Ilha Grande: Turismo popular causa protestos

O Globo, Rio, p., 32 - 14/11/2004
Ilha Grande: turismo popular causa protestos
Ambientalistas criticam projeto que permitirá que moradores da região possam alugar cômodos para visitantes

Um projeto financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está dividindo os defensores do maior patrimônio ambiental da Costa Verde: a Ilha Grande. O Programa de Promoção do Turismo Inclusivo da Ilha Grande (PPTI) foi apresentado na semana passada, a 120 representantes comunitários no Centro Cultural da Ilha Grande e está gerando protestos de hoteleiros, ambientalistas e da prefeitura de Angra dos Reis. Eles argumentam que o programa vai provocar uma invasão de turistas de baixa renda, que vão degradar o meio ambiente e levar à falência hotéis e pousadas.
Campings com chuveiros e restaurantes populares
O projeto, financiado com R$440 mil liberados pelo BNDES, cria o sistema Cama e Café, pelo qual moradores poderão alugar cômodos para turistas. Cria também campings com chuveiros e restaurantes populares em algumas praias, como Lopes Mendes, Palmas e Provetá, para serem explorados pelos moradores, com pratos a R$4. Os estudos foram feitos por técnicos contratados pela Coppe/UFRJ, em parceria com o Comitê de Defesa da Ilha Grande (Codig). O projeto prevê obras de saneamento e desenvolvimento da infra-estrutura para o turismo.
— Este programa está na contramão de tudo que queremos para a Ilha Grande. É um turismo predador, principalmente porque libera a montagem de campings populares. Vai trazer um turismo que não distribui renda para um paraíso ecológico, que já enfrenta problemas de superlotação na alta temporada — protesta o secretário de Desenvolvimento Econômico de Angra dos Reis, Manoel Francisco de Oliveira, acrescentando que a prefeitura apóia os projetos voltados para melhorar a infra-estrutura da Ilha Grande.
Técnicos do BNDES alegam que as pessoas contrárias ao programa estão mal informadas, pois o sistema Cama e Café já existe em parte da ilha. A meta é organizar o aluguel informal. Acrescentaram que os campings serão administrados pelos parques e que haverá estudos para evitar superlotação.

Região é tão bela quanto Noronha, diz secretário
Presidente do BNDES se encontrou com o prefeito de Angra
Nenhum lugar é bom para se visitar se não for bom para viver. O BNDES pretende investir na qualidade do turismo na Ilha Grande. O objetivo é melhorar o saneamento e a conscientização para o cuidado com o patrimônio, que é de todos. Cada um de nós precisa se ver como um amigo da Ilha Grande”. A declaração foi do presidente do BNDES, Carlos Lessa, durante encontro com o prefeito de Angra dos Reis, Fernando Jordão.
O secretário de Turismo de Angra, Paulo Araújo, é contra o projeto. Segundo ele, a Ilha Grande é um lugar paradisíaco que, como Fernando de Noronha, precisa ter uma ocupação controlada e turismo de alto nível para desenvolver a economia local.
— O programa, com pacotes de R$10 e campings liberados, vai desvalorizar a Ilha Grande — disse Paulo.
O presidente do Codig, Alexandre de Oliveira e Silva, defende o programa, sob o argumento de que o BNDES não colocaria dinheiro num projeto predatório. Ele lamentou os preconceitos e disse que o turismo inclusivo na ilha está sendo estudado por 50 especialistas, com o objetivo de atender a todo tipo de público. Alexandre afirmou que os serviços propostos não vão prejudicar a economia local.
— O programa vai ordenar a economia e diminuir o grave problema da sazonalidade (turistas que aparecem apenas na alta temporada). O sistema Cama e Café, por exemplo, não será adotado na Vila do Abrahão (principal povoado da ilha), mas em lugares onde não existam meios de hospedagem. O programa é democrático, para nativos e turistas — afirmou.
Ilha Grande recebe 120 mil turistas na alta temporada
Um dos membros do Codig, Nélson Palma, que edita o único jornal da Ilha Grande, é contra a parte social do programa. Ele acha que os campings serão um desastre ambiental e que o sistema Cama e Café arruinará os hotéis e pousadas. Para Nélson, o turismo inclusivo funciona em Santa Teresa, no Rio, mas não é adequado à Ilha Grande:
O programa vai quebrar a economia local, porque a clientela que será atendida não tem condições de pagar nada. Estou atordoado.
A ambientalista Luiza Silva, que acompanha os estudos, negou que o programa vá pôr em risco o meio ambiente. Os evangélicos que moram na Praia de Provetá, por exemplo, querem atuar no turismo devido à crise na pesca. Luíza disse que, ao longo dos anos, as comunidades mais pobres foram alijadas dos terrenos à beira-mar.
Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico de Angra, a Ilha Grande recebe 120 mil turistas na alta temporada, número excessivo para a região. Ele lembrou que no verão passado foram desmontadas 120 barracas de camping na Praia de Parnaioca.

O Globo, 14/11/2004, Rio, p. 32
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