Lula volta a cobrar de países ricos ajuda para preservação de florestas

O Globo, O País, p. 3 - 06/06/2009
Lula volta a cobrar de países ricos ajuda para preservação de florestas
Para presidente, conta não pode ficar com nações em desenvolvimento

Biaggio Talento* e João Pedro Pitombo*

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pôs na conta dos países ricos o ônus de poluidores do planeta e criticou os que cobram uma postura mais dura do Brasil contra os devastadores. Ao visitar ontem uma reserva ambiental em Caravelas, no Sul da Bahia, no Dia Mundial do Meio Ambiente, Lula condenou as nações ricas que devastaram suas terras e pregam a adoção de medidas rígidas de preservação por parte dos países em desenvolvimento:
- Discutir a questão climática no mundo hoje é muito importante. Qual é a vantagem do Brasil? Qual é a vantagem da América do Sul? Qual é a vantagem dos países africanos? É que hoje temos o que o mundo rico não tem mais, porque, para que o mundo rico chegasse a ser o que é hoje, com a riqueza que ele tem... parece que são países carecas, não têm mais uma árvore, e são os maiores emissores de gases de efeito estufa.
Para Lula, a conta da preservação ambiental no planeta não pode ficar com os países que lutam para se desenvolver:
- Não podemos aceitar o discurso simplista deles, de que devemos apenas preservar. Enquanto eles produzem carros da melhor qualidade, comem da melhor qualidade, não podem querer que a gente apenas preserve as floresta para eles terem o oxigênio que pensam que a Floresta Amazônica produz. Eles não podem querer que nós apenas preservemos para eles poderem respirar - disse, ao discursar na cerimônia de criação da Reserva de Cassurubá, em Caravelas.
Para o presidente, "é preciso que os países ricos, que já devastaram todas as suas florestas, comecem a pagar para que a gente preserve as nossas". Ele frisou que o governo quer preservar a Amazônia, mas precisa "cuidar das 25 milhões de pessoas que moram lá e querem ter carro, geladeira". E defendeu uma política que compatibilize a defesa do meio ambiente com desenvolvimento. Lula citou as dificuldades para criar a reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.
- Quem brigou conosco? Sete arrozeiros que invadiram as terras dos índios. Aqui, o que estamos fazemos? É preciso informar adequadamente os empresários - disse, observando que, com a criação da Reserva de Cassurubá, será possível preservar os manguezais dos municípios de Caravelas e Nova Viçosa.
O presidente disse que o governo não agirá como um "ecologista radical" ou "fazendeiro radical", e estará "no caminho do meio para que possa harmonizar a convivência". Ele não comentou a pressão para que sejam vetadas partes da medida provisória que legaliza a ocupação de terras na Amazônia, vindas até da bancada do PT no Senado. Disse que vai esperar que o assunto chegue em suas mãos, para então se reunir com os ministros e analisar a questão.
Foram assinados decretos para a criação das reservas extrativistas de Cassurubá, com 100.687 hectares de manguezais, restingas e estuários, de Renascer (PA) e da Prainha do Canto Verde (CE).
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, em seu discurso, mais uma vez alfinetou os ruralistas ao dizer que o grupo político que apoia o presidente "governa para o povo e não para a bancada ruralista":
- Este governo não vai permitir que os ricos tomem conta do Brasil.


Protesto em meio à festa

O presidente Lula presenciou um protesto de cerca de 30 pessoas contra a criação da Reserva do Cassurubá e chamou os manifestantes de desinformados.
Havia cerca de dez faixas com dizeres do tipo "Reserva vai gerar desemprego". Muitas faixas eram assinadas pela Associação dos Municípios do Extremo Sul da Baia, presidida pelo peemedebista Carlos Robson Rodrigues da Silva, prefeito de Nova Viçosa, vizinha a Caravelas. Uma das principais críticas à criação da reserva é sobre a falta de um plano de manejo. O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, afirmou que o plano de manejo, que vai definir o que pode e o que não pode ser feito dentro da reserva, deve ficar pronto num prazo de três a quatro meses.
*Da Agência A Tarde

O Globo, 06/06/2009, O País, p. 3
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