Lixo e esgoto no pulmão da Guanabara

O Globo, Rio, p. 18 - 14/08/2011
Lixo e esgoto no pulmão da Guanabara

APA de Guapimirim sofre com o despejo irregular, mas biólogo diz que recuperação de mangue é rápida

Cláudio Motta
claudio.motta@oglobo.com.br

A área mais preservada de manguezal da Baía de Guanabara, a APA de Guapimirim - região do fundo da baía que tem 14 mil hectares, sendo que sete mil com bosques de mangue -, também sofre com o lixo e o esgoto. Os rios carregam a sujeira, que prejudica o ecossistema local. Em outros trechos da Baía de Guanabara, nos quais a vegetação já foi totalmente suprimida ou está degradada, a situação consegue ser ainda mais crítica. Mas os bons resultados de pelo menos cinco projetos de recuperação de manguezal desafiam tanta poluição. Somente as áreas replantadas no Canal do Cunha recriaram 170 mil metros quadrados de manguezais. O GLOBO percorreu toda a orla da Baía de Guanabara na última segunda-feira, acompanhando sobrevôo do projeto Olho Verde, do biólogo Mário Moscatelli, que mapeou o mangue.
- É possível recuperar o manguezal da Baía de Guanabara. Plantando hoje, teremos um bosque com mais de quatro metros de altura daqui a cinco ou seis anos. A rapidez da revegetação ocorre por causa da grande resistência do manguezal - diz Moscatelli, que precisa colocar cercas nas áreas em que faz replantio de mangue para proteger as plantas da enorme quantidade de lixo levada pela maré, que não apenas derruba árvores como impermeabiliza o solo, impedindo a fixação das plantas.
Ocupação desordenada
Para recuperar o manguezal é necessário parar de sujar a baía. Além do lixo, o esgoto - são cerca de nove mil litros por segundo sem qualquer tratamento, de acordo com estimativa da Secretaria estadual do Ambiente - e a ocupação desordenada do solo são fatores de grande degradação da vegetação.
Mesmo na APA de Guapimirim está sendo necessário realizar o replantio de 30 hectares de mangue. O chefe da unidade, o biólogo Breno Herrera, explica que o manguezal é fundamental para a vida na Baía de Guanabara. Além de funcionar como uma estação de tratamento de esgoto natural, dá o suporte à cadeia biológica de vários peixes.
Mais da metade das espécies comercializadas na baía usam os manguezais como área de reprodução. Além disso, a vegetação atua como reguladora climática, hídrica e protetora da linha de costa (limite entre a água e a parte terrestre). Ainda abriga várias espécies de aves.
- Nos preocupa o fato da ocupação das margens do Rio Guaxindiba não ser a mais adequada. É imprescindível que os órgãos de saneamento se preocupem com o esgoto nas Áreas de Preservação Permanente. Recebemos toda a carga orgânica e industrial de São Gonçalo, onde o controle ambiental está muito abaixo do ideal - afirma Herrera.
Em resposta, o secretário do Ambiente, Carlos Minc, enumera projetos de saneamento, construção de aterros sanitários ambientalmente corretos e remediação dos antigos lixões, além de programas de replantio de manguezal, para sustentar a tese de que a recuperação está maior do que a degradação. De acordo com ele, para licenciar o Comperj, a Petrobras terá que comprar um terreno maior do que a própria refinaria para evitar a favelização e corte de mangue perto da APA de Guapimirim.
Além disso, diz Minc, a empresa terá que plantar quatro milhões de árvores, sendo um milhão de mudas de mangue. Minc diz ter aprovado o aterro sanitário de Itaboraí, e o de São Gonçalo já começou a ser construído. A remediação do lixão do Itaoca terminará ainda em 2011.
- Todos sabemos dos esgotos na Baía de Guanabara, não precisa ser grande especialista. Nossa meta é passar o tratamento de 30% para 60% em quatro anos. A novidade é que agora temos menos lixo, menos esgoto, mais mangue - afirma Minc.
A Baía de Guanabara já recebeu grandes investimentos, que não resultaram em melhorias ambientais. Gelson Serva, da Unidade Gestora de Projetos da Secretaria do Ambiente, diz que o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara já consumiu US$ 760 milhões, além de cem milhões de dólares do Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano (Fecam):
- Até as Olimpíadas teremos um grande conjunto de obras de saneamento pronto. Acreditamos que dessa vez vamos conseguir. Passamos por um momento oportuno para o Rio.
Parte significativa do investimento já feito no estado, porém, significou desperdício. As estações de tratamento de esgoto da Pavuna, São Gonçalo e Sarapuí, que foram construídas há mais de dez anos, nunca operaram. A estação de Alegria até 2006 tratava apenas 400 litros de esgoto por segundo em regime primário (retira cerca 40% das impurezas). Agora, tem capacidade para 4.500 litros de esgoto por segundo retirando 98% das impurezas. A previsão é de que chegue em 2014 com 14.000 litros por segundo.
- A Baía de Guanabara terá até 2014, dois anos antes das Olimpíadas, 80% do esgoto coletados e tratados. Daqui a cerca de um mês devemos estar operando a Estação de Tratamento de Esgoto de Sarapuí. Mais oito a dez meses, vamos colocar em operação a estação de São Gonçalo - anuncia o presidente da Cedae Wagner Victer.

O Globo, 14/08/2011, Rio, p. 18
UC:APA

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