Incêndios em unidades de conservação já consumiram área equivalente a Brasília

O Globo - http://oglobo.globo.com - 31/08/2010
Uma estimativa do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) mostra um saldo desolador deixado pelas queimadas este ano em áreas de conservação no país. De acordo com o coordenador de proteção e fiscalização do ICMBio, Paulo Carneiro, os incêndios já consumiram cerca de 500 mil hectares. É como se uma área equivalente a Brasília, que tem 580 mil metros quadrados, tivesse ardido. E o quadro é preocupante já que a seca deve continuar por mais 30 ou 40 dias e novos focos de fogo devem surgir.

- Uma área muito significativa de áreas conservadas foi queimada este ano. Fizemos essa estimativa usando uma imagem de satélite que não tem muita definição. O quadro pode ser pior. E não sabemos quanto queimou em áreas que não são de conservação - diz Paulo Carneiro.

O foco de preocupação da brigada de 1.100 homens do ICMBio, além de bombeiros e agentes do Ibama, que lutam para conter o fogo está em quatro dessas áreas: Parque Nacional do Araguaia (Tocantins); Parque Nacional das Nascentes do Parnaíba (entre os estados de Tocantins, Piauí, Maranhão e Bahia); Parque Nacional das Emas (Goiás) e Estação Ecológica Serra Geral (Tocantins).

No Parque das Emas, o fogo destruiu 80% da área de 133 mil hectares. O fogo já foi extinto, diz Paulo Carneiro, mas o que mais preocupa agora é a ação de caçadores. Sem a vegetação para se abrigar, caititus e veados ficam à mercê dos predadores humanos.

- No último fim de semana, achamos dois acampamentos de caçadores. Um homem foi preso após encontrarmos um freezer cheio de carne de veados e caititus - diz Carneiro.

Combate a incêndio na Ilha do Bananal - Reprodução de imagem TV Globo No Parque do Araguaia, na Ilha do Bananal,130 pessoas entre homens do ICMBio, Ibama, bombeiros e Exército trabalham para extinguir as chamas. O fogo está quase controlado, diz Paulo Carneiro, e a situação é melhor do que há duas semanas. O Parque fica no norte da ilha e na porção sul há aldeias indígenas, que também foram seriamente atingidas pelas chamas. Na Estação Ecológica Serra Geral, o incêndio já foi controlado e no Parque Nacional das Nascentes ainda há focos, mas que estão restritos a uma área de vale, que é de difícil acesso. Há 40 pessoas combatendo o incêndio nessa área.

- Isso sem falar na Serra da Canastra, em Minas Gerais, que também voltou a queimar - afirma Carneiro.

Nessas áreas, o fogo destruiu áreas de vegetação de cerrado e ameaça a vida de caititus, tamanduás bandeira e veados, que viram presa fácil de caçadores. Os bichos que não conseguiram fugir, foram mortos pelo fogo. Paulo Carneiro explica que o número de brigadistas contratados pelo ICMBio vai crescer para 1.600. Eles contam com a ajuda dos bombeiros, agentes do Ibama e até indígenas no trabalho de debelar as chamas. Dez aeronaves - oito aeronaves e dois helicópteros - ajudam a jogar água sobre os focos de incêndio.

- A estrutura para combater os incêndios foi crescendo à medida que o problema se agravou - diz o coordenador.

O fogo nas áreas de conservação preocupa por várias razões. Nesse leque que está sendo devorado pelo fogo estão parques nacionais, estações ecológicas, florestas nacionais, reservas extrativistas, áreas de proteção ambiental, reservas de desenvolvimento sustentável, além de áreas de relevante interesse ecológico.

- Nessas áreas há atividades de turismo, extrativismo. Em algumas unidades, há somente pesquisa, reserva de fauna - explica o coordenador.

Paulo Carneiro explica que os focos de incêndio tem origem na ação humana. É gente que ateia fogo para limpar o mato do terreno ou para renovar pastagens e perde o controle.

- São diferentes objetivos: renovar pastagens, manejo, limpeza do mato. Mas o resultado é o mesmo, destruição - diz Carneiro.

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