos das pistas com o próprio avião bimotor do Ibama.
O governo pretende aumentar suas ações na região. Coordenadas pelo Ibama, em parceria com a Polícia Federal, o Exército, a Polícia Rodoviária Federal, o Incra e o Ministério do Trabalho, serão realizadas 57 operações entre maio e setembro, meses em que ocorre 80% do desmatamento na região por causa do clima mais seco.
As ações serão concentradas nos estados do Pará, Mato Grosso, Amazonas, Rondônia e Roraima. Serão até sete frentes de trabalho simultâneas com 460 fiscais do Ibama, 180 militares do Exército, 35 policiais federais e outros 35 policiais rodoviários federais. A operação deve custar R$25 milhões e, além do combate ao desmatamento, servirá para enfrentar a grilagem, o trabalho escravo e outros crimes praticados na região.

Guerra às fontes de financiamento
Além de combater as novas frentes de desmatamento, o Ibama tenta acabar com a fonte de financiamento dos grileiros e madeireiros clandestinos. Segundo o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Flávio Montiel, entre fevereiro e abril foram apreendidos na região cem mil metros cúbicos de madeira, o equivalente a 2.100 carretas carregadas, nos pátios de madeireiras ilegais. Cerca de 70% no Pará e outros 30% em Rondônia. Foram identificadas e fechadas 57 madeireiras ilegais.
— Devemos chegar a 200 mil metros cúbicos até o fim do ano. Essa madeira seria vendida e geraria parte do capital a ser investido no desmatamento em 2005. Significa um baque razoável na indústria que atua na região — afirma Montiel.
A apreensão de madeira retirada ilegalmente nesses três meses foi maior do que os 70 mil metros cúbicos recolhidos em 2003 e os 83 mil metros cúbicos apreendidos ao longo de 2004.
O objetivo da operação é reduzir a taxa de desmatamento na Amazônia que, em 2003, foi de 23.750 quilômetros quadrados. Desde que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) começou a fazer o monitoramento, em 1989, foram desmatados 635 mil quilômetros quadrados, que equivalem a 16% da Amazônia.
O plano de prevenção e controle do desmatamento foi lançado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em março de 2004, mas a atuação do Ibama na região só começou a ser mais intensa em julho, quando, segundo Montiel, chegaram mais recursos para a fiscalização.
O plano já previa a criação de novas unidades de conservação num total de oito milhões de hectares na região. Apenas na Estação Ecológica da Terra do Meio são 3,4 milhões de hectares e, no Parque Nacional da Serra do Pardo, outros 345 mil hectares.

O Globo, 01/05/2005, O País, p. 13
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