Ilha Grande cobrará taxa de entrada

OESP, Vida, p. A18 - 16/03/2006
Ilha Grande cobrará taxa de entrada
Para evitar degradação do local, prefeitura de Angra dos Reis também vai instituir controle de número de turistas

Karine Rodrigues

A ilha, já diz o nome, é grande: são quase 200 quilômetros quadrados de área, recoberta por mata atlântica, com 106 praias, rios, lagoas, cachoeiras e montanhas. Mas, diante da degradação crescente, reflexo da ocupação desordenada, o paraíso mais cobiçado da Costa Verde fluminense vai ter limites. Já no próximo verão, segundo estimativas da prefeitura de Angra dos Reis, a entrada vai ser restrita, para impedir um fluxo maior do que a capacidade da infra-estrutura local. Além disso, ao desembarcarem, os turistas terão de desembolsar uma taxa de preservação ambiental.
Se fosse definido hoje, o valor da tarifa não ultrapassaria os R$ 5, afirma o presidente da Fundação de Turismo de Angra dos Reis (Turisangra), Manoel Francisco de Oliveira, para deixar claro que não há qualquer intenção em transformar Ilha Grande num reduto do turismo de elite. "A gente não corre esse risco. Não vamos limitar nenhum tipo de classe social. Nem pela tarifa", diz, ressaltando que os moradores são favoráveis à cobrança e afirmaram, em reunião recente, que o valor do tributo poderia ser ainda maior.
A definição da taxa depende de um estudo que vai indicar a quantidade de visitantes que a ilha tem condições de receber, respeitando os limites de preservação da fauna e da flora, o sistema de esgotamento sanitário, abastecimento de água e hospedagem. A proximidade de Angra, porém,deve dificultar, a restrição na entrada. "Ao contrário de Fernando de Noronha, onde já há cobrança da taxa, Ilha Grande não está longe da costa. Basta alugar um barco. Vai ser um trabalho árduo", admite João Eustáquio Xavier, diretor de Planejamento Ambiental da Feema, acrescentando que as ações serão realizadas com o apoio da Capitania dos Portos.
Já se sabe que será dada prioridade aos turistas que vão se hospedar, deixando em segundo plano os visitantes que passam apenas o dia, chamados de day users. "Temos de manter o desenvolvimento sustentável da ilha, que vive do turismo. Uma cota terá de ser reservada para garantir a ocupação dos leitos", diz Oliveira. Segundo ele, a idéia é permitir que as pessoas possam usufruir do local sem os transtornos que costumam se repetir, principalmente, durante os grandes feriados. "Ninguém consegue ser bem atendido. A cerveja fica quente, o hambúrguer, malpassado... Há uma sobrecarga. Nenhum sistema agüenta."
Prefeito de Angra dos Reis, Fernando Jordão diz que a cobrança da taxa e o limite de acesso são medidas de uma política iniciada no carnaval. Levantamento do município revela que 64% da ocupação é ilegal (792 das 1.225 residências). "Não vamos apenas coibir a superlotação, o camping ilegal, mas também a ocupação desordenada. Vamos ser extremamente rigorosos com relação às casas situadas nas encostas, em locais irregulares", garante, afirmando que a maior parte dos problemas não é causada pelos 7.500 ilhéus, mas por quem tem casa de veraneio.
Para organizar a ocupação ilegal, a prefeitura vai construir um cinturão verde, plantando árvores nas encostas. "Até julho, ela deve estar pronta em, pelo menos, três praias". Além disso, está sendo concluído, segundo Jordão, um termo de referência, uma espécie de fotografia de toda a situação da água e do saneamento, não só de Ilha Grande, mas de todo o município. "Vamos tentar captar dinheiro com o governo federal, estadual e com o Banco Mundial para desenvolvermos diversos projetos", diz.
Quem for visitar Ilha Grande, aconselha o prefeito, deve, antes, consultar o site www.angra.rj.gov.br, mandar um e-mail para turisangra@angra.rj.gov.br ou ligar para (0xx24) 3367-7826, 3367-7855 ou 3367-7718. Isso serve para evitar que se pague por pacotes que incluem hospedagem em locais irregulares. "Pessoas inescrupulosas vendem hospedagem em camping ilegal, onde não há banheiros, onde o turista não tem onde jogar o lixo. Isso tudo agride o meio ambiente."
Além das reservas biológicas, Ilha Grande abrigou um presídio construído no início do século passado, desativado em 1994, onde estiveram presos inimigos políticos do governo, como Graciliano Ramos e o deputado federal Fernando Gabeira. Foi lá que, na década de 1970, surgiu a facção criminosa Comando Vermelho.

OESP, 16/03/2006, Vida, p. A18
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