Invasões ameaçam o Parque de Jurubatiba

O Globo, Rio, p. 22 - 22/11/2005
Invasões ameaçam o Parque de Jurubatiba

Paulo Roberto Araújo

O pulmão verde da terra do petróleo está ameaçado pelas invasões. Criado pelo Ibama em 1998, o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, no Norte Fluminense, está convivendo com construções irregulares, desmatamento e com a ação de caçadores e invasores que deixam lixo e danificam a vegetação do parque conhecido internacionalmente por ser o único de restinga do mundo. Os problemas e propostas de uso sustentável do parque, que até hoje não tem plano de manejo, serão discutidos num seminário na sexta-feira em Quissamã.
Abertura de canalesvazia lagoa
Na madrugada do dia 11 passado, moradores da comunidade de Lagomar, na divisa de Macaé e Carapebus, abriram por conta própria a barra de areia da Lagoa de Cabiúnas ou Jurubatiba, alegando que casas estavam sendo inundadas. A profundidade da lagoa diminuiu em mais de três metros, formando pequenas ilhas e deixando exposta a vegetação aquática. A natureza vai demorar pelo menos seis anos para recuperar o dano ambiental. O professor da UFRJ Francisco Esteves, diretor do Núcleo de Pesquisas Ecológicas de Macaé (Nupem), lamentou a falta de fiscalização:
- A ação dos moradores foi uma catástrofe para o meio ambiente e para as pesquisas que desenvolvemos nas lagoas. Ali é o único local no mundo onde ocorrem espécies raras, como o crustáceo Diaptomus azureus (pulga d'água) - explicou o professor.
Com 14 mil hectares e 18 lagoas preservadas onde existem 70 espécies de peixes, o Parque de Jurubatiba, a 240 quilômetros do Rio, ocupa uma faixa de 44 quilômetros ao longo do litoral de Macaé, Carapebus e Quissamã. Estudada por cientistas de todo o mundo, a área é um dos trechos do litoral brasileiro de maior diversidade de recursos naturais.
Com flora rica, que inclui um grande número de plantas medicinais endêmicas (que só ocorrem ali), a área de preservação permanente tem animais em risco de extinção, como o jacaré-de-papo-amarelo, e outras espécies, como tatus, tamanduás, lontras, jaguatiricas, capivaras e papagaios. A restinga foi reconhecida em 1992, pela Unesco, como reserva da biosfera, num estudo que teve a chancela de 196 cientistas.
Sem o plano de manejo (que controla o acesso e define o que pode e o que não pode ser feito na reserva), o parque nacional está sendo invadido por visitantes que deixam lixo por todo o lado, danificam a vegetação com Bugres, caçam os animais e roubam plantas usadas em paisagismo. Há construções irregulares em vários pontos do parque e não há fiscalização ambiental nas obras que a Petrobras está fazendo no parque para instalação de dutos que vão transportar gás natural para o Rio.
O secretário de Desenvolvimento Econômico de Quissamã, Haroldo Cunha Carneiro da Silva, disse que os municípios querem explorar o ecoturismo no local para gerar renda e ao mesmo tempo garantir a preservação do parque. Ele lembra da experiência de Bonito, em Mato Grosso do Sul, onde os próprios guias de turismo exercem o papel de fiscais do parque.
- Jurubatiba é uma mina de ouro trancada pelo Ibama. Assim que sair o plano de manejo, o turismo poderá financiar a preservação ambiental - disse o secretário.
Ibama anuncia verba para plano de manejo
O novo gerente do Ibama no Rio, Rogério Rocco, anunciou que vai participar do seminário e levar uma boa notícia para os prefeitos, secretários de Turismo e ambientalistas. Segundo ele, graças a uma compensação ambiental no valor de R$ 415 mil, o plano de manejo do Parque de Jurubatiba já está sendo preparado por técnicos contratados pelo Ibama. Os recursos são da Hidrelétrica Eletroriver (R$ 300 mil) e da Petrobras (R$ 115 mil), que está instalando o gasoduto Osduc em trechos do parque:
- Esperamos concluir o plano de manejo do parque até meados do ano que vem. Até lá, vamos reforçar o esquema de fiscalização para proteger o parque.

O Globo, 22/11/2005, Rio, p. 22
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